domingo, 22 de maio de 2011

CHURMAY - UMA VENUSIANA, HISTÓRIA DE MALDEK

CHURMAY - UMA VENUSIANA,

HISTÓRIA DE MALDEK

e o Sistema Solar




Livro"Através de Olhos Alienígenas", de onde foi traduzido o material apresentado, escrito por Wesley H. Bateman, em foto a seguir..





Em 13 de fevereiro de 2009, Wesley H. Bateman faleceu após um longo período de luta contra o câncer. Ele foi um pioneiro no campo da pesquisa ufológica em Hollywood nos anos 50 e início dos anos 60. PhD em matemática, Bateman foi um dos criadores das idéias de buracos de minhoca (Wormholes), velocidade warp-drive e dispositivos de camuflagem para aeronaves. Escritores da série televisiva Star Trek (série Viagens nas Estrelas) participaram de suas reuniões regularmente antes e durante os anos da série de produção. Bateman era fascinado pelas Pirâmides do Egito e desenvolveu o sistema RA da matemática que ele disse que descobriu ao estudar as pirâmides.



“Eles são como as mais frágeis flores em forma humana. Suas canções e palavras de amor expressam mais realidade sobre a grande emoção do que qualquer canção ou palavra por mim ouvida ou sentida, oferecida com o máximo de sinceridade por habitantes de qualquer outro mundo. Tenho certeza de que o Criador de Tudo Que É de vez em quando pede silêncio e roga que um habitante de Wayda (Vênus) cante uma canção de amor. Que a bondade espiritual dos habitantes de Wayda seja um exemplo para todos nós".



"Sou Tinsel de Nodia.”

CHURMAY - UMA VENUSIANA



Saibam que eu, CHURMAY falo apenas como uma mulher de Wayda (Venus) cujas vidas passadas foram sempre influenciadas pelos costumes espirituais de meu El. Ele incutiu esses costumes em minha alma muito antes de eu enxergar através dos olhos físicos as muitas realidades que compõem a criação (e não apenas a realidade inerente "a roupa de carne que vestimos").

É verdade que apenas o Criador de Tudo Que É tem conhecimento do número total de mundos que existem para prover as necessidades da vida de homens, mulheres e de seus filhos. Nos mundos sobre os quais possuo algum conhecimento pessoal, o papel da mulher raras vezes se repete de forma exata.




Há mundos situados além de nosso sistema solar nos quais as mulheres governam totalmente. Nos quadros da Federação e das casas de comércio, existem mulheres que estão em pé de igualdade com os Senhores de Planejamento e que comandam as manobras de espaçonaves-mães imensas. O que em certas sociedades poderia parecer falta de igualdade para as mulheres em seu relacionamento com os homens não seria de maneira alguma considerado assim pelas mulheres dessa mesma sociedade.




Existem várias razões para a existência desse estado de espírito. Pode ser a vontade do Senhor Deus El (ou das próprias mulheres) daquele mundo que as mulheres atuem dessa maneira na vida. Essas razões divinas podem variar e ser tão numerosas como os grãos de areia de uma praia. Além disso, em alguns mundos a essência psíquica da metade feminina de um par de almas gêmeas pode se subdividir em até sete partes. Eu mesma sou uma de duas dessas subdivisões psíquicas. Em virtude dessas subdivisões, pode haver em tais sociedades (como na cultura marciana) até sete mulheres para cada homem. Se esse mundo for governado por uma democracia na qual todos têm direito a voto, as coisas parecem ir muito bem.




Eu jamais conseguiria descrever os vários tipos de relacionamento entre mulheres e homens nos incontáveis mundos habitados que preenchem o universo. Na verdade, é o amor que homens e mulheres sentem uns pelos outros e o cuidado terno que dedicam a seus filhos que realmente agrada os Elohim. Recordo-me de ter ouvido uma vez: “Deve ser primavera: até as amazonas estão fazendo vestidos de noiva de seus estandartes de guerra.” O amor de homens e mulheres uns pelo outros pode realmente modificar para melhor os costumes radicais de uma ou das duas partes.




Falei sobre essas coisas para enfatizar que toda vida por mim vivida desde a destruição de Maldek até minha vida atual foi passada na Terra, dentro de sua horrível Barreira de Freqüência. Durante essas vidas, na maioria das vezes fui mulheres de beleza considerável, mulheres com algum talento notável e mulheres cheias da sabedoria que chega com a idade e que, em certo ponto, foram capazes de mudar o curso da história da Terra. Sempre me coloquei entre as que observavam as decisões e os atos de reis trazendo sofrimento para as pessoas que eles governavam. Infelizmente, posso dizer que, na maioria dos casos, o conselho prudente da mulher mais sábia daqueles tempos não era ouvido nem mesmo pelos homens da família dela, muito menos por um rei.




Lembrem-se, ao longo do passado, a Terra foi ocupada por homens e mulheres cuja essência psíquica (alma) e estrutura de ADN tiveram origem em outros mundos. Todos os costumes inerentes desses vários grupos de alguma forma influenciaram a vida de todos. A princípio, os costumes dos outros eram confusos e, para alguns, bem risíveis. Afinal, os homens acabaram por incorporar a seu modo de vida e às suas leis os costumes de um grupo, o que nem sempre era justo para os outros. Então, na falsa crença de que estavam servindo poderes divinos superiores, faziam coisas que não fariam em seu planeta natal, pois isso iria contra sua natureza.




Ao lerem sobre estas vidas que selecionei para contar, por favor não pensem que me arrependo de ter vivido qualquer delas, pois agora utilizo-me de minhas recordações e experiências daqueles tempos para melhor servir os Elohim e o Criador de Tudo Que É. Digo-lhes com muita humildade que os grandes senhores da Federação e das casas de comércio me conhecem pelo nome e pedem sinceramente meus conselhos.



VÊNUS/WAYDA



Passei os primeiros treze anos terrestres de minha primeira vida com meu pai Rosolan, minha mãe Becripta e Alysybe, segunda esposa de meu pai. Eu tinha um meio irmão chamado Juliopo e duas irmãs, Sacriba e Loctensa, todos mais novos que eu.

Morávamos numa aldeia de pescadores às margens de um lago que chamávamos Lago Samm. Nossas casas, com vários andares, eram construídas tanto de pedras quanto de madeira e eram dispostas nas colinas terraçadas que circundavam o lago. Além dessas colinas havia colinas ainda mais elevadas, cobertas por florestas. Havia tanta abundância de peixes que dois barcos pescando uma vez por semana conseguiam cobrir as necessidades totais de nossa aldeia. O peixe a mais era conservado e afinal comercializado em troca de artigos manufaturados como tecido e couro. Meu pai, como a maioria na cidade, tinha duas profissões. Era pescador e sapateiro.




Alguns dos terraços atrás de nossas casas eram usados para o cultivo de verduras. Em outras áreas, nas terras mais baixas de Wayda/Venus, outros habitantes de nosso mundo cultivavam grãos e criavam rebanhos de animais. Grande parte da paisagem relvada e coberta de florestas de Wayda ficava para animais selvagens como gazelas, avestruzes, leões, leopardos e outros que podem ser encontrados hoje na savana africana da Terra. As temperaturas das áreas de Wayda onde moravam humanos (naquela época) variavam entre cerca de 14° C e 27° C. Durante o inverno, caia uma neve fina nas montanhas mais altas do planeta.




