sábado, 5 de junho de 2010

O SOL DA ATENÇÃO

O SOL DA ATENÇÃO
Onze Aspectos De Uma
Aprendizagem De Longo Prazo




Um Estudante de Teosofia
www.teosofiaoriginal.com


1. Sobre a Vontade Interior

É necessário ter força de vontade acumulada, e não “inventada na hora”, para trilhar o Caminho. É recomendável ficar algum tempo a sós todos os dias, em silêncio, com a coluna ereta, pensando estavelmente no que há de mais elevado em nossas vidas.
A força de vontade é uma forma de magnetismo. Ela se acumula de modo quase imperceptível à medida que tentamos repetidamente fazer o melhor. Ela se acumula também à medida que obstáculos e desafios são enfrentados.
Quando alguém pretende estudar teosofia ou trilhar o Caminho, o conjunto do magnetismo da rotina estabelecida necessita ser rompido. Não poderia haver coisa melhor do que isso, para desenvolver a vontade.
Nem sempre é fácil romper a teia de aranha de rotinas interdependentes. No plano físico, no plano emocional, no plano mental, a rotina trata de “defender-se” de todas as formas, diretas e indirectas, francas e sorrateiras, previsíveis e imprevisíveis. Só a Vontade e a Determinação permitem romper, firme e gradualmente, o círculo da imobilidade sutil. Para isso, é útil saber que uma das piores formas de rotina é a busca de novidades.
Quando a vontade interna e correta começa a se impor à lógica cega das circunstâncias oscilantes, então a vida de alguém passa a tomar um rumo próprio, e o tempo, visto como um recurso natural, passa a ser usado com eficiência.
Há, porém, um momento para cada coisa. Há um momento para tentar, e há um momento para conseguir. E quando algo é conseguido, isso apenas leva o caminhante a um novo patamar de tentativas mais avançadas.
A vontade permeia o mundo e sustenta tudo o que há. O caminho da sabedoria consiste em desenvolver a vontade consciente e eficaz, a vontade que é bem usada dá bons frutos. Esta vontade é universal. Ela conhece e obedece a três leis.
1) A primeira delas é a lei do carma.
2) A segunda, a lei da unidade de tudo o que há.
3) A terceira é a lei dos ciclos.
Toda vontade forte conhece e segue estas três leis, que são aspectos da Lei Una e Universal.

2. Como Brilha o Sol da Atenção

O caminho não é linear. Cada caminhante deve combinar da maneira mais correta possível o bom hábito estabelecido com a inovação inesperada; a estabilidade com a transcendência; a firmeza com a flexibilidade.


O que permite ao peregrino combinar inteligentemente fatores tão distintos e tão opostos é a Atenção.


Estar Atento, teosoficamente, não é um verbo transitivo. Não se trata, no plano mais abrangente e universal, de estar atento a isso ou aquilo. Trata-se de Estar Atento como verbo intransitivo. Estar Atento, apenas. Atento ao Todo, atento ao Nada, atento ao Silêncio, e não atento a isso ou aquilo.


A Atenção ultrapassa as circunstâncias. A Atenção produz força de vontade, mas também se pode dizer que a força de vontade produz a Atenção.
Hábito e inovação, estabilidade e transcendência, firmeza e flexibilidade, são aptidões e qualidades que permitem responder aos diferentes desafios da maré sempre oscilante da vida. O dia-a-dia incerto é governado pela Lua.


Mas a Atenção ultrapassa a maré. A Atenção nos permite transcender, não esta ou aquela circunstância agradável ou desagradável, mas todas as oscilações. A Atenção interna é uma função do Sol, o ponto fixo em nosso sistema solar. O eixo da roda da vida.


A luz da compreensão é imparcial. Ela não se altera com os processos cíclicos. Ela não conhece apego nem o seu oposto. A luz do sol, como o Logos, brilha para todos. Ela ilumina e inspira a cada um conforme o seu Carma. Ela é percebida na vida de cada um conforme o seu Dharma - sua vocação, sua natureza essencial.


Como a luz do sol, a atenção correta brilha em todas as direções sem fazer ruído.




