ALIMENTO ROXO É SINAL DE SAÚDE
Os alimentos de cor roxa possuem uma substância chamada antocianina, que protege nosso corpo contra infecções, combate os radicais livres, afasta tumores, doenças vasculares e até age contra a obesidade.
O que os olhos vêem, o corpo inteiro sente. Espalhada pela natureza e, basta querer, também na sua mesa, destaca-se uma tinta, ou melhor, uma classe de compostos arroxeados sem igual. Se as nuances que recobrem as frutas e as hortaliças desta reportagem já chamavam sua atenção, a partir de agora devem resplandecer ainda mais. Afinal, estudos recentes mostram que as antocianinas, esses pigmentos poderosos visíveis na casca, mas encontrados também na polpa de alguns vegetais , são capazes de livrar as nossas células da sombra de diversos problemas.
Essas substâncias protegem as plantas de infecções e outros danos, diz a farmacêutica Neuza Hassimotto, pesquisadora do Laboratório de Química e Bioquímica dos Alimentos da Universidade de São Paulo. E, no nosso organismo, elas realizam a mesma façanha só que de uma maneira diferente.
Se a ciência já se encantava com seu poder de fogo contra os radicais livres, moléculas produzidas pelo próprio corpo cujo excesso está na raiz dos males degenerativos, outra novidade faz o componente saltar aos olhos: ele carregaria uma ação antiobesidade, garantem pesquisadores da Universidade de Chubu, no Japão (veja no complemento as frutas ricas nas benditas antocianinas).
Se a ciência já se encantava com seu poder de fogo contra os radicais livres, moléculas produzidas pelo próprio corpo cujo excesso está na raiz dos males degenerativos, outra novidade faz o componente saltar aos olhos: ele carregaria uma ação antiobesidade, garantem pesquisadores da Universidade de Chubu, no Japão (veja no complemento as frutas ricas nas benditas antocianinas).
Os japoneses conduziram dois trabalhos sobre os efeitos do pigmento um com células de gordura manipuladas em laboratório e o outro com camundongos. Daí observaram que as antocianinas são capazes de regular o funcionamento dos adipócitos, o nome científico das células gordurosas, sendo uma das chaves para mantê-los mais murchos e diminuir as chances de aparecer a famigerada síndrome metabólica. O time de cientistas verificou que os ratinhos submetidos a uma dieta rica em gordura e antocianinas ganharam poucos quilos comparados aos animais do grupo de controle, aquele sem cardápio gorduroso e sem pigmentos roxos.
As antocianinas podem controlar a expressão das adipocitocinas, moléculas produzidas pelas células de gordura, conta a SAÚDE! o líder da pesquisa Takanori Tsuda. Traduzindo: ao contribuir para que essas substâncias fiquem em equilíbrio no corpo, é possível evitar a sobra de gordura e a resistência à insulina, o mal que deflagra o diabete tipo 2.
Os pigmentos que dominam a paleta de cores de vegetais como os retratados à esquerda pertencem, na realidade, ao grupo dos flavonóides. Mas são bem diferentes de seus parentes entre eles, as isoflavonas da soja e as catequinas do chá, porque absorvem a luz solar e a devolvem assim, roxa de tanta saúde.
Como agem
Como todo membro da família flavonóide, as antocianinas contam com uma turbinada propriedade antioxidante. Para entendê-la, é preciso lembrar, antes de mais nada, que em todo o corpo são formados naturalmente os radicais livres, moléculas instáveis que perambulam pelas células e que, quando nossas defesas baixam a guarda, podem danificá-las. A poluição, a radiação ultravioleta e o cigarro, por exemplo, estimulam sua proliferação, num processo conhecido pelos especialistas como estresse oxidativo.
E aqui entram as substâncias roxas. Elas doam elétrons a esses radicais, estabilizando-os e impedindo que provoquem alterações nas células. Daí pinta sua capacidade de reduzir o risco de um câncer. Os radicais livres se formam também no DNA, conta Neuza Hassimotto. Quando o organismo está em desarranjo, eles podem atingir uma seqüência do código genético que acarretará no nascimento de uma célula pré-cancerosa. Então, ao multiplicar-se, essa unidade modificada lança as sementes para um tumor. Para barrar esse processo, a atividade antioxidante das antocianinas é maior do que a das vitaminas C e E, diz a doutora em ciência dos alimentos Leila Falcão, pesquisadora da Universidade Estadual de Ponta Grossa, no Paraná.
Além disso, os compostos que colorem amoras, uvas e repolhos roxos são capazes de minimizar estragos causados por inflamações. Isso porque inibem enzimas essenciais ao processo inflamatório, afirma Neuza. Ao somar essa ação benévola ao efeito antioxidante, as antocianinas não só retocam nosso corpo como o protegem de doenças cardiovasculares. E, por falar nas encrencas que detonam os vasos sangüíneos, estudos ao menos com ratos - revelam que os pigmentos conseguem dar um basta ao excesso de gorduras no sangue.