Nós, habitantes do planeta Wayda, venerávamos a divina consciência (El) e ordem existente em todos os objetos, animados e inanimados, de nosso planeta. Nossos pais nos ensinaram a orar na privacidade a esse grande espírito. Uma vez por ano, a aldeia se reunia ao nascer do Sol e orava junto por cerca de uma hora, a seguir dançava, cantava e se banqueteava em conjunto pelo restante daquele dia e mais dois dias.

Os homens de nossa aldeia construíram várias cabanas de madeira das montanhas altas nas quais os habitantes da cidade poderiam, mediante uma reserva feita com antecedência, passar as férias no inverno. Antes de completar dez anos de idade, eu já havia ido para as altas montanhas duas vezes e adorava tanto a caminhada da viagem como o sorvete que fazíamos com a neve. Nós, garotas, andávamos de trenó e observávamos e riamos quando meu pai e Juliopo tentavam esquiar.




Os jovens do planeta eram ensinados a ler e escrever por seus pais. Nossa aldeia trocava peixes por livros de todos os assuntos concebíveis. Esses livros vinham de uma cidade de aproximadamente 800 mil habitantes chamada Ansomore, situada a mais de 1.600 quilômetros de nossa cidade. Uma vez, meu pai e minha mãe foram visitar essa cidade e ficaram longe pelo que me pareceu um tempo considerável. Quando voltaram, nos repetiram inúmeras vezes a história de sua viagem e os lugares que tinham visto na cidade.

Ansomore era, na verdade, a sede do Governo Mundial de Wayda/Vênus. Cada aldeia tinha um representante eleito que falava em seu nome em todos os tipos de assuntos governamentais. Esses representantes tinham mandatos de dois ou quatro anos de duração, dependendo, respectivamente, de se o homem ou a mulher eleito nascera no período de inverno/primavera ou no de outono/inverno do ano waydiano.




De vez em quando, mensageiros a cavalo ou mercadores com carroças chegavam a nossa aldeia provenientes de Ansomore com avisos públicos que eram lidos em voz alta pelo líder da aldeia. Esses avisos continham principalmente assuntos sobre os quais o governo central queria que os habitantes da aldeia discutissem e votassem. Reuniões políticas eram realizadas a aproximadamente cada dois meses. Avisos posteriores traziam os resultados, que aldeias haviam votado sim ou não numa questão em particular. Nada era resolvido a menos que fosse contado o voto de cada aldeia. Lembro-me de que uma aldeia chamada Ordover raramente enviava seu voto relativo a questão alguma ao governo, e foi devido a sua falta de votação que muitas coisas ficaram em suspenso por até centenas de anos.




Meu pai, como seu pai antes dele, dizia: “O que acontece com a gente de Ordover? Alguém de nossa aldeia deveria ir ter uma conversa com eles.” Essa afirmação era normalmente seguida da procura do lugar num mapa. Ordover se localizava a cerca de 3.000 quilômetros de nossa aldeia, mas sua aldeia vizinha mais próxima, Iberlotin, ficava a aproximadamente 83 quilômetros. Esse fato inspirava meu pai a fazer sua pergunta seguinte: “Por que alguém de Iberlotin não vai a Ordover e tem uma conversa com eles?” Chega de política.




Os avisos às vezes continham notícias e histórias descrevendo acontecimentos passados em algum ponto do planeta. Eu gostava muito de ouvir ou pessoalmente ler essas histórias.

Certo dia, chegou um aviso que informava de modo bem sucinto que uma espaçonave (oriunda do planeta Nodia) contendo pessoas de outro mundo aterrissara próximo a Ansomore e entrara em contato com o governo central de Wayda. Perguntei a meu pai se ele sabia que havia gente capaz de voar como pássaros vivendo em outros mundos. Ele respondeu que ele e outras pessoas desconfiavam que seres inteligentes viviam no grande globo que chamávamos Teen (Terra), pelo qual Wayda periodicamente passava durante sua órbita mais rápida ao redor do sol central.




Ele disse que se pensava que o satélite visível de Teen (que naquela época possuía atmosfera), Luna, também continha alguma forma de vida. Acreditava-se também que vida inteligente habitava nossa própria lua, Oote, que orbitava Wayda a cada 17,5 dias waydianos e tinha atmosfera. No passado, haviam sido observadas luzes intermitentes na forma de pontos e traços vindas da superfície de Oote, mas ninguém conseguira decifrar seu significado, e elas acabaram por cessar. Meu pai disse que ele acreditava que os visitantes vinham de Teen ou de Oote, mas aguardaria um futuro aviso que, ele tinha certeza, nos informaria o verdadeiro mundo de origem dos visitantes. Acrescentou que fosse de onde fosse que viessem os viajantes espaciais, ele estava contente por eles terem escolhido Wayda para visitar.

Um aviso posterior afirmava que o povo das estrelas viera de um planeta localizado na órbita de um sol distante e que queria visitar cada uma das aldeias de Wayda, solicitando uma resposta do povo de cada aldeia dizendo se estaria ou não receptivo a tal visita. Surpresa, surpresa: até o povo de Ordover imediatamente respondeu que sim. Várias semanas depois, pelo meio da manhã, uma grande espaçonave negra pousou nas águas do Lago Samm. Em diversos pontos de sua fuselagem havia triângulos prateados com uma barra adicional logo abaixo da base de cada um. Esse triângulo prateado de base dupla ficou-nos conhecido como a insígnia da Casa de Comércio Nodiana de Domphey.




Uma nave pequena saiu voando da nave maior e aterrissou na praça da cidade. Houve gritos contidos e risadas nervosas quando uma porta se abriu na lateral do veículo e quatro sorridentes homens de cabelos brancos, mais altos do que meu pai no mínimo uma cabeça, saíram. A princípio pensei que os cabelos brancos eram conseqüência de velhice, mas depois de olhar seus rostos, conclui que dois deles eram apenas uns poucos meses mais velhos do que eu. Eram pessoas belas, e acho que me apaixonei por todos os quatro. Todos correram para eles. Então, de dentro do veículo saiu Hocrolon, nosso representante da aldeia eleito para o governo central de Wayda.




Foram trazidas várias cadeiras para a praça, e os visitantes primeiro sentaram-se nelas enquanto nós, da aldeia, sentávamo-nos sobre as pedras do calçamento, formando um círculo a seu redor. Três dos visitantes não gostaram disso e se juntaram a nós no chão. Um dos visitantes de cabelos brancos mais velhos apontou várias vezes suas costas, como se pedisse nossa permissão para sentar-se numa cadeira. Todos nós agitamos os dois braços no ar, que era a maneira waydiana de dizer ‘‘sim, claro.”

Um dos visitantes mais jovens falou-nos perfeitamente em nosso idioma nativo. De vez em quando olhava para seus amigos em busca de alguma expressão de aprovação.