3. A Natureza Essencial do Ser Humano

Na vida diária, é frequentemente necessário e adequado controlar pensamentos e emoções nesta ou naquela ocasião particular. Sempre podemos desenvolver uma atitude correta, impedindo a predominância do erro em nossa consciência. A força de vontade permite usar este recurso.

Melhor que isso, porém, é estimular positivamente e no longo prazo a produção de pensamentos e sentimentos corretos.
Para avançar por este caminho, devemos estar em contato com a nossa essência, isto é, nossa natureza essencial. Esta é uma função de Antahkarana, a ponte entre alma mortal e alma imortal. Os aforismos da Raja Ioga de Patañjali [1] ensinam como consegui-lo.


NOTA:
[1] Os Aforismos de Ioga, de Patañjali, têm uma seção temática própria no website www.filosofiaesoterica.com.

4. Os Erros Passam, as Lições Permanecem

Embora os aspectos intelectuais e culturais da caminhada tenham grande importância, alguns estudantes de filosofia esotérica não se contentam com eles.

Tais indivíduos buscam, também, criar em si mesmos a força interna necessária para trilhar por mérito próprio o caminho do autoconhecimento, do auto-respeito e do autocontrole, ou seja, o caminho da teosofia, da jnana ioga e da raja ioga.

É normal que quando o estudante olha as dificuldades diante de si ele se pergunte se será algum dia capaz de vencê-las. Porém, o próprio fato de se fazer esta pergunta mostra que ele já tem em si a semente da vitória. O mistério e a chave da sua capacidade de vencer estão, naturalmente, no prazo. Ninguém trilha o caminho em um final de semana. Tampouco em quinze dias. Trinta ou quarenta anos podem passar sem avanços espetaculares. Qual é o problema com isso? Cada passo dado no Caminho Correto é válido em si mesmo, trazendo um alívio imediato e uma lição de valor permanente. O efeito de cada lição permanece para as vidas futuras.

Todos os erros são provisórios, porque cedo ou tarde terão de ser corrigidos. Mas cada acerto, uma vez que seja sólido, se incorpora para sempre ao acervo permanente da alma imortal.

5. As Três Iogas da Teosofia

Ser um teosofista não é uma realidade vitalícia assegurada. É apenas um direito cármico a ser testado e confirmado a cada dia.

O fato de fazer parte do movimento teosófico nos dá acesso a alguns incentivos e a alguns instrumentos mais eficazes neste esforço que se precisa renovar a todo momento.

O processo vivo de ratificação constante do ato de ser teosofista traz desafios diários, e eles ocorrem frequentemente quando, e onde, menos se espera. Devido à necessidade de vencer testes que são imprevisíveis no tempo e no espaço, a capacidade de viver teosoficamente depende, em grande parte, da combinação eficaz da prática de três iogas.

A primeira delas é a Jnana Ioga - a ioga do estudo, da compreensão e da contemplação das verdades universais. Estas verdades são processos vivos, e entre elas estão a lei do carma, a lei da reencarnação, a lei da analogia, a lei dos ciclos, e a lei da unidade dinâmica de tudo o que existe.

A segunda ioga é a Raja Ioga. Esta é a ioga do autoconhecimento, do autocontrole, da auto-responsabilidade e do autodomínio.

A terceira ioga é a mais externamente dinâmica das três. Trata-se da Carma Ioga, a ioga da ação altruísta, do trabalho solidário, e do esforço - no nosso caso - por construir um movimento teosófico autêntico, capaz de transmitir a mais pessoas a Oportunidade que nos foi dada pelo Carma.

As três iogas são igualmente indispensáveis e alimentam uma à outra. A Contemplação do Universal , o Autocontrole Responsável e a Ação Altruísta são três lados de uma pirâmide essencial. Estas componentes geométricas da alma humana se encontram no alto. A base da pirâmide é a sinceridade consigo mesmo, mas uma boa dose de renúncia às ilusões é também indispensável ao alicerce. Deste modo, o fato de alguém ser ou permanecer teosofista é um processo aberto a erros e acertos e portanto probatório. É algo que está em constante movimento. Não é em momento algum uma certeza fossilizada, mas apenas uma possibilidade, sempre desafiadora e estimulante.