Além disso, os compostos que colorem amoras, uvas e repolhos roxos são capazes de minimizar estragos causados por inflamações. Isso porque inibem enzimas essenciais ao processo inflamatório, afirma Neuza. Ao somar essa ação benévola ao efeito antioxidante, as antocianinas não só retocam nosso corpo como o protegem de doenças cardiovasculares. E, por falar nas encrencas que detonam os vasos sangüíneos, estudos ao menos com ratos - revelam que os pigmentos conseguem dar um basta ao excesso de gorduras no sangue.
"Orientei um trabalho que constatou, nos animais que ingeriram antocianinas, uma redução de 48,62% na concentração de colesterol e de 30% na de triglicérides", conta Tânia Toledo de Oliveira, professora da Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais. O efeito é superior ao de medicamentos. Não à toa, a equipe da pesquisadora já estuda a produção de remédios com base nesses compostos naturais. Aliás, eles ainda impediriam a oxidação do LDL, a molécula que transporta o colesterol para todos os órgãos e, sem ser oxidado, o colesterol que sobra não consegue se fixar nas paredes das artérias, gerando as temidas placas.
O alto consumo de antocianinas, não se esqueça, também está costurado ao chamado paradoxo francês. As taxas de doenças cardiovasculares entre os franceses são baixas, embora eles insistam em saborear um menu gorduroso, lembra a nutricionista Beverly Clevidence, do Serviço de Pesquisa em Agricultura do governo americano. E uma das explicações, sem dúvida, é o fato de beberem rotineiramente vinho tinto, uma bela fonte de antocianinas.
Até a cabeça fica mais preservada quando seu prato conta com tons arroxeados. Ora, as antocianinas, assim como todo o exército de antioxidantes, são caras à prevenção de males como o Alzheimer. Nessa doença, aumenta a quantidade de radicais livres e de uma proteína chamada betaamilóide, relembra Tânia Toledo de Oliveira. Essa tal proteína, ao lado dos capangas radicais, podem degenerar de vez as células nervosas. Mas os pigmentos roxos são capazes como provam alguns experimentos de dificultar esse ataque.
De quanto precisamos?
De uma coisa você precisa saber: uma considerável porção das antocianinas que ingerimos não é absorvida pelo corpo. Então, boa parte é desperdiçada? Nada disso. A antocianina que não é assimilada vai fazendo seus benefícios pelo trajeto do aparelho digestivo, protegendo os órgãos por onde passa, da boca ao cólon do intestino, afirma a pesquisadora Beverly Clevidence. A nutricionista americana, aliás, investiga justamente por que alguns grupos de antocianinas são mais bem assimilados pelo nosso corpo do que outros. Em todo caso, os indícios são os seguintes: absorvidos ou não, eles são úteis à beça à saúde.
A grande questão, que carece de uma resposta certeira até o momento, é a quantidade ideal de antocianinas que deve ser consumida no dia-a-dia para alcançar tantos benefícios. Como não existem medidas precisas, os especialistas aindaficam com o pé atrásna hora deprescrever uma cota diária. O teor de antocianinas depende da variedade da fruta e até da época da colheita, justifica Neuza Hassimotto. "Certa vez, ao calcular a concentração delas em amoras silvestres, percebemos que havia 250 miligramas do pigmento em cada 100 gramas da fruta. No ano seguinte, outra safra, o teor caiu para 150", exemplifica.
Até que os cientistas cheguem à média de antocianinas de cada alimento e ao consenso de quanto deveríamos comer, pregam que o cardápio precisaria ter no mínimo uma porção diária de qualquer fonte. No café-da-manhã, dá para apostar numa torrada coberta com geléia de framboesa ou da brasileiríssima jabuticaba. Se preferir, assegure outra dose do pigmento preparando no almoço uma salada de repolho roxo ou de alface da mesma cor. No tempero, troque a cebola branca pela roxa. E, quando a berinjela entrar em cena, preserve a sua casca, já que é lá que estão as substâncias bem-vindas.
Quem quer investir nas frutas tem um prato cheio de opções para a sobremesa uma porção de morangos ou uvas do tipo Isabel, por exemplo. Sem contar que tanta cor, talvez você nem tenha reparado ainda, mora também em outras seções do supermercado. É que as antocianinas são usadas pela indústria como corantes, fazendo parte da fórmula de guloseimas, sucos em pó e certas gelatinas. Mas aí, em matéria dos benefícios descritos, o ganho é menor.
A melhor forma de consumir as fontes de antocianinas é in natura, enfatiza a engenheira de alimentos Gisele Alves, da Universidade de Taubaté, interior de São Paulo. Tudo o que destrói o tecido do vegetal interfere na quantidade do composto, explica Neuza. Aliás, saiba que na sua cozinha o problema não é tanto conservar a polpa no congelador, mas submeter o alimento ao calor. De qualquer forma, o importante é garantir os toques de roxo e dos tons que ondulam entre o vermelho e o azul em sua dieta. Assim as antocianinas vão ajudar suas células a trabalhar em harmonia, deixando o corpo todo em estado de obra-prima.
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