O porta-voz dos visitantes nos disse que vinham de um planeta que eles denominavam Nodia e que pessoalmente representavam um líder nodiano que chamavam Carlus Domphey. Ele também nos disse que o Senhor Domphey deles queria nossa permissão para trazer a Wayda várias pessoas para plantar, cuidar e colher um certo tipo de grão que não era nativo de Wayda. Dizia-se que o solo de nosso mundo era bem adequado a uma produção consideravelmente abundante de tal lavoura. Em troca do direito de plantar e colher esse grão em nosso mundo, eles nos dariam inúmeras coisas que mal podíamos avaliar. O nodiano falou e respondeu perguntas até o pôr-do-sol, concluindo que eles nos exibiriam e explicariam suas mercadorias para troca no dia seguinte. Poucos de nós dormiram naquela noite.




Ao amanhecer, a praça da cidade começou a ficar cheia de produtos que eram trazidos, viagem após viagem, da grande espaçonave, que parecia flutuar na superfície do Lago Samm. A praça logo tomou a aparência de um bazar ou, como vocês dizem agora na Terra, de uma feira de barganhas. Atrás de cada grupo de produtos havia um waydiano de Ansomore treinado e um sócio ou sócia nodiana que explicava e demonstrava as diversas maravilhas. Em essência, os produtos eram os equivalentes nodianos de usinas elétricas, rádios sem fios, câmeras fotográficas e máquinas copiadoras de documentos. Os produtos mais estimulantes de todos eram os gravadores e tocadores de ROM mentais e os incontáveis ROMs mentais educacionais contendo assuntos referentes a numerosas culturas de fora do mundo.




A partir dos assuntos desses ROMs mentais nós, de Wayda, aprendemos sobre a existência e os modos de vida de milhares de culturas alienígenas com as quais a Casa de Comércio de Domphey possuía alguma forma de ligação. Por último mas não menos importante, os nodianos concordaram em ensinar qualquer um (depois de um curso preliminar de estudo com ROM) a pilotar carros aéreos, pois eles tencionavam dar um para cada aldeia. Os nodianos disseram que esses carros aéreos seriam entregues depois, e assim foi. Claro, concordamos em permitir que esses nodianos cultivassem certas terras, sob a condição de que não pusessem em risco ou perturbassem de maneira alguma a vida selvagem animal que vivia naquelas áreas.




Nossa biblioteca de ROMs mentais forneceu-nos orientações de como usar nossas recém-adquiridas usinas elétricas, os rádios e câmeras. Eles também confirmaram a existência de outras culturas humanas em nosso sistema solar local, inclusive o povo de Teen (Terra) e de nossa lua, Oote.

Depois da introdução do método rápido de aprendizado com base no ROM mental, Wayda nunca mais foi o mesmo. Domphey fornecia ônibus aéreos que nos propiciavam meios para visitar qualquer aldeia de Wayda. Claro, meu pai foi a Ordover para entregar pessoalmente suas queixas há muito alimentadas. Ao chegar, encontrou três construções vazias e um bilhete pregado numa porta dizendo: “Fomos para Ansomore.”




As famílias lavradoras de Domphey vinham de inúmeros mundos e eram muito amistosas a nós de Wayda. Os que vieram dos planetóides (Luas de Saturno) do Radiar Sumer/Saturno nos pareceram muito sábios nos métodos de cultivar coisas. O povo da lua waydiana Oote se parecia com o povo de Wayda, só que de estatura um pouco mais baixa. No princípio, não falavam o idioma do mundo-mãe, mas logo aprenderam.

Os habitantes de Oote chamavam a si mesmos de Whars e nos informaram que haviam adquirido o conhecimento da eletricidade e do rádio sem fios há centenas de anos, e que os nodianos haviam respondido às mensagens de rádio que eles estiveram transmitindo no espaço por mais de sete décadas. Como nós do mundo-mãe não dispúnhamos dessa tecnologia naquela época, logicamente nem fazíamos idéia de que eles estavam fazendo isso.




Sete anos após a chegada dos nodianos a Wayda, não havia praticamente um homem, mulher ou adolescente que não fosse especialista em alguma área altamente técnica. Quanto a mim, sai de casa aos treze anos de idade para freqüentar e morar numa escola técnica na cidade de Dankmis, que crescia rapidamente, situada a cerca de 500 quilômetros de minha aldeia natal. Eu gostava de trabalhar com óptica e trabalhei na produção das lentes magnéticas gigantes que foram usadas de alguma forma nos sistemas de propulsão das espaçonaves nodianas maiores (naves-mãe). Nós, de Wayda, adorávamos aprender.

Eu tinha toda liberdade para visitar a grande nave-mãe de Domphey que de tempos em tempos entrava em órbita ao redor de Wayda, mas devido à dificuldade de passar minha respiração de oxigênio para a atmosfera rad do interior da espaçonave, abstive-me de fazer tal visita. Visitava minha família pelo menos duas vezes por mês. Minhas irmãs também estudavam longe e meu irmão Juliopo voara para as estrelas numa espaçonave de Domphey. Aguardava-se a sua volta para daí a um pouco mais de um ano waydiano.

Numa de minhas visitas em casa, minha irmã Sacriba demonstrou um aparelho que conservava flores e as fundia em tecido. Logo todos os presentes estavam usando lindos chapéus de sua criação. Pelo meio da tarde, nós da família resolvemos dar um passeio pela aldeia e até a margem do lago. Parávamos de vez em quando para conversar com outras pessoas que encontrávamos. Ao chegar às margens do lago, reunimo-nos a outros grupos que sentavam-se às mesas enquanto seus filhos patinhavam na água. Alguns desses grupos tinham entre si gente de fora do mundo vindas das fazendas nas terras baixas para aproveitar o dia junto ao lago.

Menos de uma hora depois de nossa chegada, o vento começou a soprar com tanta força que virou as mesas e tirou-nos nossos lindos chapéus das cabeças. Nunca havíamos experimentado um vento assim. Todos que estavam no lago pegaram suas crianças e foram em direção à aldeia do modo que puderam. A cena era de confusão, enquanto tentávamos avançar com dificuldade em meio a bandos de pássaros aquáticos que flutuavam a nossos pés, em busca de refúgio dos ventos secos e quentes que acabaram por alcançar velocidades de furacão.

Nós e outros nos abrigamos no primeiro lugar disponível, uma casinha. Fechamos rapidamente as persianas das janelas enquanto objetos transportados pelo ar deslocando-se a alta velocidade bateram na construção, fazendo considerável barulho. Quando eu fechava as persianas, testemunhei dois carros aéreos caindo nas águas revoltas do Lago Samm.

O vento continuou soprando com grande força durante toda a noite. Pouco falávamos; e a noite insone foi passada pela maioria em prece silenciosa. O vento gradualmente abrandou na manhã seguinte e pelo meio-dia cessou por completo. O mundo foi tomado de um silêncio sobrenatural e as pessoas foram tomadas de apreensão e medo de que os ventos tremendos começassem outra vez.