6. Potencialidades Diante de Cada Estudante

Os mesmos obstáculos que paralisam um indivíduo desanimado são fatores estimulantes para aquele que confia em si. As facilidades que permitem a alguém o descanso necessário produzem, em outro indivíduo, os exageros da preguiça, da acomodação e da falta de vigilância.

As críticas podem derrotar o fraco; mas elas fortalecem ainda mais aquele que tem força. Os aplausos podem estimular corretamente uma pessoa, enquanto tiram a clareza mental e o bom senso de outra. Assim, não interessa tanto o material que a vida coloca diante de nós: interessa sobretudo o que fazemos com ele. É preciso saber de que modo vemos, interpretamos e elaboramos aquilo que está ao nosso alcance.


7. Re-examinando os Fatos
O óbvio precisa ser redescoberto a cada passo.
É fácil estar atento em relação a aquilo nós sabemos que não sabemos. Mais difícil é prestar atenção a aquilo que pensamos que sabemos.
A plena atenção é circular. Ela abrange tudo ao nosso redor, incluindo aquilo que parece conhecido e aquilo que parece desconhecido.
Esse detalhe é decisivo por um motivo muito básico. Aquilo que parece desconhecido pode ser adivinhado pela intuição num só instante e quando menos esperamos. Por outro lado, aquilo que parece conhecido pode surpreender e derrubar numa fração de segundo velhas certezas e antigas convicções que pareciam inquestionáveis.
A estabilidade interior - dada pelo contato com nossa própria consciência - permite olhar com Atenção e Desapego o mundo sempre mutável ao nosso redor.

8. O Que é Constante na Vida

O desvio do caminho raramente se apresenta com a aparência de desvio do caminho.

Ele tem o hábito de apresentar-se como o mesmo caminho, apenas mais fácil; como o mesmo caminho, apenas melhor e mais brilhante; o mesmo caminho, apenas mais interessante. Ou ele se apresenta como um pequeno desvio, quando é um desvio profundo; ou como um breve momento de descanso, quando é a porta que leva ao sofrimento e à derrota.

Por isso a perseverança no caminho é obrigada a vestir a aparência externa de coisa desagradável e sem atrativos. A curto e médio prazo, ela parece uma renúncia, e até uma derrota.

Mil vezes aquele que persevera será visto, rotulado e desprezado como um fracassado. Em algumas ocasiões será aplaudido. Mas se quiser vencer ele não poderá alterar o rumo dos seus passos em função de vaias ou elogios.

Por que motivo, então, a vida tem altos e baixos? A resposta é simples. Os altos e baixos da vida existem para que o peregrino aprenda a localizar em seu próprio interior aquilo que não oscila.


9. A Razão é Inseparável da Intuição
O uso das palavras é uma função meditativa e do eu superior. É no silêncio mental que percebemos a maneira correta de usá-las.
Razão não é sinônimo de raciocínio. A Razão transcende o pensamento, e por isso o usa como instrumento da sua expressão. Razão é proporção, é equilíbrio, é relação harmônica entre as partes. É uma função geométrica, matemática e pitagórica de perfeição do todo. Ela é anterior, simultânea e posterior ao pensamento.
A palavra “Intelecto”, originalmente, também se refere ao eu superior. Razão e Intelecto distinguem a humanidade e são a Chama Divina que, vinda do alto, resgatou nossa evolução. É nosso dever reconhecer a chama da consciência como sagrada e admitir que nossa mente é um Templo, devendo ser tratada como tal.
O pensamento lúcido não é distorcido por emoções animais de medo ou ambição. Tiradas as nuvens do eu inferior, o pensamento brilha como um raio de sol no céu da mente. A limitação não está no pensamento, mas nas nuvens.
A verdadeira intuição transcende a premonição da alma animal e está ligada à Razão e ao Pensamento, porque vem do eu superior. Antes que uma decisão sábia possa ser tomada, a percepção intuitiva deve ser testada no plano racional. O relâmpago da intuição deve esperar, sempre que possível, pelo exame crítico do pensamento. E a intuição não deve ser buscada. Deve surgir de dentro para fora, naturalmente. Não pode ser vista de modo algum como meta em si mesma, se alguém quiser ter contato real com a verdadeira teosofia.
A filosofia esotérica se refere toda ela à universalização da visão da vida, e à transferência do foco da consciência média do indivíduo para buddhi-manas, a mente que pensa e percebe nas camadas superiores do plano mental; a mente que pensa pensamentos imortais.
Os pensamentos teosóficos são imperecíveis. O estudo da lei do carma, da lei da analogia, da reencarnação, da unidade de todos os seres, era algo perfeitamente válido há um milhão de anos e estará atualíssimo nos próximos 200 mil anos. Assim, ao estudar teosofia, estamos não só melhorando a qualidade da encarnação atual, mas também adiantando tarefas das próximas etapas da nossa evolução.
Este plano mental transcende a morte e flutua acima dos ciclos físicos. Nele ocorre, sem que a busquemos, a verdadeira intuição.