Quando saímos de nosso abrigo quase destelhado, ficamos horrorizados com a destruição que contemplamos. Entre as ruínas da aldeia estavam os cadáveres de vários de nossos amigos e vizinhos. Nos dias que se seguiram, moviamo-nos lentamente, como em transe. Embora o sepultamento dos mortos sempre tivesse sido nossa prática no passado, colocamos de lado o costume e cremamos os corpos dos que haviam perecido na noite fatal. Do convés de todos os barcos pesqueiros que ainda flutuavam, espalhamos suas cinzas nas águas do lago Samm e oramos para que suas almas encontrassem paz.

Transmissões de rádio logo nos informaram que outras áreas de Wayda também estavam passando por ventos muito intensos, semelhantes aos que tínhamos experimentado. Fomos orientados a nos defender como pudéssemos até que socorro pudesse nos alcançar. Nos dias que se seguiram, experimentamos uma série de tremores de terra fracos que em alguns casos derrubaram a maioria das construções deixadas estruturalmente precárias pelo grande vendaval.




Finalmente ficamos sabendo que nossa capital Ansomore estava completamente destruída. Esse mesmo comunicado radiofônico nos informou que as terríveis calamidades que experimentáramos eram conseqüência da explosão do planeta Maldek. Nossa família ficou ainda mais triste ao saber do destino de Ansomore, pois minha irmã Loctensa freqüentava a escola nessa cidade. Nunca mais vimos Loctensa naquela vida.

Abortos e nascimentos prematuros entre as formas de vida humana e animal tornaram-se comuns. No ano seguinte, a Casa de Comércio de Domphey estabeleceu várias bases em Wayda. Depois de serem estabelecidas, essas bases foram transferidas a outra organização de fora do mundo recentemente criada que ficou conhecida como Federação.




Chegou-nos a nós, de Wayda, a princípio na forma de boatos depois oficialmente confirmados, que nosso mundo achava-se em grande perigo e que a Federação estava fazendo planos de evacuar toda a população do planeta para o mundo que chamávamos Teen (Terra). Foi realizado um recenseamento entre os que poderiam responder e descobriu-se que mais de 600 mil pessoas de Wayda e muita vida animal haviam morrido como resultado direto da destruição de Maldek. Afinal chegou o dia em que nossa família foi levada num vôo de nossa aldeia até uma das bases da Federação. Ela foi embarcada numa espaçonave superlotada que chegou à Terra onze horas depois.




Nosso novo lar era o lugar que vocês atualmente chamam de Argentina. Esse local não era ocupado exclusivamente por nós de Wayda. Era habitado de forma intensa por muitos tipos de habitantes de fora do mundo que, em alguns casos, tinham costumes beligerantes e violentos. As mulheres de nosso mundo eram abordadas continuamente em busca de favores sexuais e nossos homens eram atacados fisicamente numa tentativa de intimidação. Quando os alimentos se tornaram escassos, os que tinham sob seu controle suprimentos de comida aumentaram suas exigências sobre nós, bem como sobre outros tipos de imigrantes de fora do mundo. Vários tipos de imigrantes revidaram, mas os que nunca haviam experienciado os costumes dos que seguem o lado sombrio da vida não sabiam o que fazer quanto àquela situação. Infelizmente, alguns de nós acabaram por se submeter.




Muita gente de Wayda morreu de doenças sexualmente transmissíveis ou sucumbiu antes de dar à luz uma criança gerada por um ou outro tipo de alienígena. Muitos de nós morreram de fome.

Vários meses após nossa chegada à Terra, vi pela primeira vez um maldequiano. De fato, vi cinco deles — três mulheres e dois homens que vieram à nossa aldeia feita de habitações provisórias. Com eles havia várias pessoas nativas da Terra. Residiam em bonitas tendas brancas erguidas para eles numa colina vizinha.

Correu a notícia pelas aldeias que os chamados Radiantes buscavam entre nós quem tivesse uma habilidade ou talento em particular. Frágeis e famintos, meu pai e minha mãe imploraram que eu e minha irmã Sacriba oferecêssemos nossos serviços a essa gente na esperança de que pudéssemos assegurar um meio de sobrevivência. Durante várias semanas sentei-me em meio a muitas outras pessoas no sopé da colina na qual ficavam as tendas maldequianas, aguardando que meu nome fosse chamado por um alto-falante. Num dia quente, meu nome foi chamado e me coloquei numa fila de diversos tipos de gente, a cerca de dez metros da tenda mais próxima.




Depois de várias horas, os que ainda estavam de pé foram inspecionados por uma mulher maldequiana que era transportada numa liteira dourada cravejada de pedras preciosas. Um homem terrestre pintou um símbolo branco em minha testa. Mais tarde, juntamente com outras pessoas com o mesmo símbolo, embarquei numa carroça grande puxada por dois elefantes. Naquela noite, deram-nos comida e caímos no sono de cansaço. No dia seguinte, aqueles de nós que conseguiam se comunicar entre si tentaram se conhecer. A maioria de nós se perguntava se veria outra vez a família e os amigos.




Oito dias depois, chegamos a uma propriedade imensa cercada por belos gramados e jardins. As árvores estavam cheias de pássaros de cores brilhantes. Fomos levados a um pequeno lago e nos mandaram tomar banho, homens e mulheres juntos. Foi constrangedor para algumas pessoas vindas de mundos cuja moral desaprovava tais atividades. As roupas que estivéramos usando ao chegar desapareceram. Depois nos dividimos em dois grupos, um de homens e outro de mulheres. Fomos levados a dormitórios separados e alimentados duas vezes por dia por mulheres terrestres que cobriam os rostos com véus quando estavam na presença de homens. Descobri que eu era agora propriedade de uma viúva maldequiana de grande beleza chamada Jorhisa, cujo irmão Her-rod era considerado um deus até por seus companheiros maldequianos.




Afinal fui levada por dois homens terrestres vestidos elegantemente a uma sala grande para encontrar a Senhora Jorhisa e várias outras pessoas da mesma raça planetária que ela. Além disso, estavam presentes muitas pessoas de aparência bastante estranha, provenientes de mundos localizados em sistemas solares distantes. Todos escutaram em silêncio enquanto eu era questionada em voz alta por um homem waydiano que traduzia minhas palavras faladas para o idioma musical dos maldequianos. Suas perguntas visavam, basicamente, descobrir tudo que eu sabia sobre a Federação, a Casa de Comércio de Domphey e a natureza dos que chamavam a si de nodianos. Também me perguntou sobre as lentes do sistema de propulsão de espaçonaves que eu ajudara a construir em Wayda. Quando minhas respostas se tornaram muito técnicas, a Senhora Jorhisa ficou entediada e disse para pôr de lado o assunto.



Mais tarde, fui interrogada sobre esses mesmos assuntos por um maldequiano chamado Vormass, que se comunicava comigo por meio do pensamento. Ele começou dizendo em meu idioma falado que, se eu tentasse mentir para ele de qualquer forma, ele me mataria instantaneamente. Às vezes, ele se enfurecia quando eu não conseguia responder sinceramente uma de suas perguntas mentais ou quando percebia que ele já sabia as respostas e estava perguntando somente para confirmar algo que ficara sabendo de outra pessoa.




Jorhisa achava que estava abaixo dela falar diretamente com uma pessoa inferior e transmitia seus desejos e instruções para pessoas como eu por intermédio de alguns homens terrestres bem-nascidos que atuavam como seus encarregados. A Senhora Jorhisa tinha paixão por música e jogos de azar. Meu talento para o canto chegou a seu conhecimento e fui chamada em várias ocasiões para cantar para ela e seus convidados enquanto jogavam. Nunca realmente contei quantas vezes fui perdida e recuperada pela Senhora Jorhisa devido a apostas. Jogo simples de azar como os jogados com cartas que vocês talvez conheçam não interessavam os que possuíam a capacidade mental de identificar cada carta e sua localização no baralho antes de serem distribuídas.




O jogo mais apreciado por minha senhora maldequiana se chamava Sombras. Era um jogo que envolvia um altíssimo grau de concentração mental e capacidade telepática. O desenrolar e término do jogo eram exibidos numa parede branca na forma de imagens holográficas caleidoscópicas de cores com as sombras correspondentes das imagens. Devo confessar que ainda não sei o que realmente determinava quem vencia ou perdia nesse jogo.



Certo dia, fui informada por um encarregado que a Senhora Jorhisa queria que eu fosse treinada para cantar mentalmente, como era o costume de seu povo. Meu professor era um homem de olhos amarelos chamado Trowfor, de origem mista, terrestre e maldequiano. Na época, achei que certamente não existia uma pessoa mais desprezível em todo o universo. Seu método de ensino incluía longos períodos de privação de sono, comidas de gosto horrível e drogas para supostamente expandir a mente.



Quando me apresentei pela primeira vez utilizando minha nova capacidade de cantar mentalmente, cantei como se estivesse num estado de sonho. Os efeitos dessa música no sistema nervoso de quem era capaz de escutar mentalmente a música eram muito estimulantes sexualmente, chegando ao ponto de produzir orgasmos em homens e mulheres. Como eu não conseguia cantar sem tomar drogas, e sempre existia a possibilidade de eu ser chamada para me apresentar para a Senhora Jorhisa e seus amigos a qualquer hora do dia ou da noite, eu ficava num estado contínuo de torpor induzido por drogas. Minha saúde começou a decair e eu estava literalmente definhando. Quanto mais minha força vital declinava, mais exigiam de mim. Minha morte não surpreenderia ninguém - e mais duas mulheres de Wayda estavam sendo treinadas por Trowfor para me substituir depois que eu morresse.



Certo fim de tarde, sentei-me num canto escuro da sala longe da vista da Senhora Jorhisa e de seus convidados (minha aparência física agora ofendia a senhora). Entre seus convidados havia três que eu nunca vira: um maldequiano de nome Sant, um homem terrestre bem-nascido chamado Tarm e um homem chamado Opatel Cre’ator, que percebi ser nodiano. Os três sempre venciam a Senhora Jorhisa em seus jogos de Sombras de altas apostas. Fui informada de que o terrestre Tarm me ganhara, sem me ver, bem como a vários tipos de animais de criação. Quando os três homens vieram me pegar, ordenaram que eu fosse colocada numa liteira e levada a um carro aéreo. Durante um curto vôo, injetaram-me substâncias químicas neutralizantes que me iniciaram na recuperação de meu vício em drogas. Pouco antes de Sant e Opatel partirem da casa de Tarm, o nodiano bonito veio ao pé de meu leito e colocou um envelope selado sobre meu peito. Sorriu e saiu sem dizer uma palavra. Quando abri o envelope, encontrei um retrato recente de meu irmão Juliopo.




Fiquei aos cuidados carinhosos do tio de Tarm, Bey-Cannor, que era médico e cerca de 20 anos mais velho que eu. Depois de me recuperar, ajudei Bey-Cannor com seu trabalho, e posteriormente nos casamos. Devido aos danos produzidos em meu corpo pelas drogas da Senhora Jorhisa, fiquei estéril.

Passamos a maior parte do restante de nossas vidas colhendo vários tipos de plantas e formulando medicamentos a partir de seus derivados benéficos correspondentes. Descobrimos que certos remédios que tinham sido úteis certa época não apresentavam desempenho tão bom, ou não tinham efeito algum, um ano depois. Outras fórmulas que se pensava serem inúteis às vezes de repente atuavam de maneiras milagrosas.




Fui à aldeia na qual vira pela última vez meu pai, minha mãe, minha irmã Sacriba e minha madrasta Alysybe, mas não os encontrei. De fato, encontrei apenas uns poucos sobreviventes waydianos. Fiquei sabendo que muitas pessoas de meu mundo foram viver entre a gente dos planetóides Sumer numa terra remota a leste. Bey-Cannor prometeu que assim que encontrássemos um meio de transporte para o local onde meu povo vivia agora, iríamos para lá. Foi uma promessa sincera, mas nunca houve meios de materializá-la.

Aproximadamente um ano antes do início das Grandes Catástrofes na Terra, meu irmão Juliopo chegou a nossa casa vestindo um uniforme da Federação. Depois da alegria de nosso reencontro se aquietar, ele me contou que nosso pai morrera, mas ele levara minha mãe e sua mãe Alysybe embora da Terra e as conduziu a um mundo chamado Drucall em outro sistema solar. Ele nos contou que o Planeta Wayda era tão quente agora que nenhuma vida conseguia sobreviver nele. Seus esforços para localizar nossa irmã Sacriba foram totalmente em vão. Ele se ofereceu para levar Bey-Cannor e eu embora da Terra, mas meu marido desejava permanecer em seu mundo natal e eu o amava demais para deixá-lo.




Certo dia, estávamos na selva procurando certas plantas quando o céu se encheu de nuvens escuras e uma chuva torrencial começou a cair, acompanhada de trovões e relâmpagos incessantes. Nosso pequeno grupo de doze catadores de plantas nunca saiu da selva. Morremos em conseqüência dos vapores produzidos pela chuva extremamente quente que caia sobre a vegetação há muito morta sob nossos pés. Os vapores encheram nossos pulmões e adormecemos, morrendo rapidamente. [O marido de Jorhisa estava em Maldek quando este explodiu - W.B.]




VIDA, VIDA, VIDA SOB AS ESTRELAS ETERNAS



Eu, assim como os que falaram antes de mim e os que ainda estão por falar, experienciei muitas vidas no planeta Terra, tanto em ignorância como, em alguns casos, com certo grau de iluminação quanto ao propósito da vida humana no Plano mestre do Criador de Tudo Que É.

Não escolhi falar de vidas que foram influenciadas por condições primitivas e pela ignorância supersticiosa, tampouco escolhi os breves períodos em que vivi nos quais as pessoas da Terra eram capazes de transmitir seus pensamentos umas às outras e às pessoas que viviam em outros mundos.

Minha seleção das cinco vidas que ainda tenho para contar foi feita com o intuito de fazer a relação entre algumas de minhas experiências de vidas passadas e certas pessoas daquela mesma época cuja fama sobreviveu até os dias de hoje.



IMHOTEP (o amado do deus Amon)




As autoridades da Terra situariam a época da qual falarei em algum ponto entre os anos de 2686 e 2613 a.C., embora o período tenha se iniciado cerca de 650 anos antes disso (+/- em 3.340 a.C., 3ª dinastia, Faraó Zoser).