10. O Som dos Pensamentos
Os Upanixades são o ponto culminante dos Vedas hindus, e dão uma importância extraordinária aos mantras.

De fato, os Mantras têm um poder inquestionável. Helena Blavatsky, por exemplo, escreveu que sua vida foi salva mais de uma vez por um sábio dos Himalaias através do uso de Mantras. No entanto, o uso consciente do poder dos mantras é apenas um aspecto da questão. Há também um certo poder mântrico presente em cada som emitido por qualquer indivíduo, sábio ou ignorante.

O ser humano capta, fisicamente, somente uma certa faixa vibratória de sons. Abaixo disso temos os infra-sons. Acima dessa faixa, há os ultra-sons. Mas os sons também têm vários outros níveis de sutileza e densidade, muito além das vibrações do plano físico, sejam estas perceptíveis ou não para o atual ouvido humano.

Basta lembrar de que nosso pensamento é um nível mental e subjetivo de som. Pensar é “ouvir” a nossa própria voz mentalmente. Quando lemos um livro, também “ouvimos” nossa voz.

Nossos pensamentos têm sempre uma carga emocional - maior ou menor. Por isso podemos dizer que os “sons” dos pensamentos que emitimos existem também no plano das emoções.

No plano oculto, os pensamentos elevados possuem, portanto, uma dimensão de mantras, especialmente quando apontam para uma direção constante e definida. Quando dizemos que os pensamentos elevados têm um poder que lhes é próprio, estamos afirmando, de certo modo, que pensar espiritualmente - isto é, pensar a partir do ponto de vista da alma imortal - é como emitir mantras. É como emitir sons mentais a partir do centro de paz e generosidade em nossas consciências. Estes são os sons do silêncio interior, da justiça e do equilíbrio.

Deste modo funciona a magia do altruísmo. O som que vibra coerentemente em todos os níveis - e não só no plano físico - é magia. Ele é vibração pura. Ele deve ser tratado com cuidado e com um sentido de responsabilidade.


11. Os Sete Níveis de um Mantra

O uso de sons cuja frequência está em harmonia com a faixa vibratória da Alma das Coisas é, sem dúvida, capaz de purificar ambientes - ou de melhorar o estado da aura individual. A própria música clássica pode ser em muitos casos um exemplo disso.

Ao mesmo tempo, o uso correto de sons físicos deve ser feito com base na percepção de que o som é setenário. O som - como todas as coisas da natureza - ocorre em sete níveis ou planos de consciência e realidade.

É preciso reconhecer a unidade dinâmica dos vários níveis em que há som, ou silêncio. Durante o processo meditativo, o silêncio físico permite perceber o ruído, a harmonia ou silêncio no plano emocional. O silêncio físico e emocional permite perceber o ruído, a harmonia ou o silêncio no plano mental. O silêncio físico, emocional e mental permite perceber a música das esferas, a voz do silêncio, o eu superior , a alma imortal.

O poder curativo de um mantra se deve ao fato de que, como o mantra é setenário, ele atua também no nível do segundo princípio da consciência, Prana, e do terceiro princípio, Linga-Sharira. Assim, ele faz com que as energias vitais se harmonizem, produzindo equilíbrio e saúde também no plano físico e material.

O pensamento correto é simultaneamente verdadeiro e elevado. Ele funciona como um poderoso mantra gerador de paz a todos os níveis. O pensamento correto, porém, não surge por acaso. Ele é conquistado gradualmente através de um aprendizado sempre probatório que dura várias encarnações.

Neste longo caminho, a cada pequeno passo adiante o peregrino se liberta um pouco mais.

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