O Sacerdote Imhotep, Grão Vizir do Faraó Zozer, da terceira dinastia em torno de 3.330 a.C.




Meu nome era Naya, a terceira das doze crianças nascidas para minha mãe Sybra e meu pai Harcar. Vivíamos no que era então (e ainda é) o delta fértil do rio Nilo. Quando era criança, eu ficava pendurada, numa cesta feita de fibras de papiro. no teto de nossa casa de tijolos de barro. Depois de aprender a andar, ficava amarrada com uma corda de papiro num poste na frente de nossa casa enquanto minha mãe se ocupava de seus afazeres que incluíam cozinhar, assar pão, tecer e fazer cerveja. Ela era ajudada pelas viúvas dos dois irmãos mais velhos de meu pai, mortos em batalhas contra invasores que entraram em nossa terra vindos do oeste. As cunhadas de meu pai trouxeram cada uma dois filhos para nossa casa. Quando nasci, dois desses meninos já tinham idade para ajudar meu pai em seu trabalho de fabricar adagas, espadas e, de vez em quando, jóias de metal fino. Meu irmão mais velho, Yalput, também ajudava meu pai quando não estava pescando e caçando aves ao longo da margem do rio.




Minhas primeiras recordações daquela vida consistem em minha mãe sempre bradando aos deuses para transformar um de meus irmãos em tartaruga para que parassem de me provocar e puxar minha corda até eu cair. Amarrada num poste próximo havia um cão que ficava fora do meu alcance. Certo dia, o cão roeu sua corda até arrebentá-la e saiu correndo para o rio, retornando depois com meu irmão Yalput. No dia seguinte, também cortei mastigando minha corda e cambaleei até o rio à procura de Yalput. Minha excursão acabou quando entrei na água e atolei na lama. Agarrei-me às hastes de papiro enquanto crocodilos chegavam tão perto que eu conseguia tocá-los. (Passei algum tempo acariciando o focinho de um crocodilo enorme.) Passaram-se várias horas até meu pai me encontrar. Meu escamoso companheiro silvou para ele algumas vezes e foi embora nadando devagar. Foi então que me puseram o nome de Naya, amada de Sobek, o deus-crocodilo. Meu pai jurou que nunca mais comeria carne de crocodilo. Ele fez para mim um bracelete de cobre com a forma de Sobek. Quando cresci, o bracelete não passava mais na minha mão, então, passei a usá-lo pendurado num cordão.




A vida de uma garota pré-adolescente naquela época era passada em sua maior parte em brincadeiras, mas com o decorrer do tempo fui convocada para ajudar as mulheres da casa em suas tarefas e também para auxiliar meu pai ficando sentada diante de um bloco chato de pedra e golpeando pedaços de ouro de formatos estranhos para transformá-los em folhas de ouro. Meu pai comercializava essas folhas de ouro com os carpinteiros reais do rei Zoser, que as usavam para revestir os móveis de madeira que haviam fabricado. Em troca, meu pai recebia pequenas quantidades de prata e cobre, dois metais que ele acreditava serem muito mais valiosos. Claro, os carpinteiros forneciam ouro não refinado a meu pai. Ele se recusava a refiná-lo na presença deles. Seu segredo era utilizar um fole para criar as grandes temperaturas necessárias para fundir o metal. Quando os carpinteiros estavam bem longe da área, ele montava seus foles de couro e tachas de cobre. Sua versão posterior do fole dispunha de uma saída que consistia na imagem em cobre de um crocodilo. Antes de começar a fundir o ouro, ele primeiro se voltava para o rio e gritava: “Sobek, é hora de trabalharmos!”




As meninas ganhavam bonecas feitas por suas mães e os meninos eram livres para perseguir uns aos outros com varinhas. Dessa maneira, logo aprendiam a desviar os golpes de qualquer atacante. Com 14 anos, meu irmão Yalput tinha mais cicatrizes no corpo do que qualquer veterano sobrevivente das recentes guerras ocidentais. O único brinquedo que Yalput teve (se podemos chamar de brinquedo) foi um barco feito de fibras de papiro de cerca de 90 cm de comprimento. Embora o tivesse construído quando tinha menos de dez anos de idade, ele posteriormente o puxava entre as hastes de papiro por uma linha amarrada na cintura. Ele usava esse vaso flutuante para carregar a pesca do dia.




O sexo em idade precoce era permitido, contanto que não fosse um ato incestuoso. Isso é o contrário do que se acredita agora fossem os hábitos sexuais do povo daquela época e local. Muito mais tarde, essas práticas (o incesto) imorais tornaram-se flagrantes.

Certa manhã, pouco antes da aurora, fomos despertados por vozes altas. Essas vozes pertenciam a uma tropa de soldados que estavam procurando recrutas para o exército do Surac (rei). Eles vieram no meio da noite para assegurar que os rapazes em idade de lutar ainda estariam dormindo e não se escondendo deles entre a vegetação do rio.




Apenas Yalput foi recrutado. Ele estava feliz com a coisa toda. Minha mãe chorou e pediu bradando aos deuses que protegessem seu filho do mal. Meu pai foi para sua oficina e voltou com uma espada de cobre muito afiada em forma de foice que fizera para Yalput, prevendo esse acontecimento.




Muitos meses depois, Yalput gravemente ferido chegou em casa nos braços de vários camaradas seus, que também estavam um tanto feridos. Yalput tinha vários cortes profundos e várias cabeças de flecha de sílex ainda cravadas em seu corpo. Meu pai saiu em busca de um médico. Voltou para casa com um velho sacerdote de Amon muito cansado, que ele encontrou cuidando de outros soldados feridos que haviam conseguido voltar a suas casas pelo delta. Ele olhou para meu irmão e seus amigos gemendo e pediu uma taça de cerveja, que tomou, caindo em seguida no sono. Ninguém tentou acordar o velho sacerdote, pois tínhamos esperança de que ele tivesse um sonho no qual o deus Amon lhe diria o que fazer para salvar as vidas de Yalput e seus amigos.




Quando o sacerdote acordou, depois de algumas horas, ergueu-se e entoou algumas rezas, tomou uma jarra de cerveja como pagamento por seus serviços e nos deixou dizendo: “O destino desses jovens repousa agora nas mãos dos deuses.” Minha mãe atirou uma taça de barro nele. Ele não deu atenção pois a taça não o acertou, atingiu a porta de madeira e se espatifou.




Na tarde do dia seguinte, o cão começou a latir. Olhamos para fora pela porta e vimos dois homens, um alto e vestido como nobre, o outro bem mais baixo, muito magro e com a pele escura, vestindo apenas um saiote de couro. As cabeças do dois estavam raspadas à moda dos sacerdotes de Amon. O homem mais baixo acariciava com ternura o cão. Perguntamos aos estranhos o que queriam. Responderam: “Não há homens feridos aqui? Sabber, o sacerdote de Amon, não lhes disse que as vidas deles estavam nas mãos dos deuses?” Enquanto eles falavam, minha mãe começou a se armar com vários utensílios domésticos que podiam ser atirados. Meu pai a conteve com palavras de cautela.




O homem baixo nos pediu para ficar do lado de fora da casa e rezar para os deuses enquanto ele e seu companheiro alto e musculoso entravam na casa e fechavam a porta. Vinte minutos depois eles saíram. O homem baixo deu a minha mãe uma taça de barro que continha as cabeças de flecha que estavam no corpo de Yalput. Ela caiu de joelhos quando viu que a taça perfeita era a mesma que ela quebrara em vários pedaços quando a jogara no velho sacerdote. Os dois estranhos pediram para ficar a sós no quintal e nos disseram para ir ficar à cabeceira de Yalput. Encontramos Yalput e seus camaradas despertos e conversando. Seus ferimentos, antes abertos, estavam fechados agora. Mais barulho fez com que olhássemos de novo o quintal. A área estava se enchendo de soldados e sacerdotes que estavam de quatro diante de nossos visitantes mágicos.




O homem mais baixo chamou minha mãe e lhe deu um cântaro com um ungüento cor-de-rosa, instruindo-a a passá-lo nas feridas daqueles que ele entregara a seus cuidados. Ouvi um soldado de joelhos chamar minha mãe que estava de pé: “Ajoelhe-se, mulher, diante de Zoser, Rei do Alto e do Baixo Egito, e de seu companheiro sagrado Imhotep, bem-amado do deus Amon.” Depois de um instante de choque e confusão, ela caiu de joelhos.




Quando o rei, seus soldados e sacerdotes partiram no lombo de camelos, permanecemos de joelhos com nossas cabeças abaixadas, aguardando que nosso pai nos dissesse quando fosse seguro nos erguermos. Quando ele nos disse para nos levantarmos, imediatamente caímos no chão outra vez, pois diante de nós, sentado sozinho na beirada de nosso poço de água e oferecendo a nosso cão sedento suas mãos em forma de taça cheias de água, estava o homem chamado Imhotep, o bem-amado do deus Amon.

Imhotep chamou meu pai pelo nome suavemente, então disse: “Hacar, venha a mim e traga consigo sua filha que você chamou Naya.” Quando começamos a rastejar lentamente até ele, ele disse mais alto:

“Venham a mim andando.”

Pediu a meu pai que se sentasse perto dele na beirada do poço e a mim que me sentasse a seus pés. Afagou minha cabeça e disse: “Então, esta é Naya, a bem-amada de Sobek, o deus-crocodilo.” Riu e disse:

“Pensei que você fosse coberta de escamas verdes.” Riu novamente quando apalpei meus braços e olhei sob minha túnica para ver se lá havia escamas verdes.

Imhotep não ordenou a meu pai, antes perguntou-lhe com voz suave se ele poderia ir para o sul com ele para fazer ferramentas de metal para cortar pedras. Ele disse a meu pai que estava planejando construir uma mastaba (tumba retangular) de pedra que um dia guardaria e protegeria o corpo de seu amigo, o rei Zoser. Sem hesitar, meu pai concordou em partir imediatamente.




Imhotep se ergueu e disse: “Não, vá dentro de seis dias para o ponto no rio ao sul onde os barcos de coletores de impostos ficam atracados. Traga seus foles e Naya. Nós, que somos amados pelos deuses, devemos partilhar nossa grande sabedoria uns com os outros.”

Imhotep então disse: “Creio que me deve uma caneca de cerveja.” Corri para a casa e voltei com uma caneca cheia da melhor cerveja de minha mãe. Então observamos Imhotep partindo rumo ao sul para se reunir a Sabber, o velho sacerdote de Amon. Imhotep deu a caneca de cerveja ao velho. Continuamos a observá-los até perdê-los de vista.




Em poucos dias, as feridas de Yalput sararam, sem deixar cicatrizes. Mesmo as cicatrizes que ele adquirira em suas brincadeiras infantis de guerra desapareceram. Minha mãe colocou a taça de barro, ainda com as cabeças de flechas, numa banquetinha de madeira no canto do maior cômodo de nossa casa e orava diante dela três vezes por dia pelo resto da vida.

Na manhã do sexto dia depois daquele dia de milagres, meu pai e eu abraçamos todos de nossa casa e iniciamos nossa jornada para o sul. Meu pai carregava um grande fardo nas costas contendo seus foles e pedras de fazer fogo e eu carregava uma cesta de junco com queijo, pão, cebolas e cerveja. Pouco antes de nossa partida, minha mãe disse-nos entre as lágrimas:

“Se encontrarem outros deuses, digam-lhes que nós, nessa casa, sempre fizemos de tudo para servi-los.”




Cerca de uma hora e meia depois, meu pai e eu chegamos ao local onde os coletores de impostos abicavam seus barcos. Lá encontramos, balançando-se suavemente ao ritmo das ondas do rio, um belo navio pintado de vermelho e preto. Uma prancha ia do navio até um pouco antes da margem, o que tornou necessário que caminhássemos dentro da água alguns metros para embarcar no vaso.




Fomos recebidos e saudados por um homem vestido de fino linho branco. Ele perguntou a meu pai se ele era Hacar e se eu era Naya, amada de Sobek, o deus-crocodilo. Meu pai respondeu que sim. Na mesma hora o homem avisou outro que estava na proa do navio: “São eles. Com as bênçãos dos deuses, navegamos rumo ao sul.” O homem na proa gritou ordens, e tripulantes com varas empurraram o grande navio para longe da praia, dentro da correnteza na direção norte da mãe de todos os rios.




Quando nos afastamos da margem, foram estendidos remos e uma vela branca com a brilhante imagem verde e negra de Sobek foi desfraldada, imediatamente se enfunando com o vento que nos levaria a novas aventuras.

Éramos os únicos passageiros, e passamos aquela noite ouvindo os cânticos e canções ritmados dos remadores. Naquela noite, aconteceu algo estranho. Um grande globo de luz se ergueu da água diante de nosso barco e desapareceu a alta velocidade no céu, deixando todos que o viram estupefatos.




Fui despertada pelo som da tripulação do navio descendo a prancha para fazer suas necessidades, se banhar e tomar o desjejum. Seu nobre mestre estava na popa do navio agachado sobre um pequeno braseiro, fazendo o que vocês chamam de tortilhas. Ele nos convidou para nos reunirmos a ele depois de fazermos a necessária visita à praia.




Do alto da prancha, contemplei um panorama do qual nunca me esquecerei. Na colina plana diante de nós, iluminadas pelos primeiros raios do alvorecer, estavam o que a princípio pareciam ser mais três colinas com picos agudos. Duas dessas colinas agudas eram brancas, e a maior das três era vermelha. Um remador que estava na prancha nos esperando descer, para que pudesse ir a bordo, viu o olhar de assombro em meu rosto e apontou para os objetos, proclamando com autoridade: “Essas são as grandes rens (pirâmides) construídas há muito tempo pelos deuses.” Meu pai disse que ouvira falar dessas “montanhas dos deuses” e que ele me contara e aos outros de minha família sobre elas várias vezes.




As Pirâmides de Gizé, hoje sem as coberturas de calcáreo




Recordei-me de que quando ele nos contou sobre essas coisas, eu imaginara que fossem muito distantes de nossa casa, num lugar onde somente os deuses tinham permissão de ir. Na época pensei: terei permissão de ver essas coisas sagradas por ser a bem-amada de Sobek?

À medida que o Sol se erguia cada vez mais no céu, consegui perceber que a maior das rens não era totalmente vermelha, possuindo milhares de símbolos vermelhos pintados que cobriam seus lados.




[Nota: esses símbolos não estavam originalmente na Grande Pirâmide, e sim antes do desaparecimento das duas Atlans (Atlântida). Fui informado que foram pintados na estrutura durante uma das chamadas Eras Douradas ocorridas antes da fundação daquele antigo reino, Atlântida. - W.B.]




No meio da tarde do dia seguinte, nosso navio novamente embicou. Vários outros barcos (não tão grandes como o nosso) estavam atracados, e as tripulações desses vasos descarregavam cargas que eram arrumadas por outros trabalhadores nas costas de mais de uma centena de camelos. Meu pai e eu relutantemente montamos num camelo; era a primeira vez para nós dois. Seguramos firme nos arreios e um no outro enquanto um homem caminhava na frente conduzindo o animal. Depois de entrarmos numa fila única de camelos, ouvimos o soar de tambores, e nossa caravana começou sua jornada para o oeste. Por cima do ombro, dei uma última olhada no belo navio que nos trouxera a este lugar.




Viajamos até o cair da noite e fomos convidados a nos sentarmos junto a uma das muitas fogueiras do acampamento e comer uma ceia de peixe assado com abóbora cozida e cebolas. Alguns dos homens que estavam ao pé da fogueira sabiam que meu pai era fabricante de espadas e o trataram com grande respeito. Vi seus olhos se encherem de orgulho quando anunciou, batendo no peito, que o conhecimento de metais não era sua única dádiva dos deuses, que para ele sua maior dádiva estava aqui entre o grupo na forma de sua filha Naya, amada de Sobek, o deus-crocodilo. Sua declaração foi seguida por sussurros e um número considerável de “oohs” e “aahs”.




Como tinha a palavra, por assim dizer, meu pai contou ao grupo do globo de luz que víramos se erguendo do Nilo na primeira noite de nossa jornada. Todo reagiram, como haviam feito a suas declarações anteriores, mas ficaram sentados como que aturdidos. Um homem se arriscou a dizer: “Apenas os deuses e Imhontep sabem o que era isso.”




Papai então contou toda a visita de Imhotep a nossa casa e o convite que nos fizera para vir trabalhar para ele fabricando ferramentas de metal, O grupo escutou em silêncio enquanto meu pai repetia inúmeras vezes a história. Um dos homens pediu a meu pai permissão para contar uma história sobre Imhotep que ele ouvira há pouco tempo. Seu pedido fez meu pai sentir-se muito importante, e fiquei feliz por ele. Meu pai concedeu sua permissão enquanto uma mulher colocava um fardo de peles de carneiro para nós dois nos sentarmos como convidados de honra, podendo, assim, ser vistos com mais facilidade pelos que estavam sentados mais afastados do centro do grupo.




O homem então começou sua impressionante história. “Ouvi dizer que quando Imhotep nasceu, era como qualquer outra criança, mas ainda muito jovem, os deuses vieram à Terra e o levaram embora. Muitos anos se passaram e, no terceiro ano do reinado do Rei Zoser, Imhotep voltou da morada dos deuses. Seu pai e sua mãe se lembraram dele e se rejubilaram ao vê-lo novamente. Ele lhes disse que os deuses tinham lhe concedido muito conhecimento e o haviam enviado para casa com uma mensagem para o rei. Enquanto Imhotep estava com os deuses, sua pele escureceu muito, e se alguém ousasse olhar para sua nuca, veria os símbolos azul escuro que alguns pensavam dar-lhe poderes divinos.




Quando Imhotep compareceu diante de Zoser, o rei estava de muito mau humor, pois dentes infeccionados o afligiam, já tendo perdido vários deles, sendo quase impossível comer. Se não fosse pela aparência estranha de Imhotep, o rei certamente mandaria bater nele ou até mesmo matá-lo por ousar insistir em uma audiência real. Imhotep pediu para ser deixado a sós com o rei. Quando a corte voltou, encontrou o governante de muito bom humor seus dentes estragados não o estavam incomodando mais, e em uma semana nasceu-lhe outra dentição completa.” O narrador disse então que nada mais tinha a nos contar.




Todos sabiam que, daquela hora em diante, o rei Zoser e Imhotep quase nunca se separavam. Imhotep disse a Zoser que ele não podia fazer e não faria sua magia sob o comando do rei. A princípio, isso perturbou o rei, mas ele depois aceitou as condições de Imhotep que apequenavam seu ego de rei, conferindo-lhe os títulos de Primeiro da Casa Real e Grão-Vizir.

Ao alvorecer, montamos outra vez em nossos camelos e, enquanto prosseguíamos, comemos pedaços de bolo de tâmaras. Antes do meio-dia chegamos a uma área nivelada do solo chamada naquela época o “local do trabalho divino,” hoje chamada Saqqara. Ao chegarmos, o lugar estava ocupado por cerca de 2.500 pessoas, e centenas mais chegaram diariamente por pelo menos uma semana.






Parte da ruínas do complexo de Saqqara, construído por IMHOTEP




Nossa caravana foi recebida por um jovem escriba de nascimento nobre cujo escravo chamava nossos nomes repetidas vezes. Quando nos identificamos, o escriba cruzou os braços sobre o peito e curvou-se como se faz diante de um sacerdote ou nobre. Retribuímos sua saudação.

Fomos levados à única construção de pedra que existia na área, situada atrás de várias colunas. As ruínas de várias outras construções a circundavam, O escriba nos disse que essas estruturas haviam sido construídas no passado muito remoto pelos deuses. Disse-nos também que ali era o lar de Imhotep e nos pediu para esperar. O interior estava vazio, exceto por Sabber, o velho sacerdote de Amon, que dormia profundamente roncando alto.






A Pirâmide Escalonada em Saqqara, e o àtrio de HEB-SED em primeiro plano




Algum tempo depois, o escriba voltou com dois homens que identificou como Subto e Brugrey. Esses homens providenciariam nossa alimentação e abrigo e ajudariam meu pai com seu trabalho. O escriba deu a cada um de nós um rolo de papiro, que devíamos mostrar a qualquer um dos vários encarregados para obter sua cooperação ou auxílio. Não sabíamos ler os hieróglifos nos rolos, mas o que quer que dissessem fazia com que os que sabiam lê-los atendessem com bastante rapidez nosso pedidos.




Meus pai pôs nossos ajudantes a trabalhar a construção de uma casinha de tijolos de barro para nós. Bastou agitar um de nossos rolos para que os tijolos, postes e o telhado de folhas de coqueiro fossem armados em menos de uma hora no local por nós escolhido. Com esses materiais de construção chegaram mais trabalhadores. Ao cair da noite, sentamo-nos junto ao fogo aceso em nosso novo lar totalmente terminado. No dia seguinte, tapetes, cestas e utensílios de cozinha começaram a se acumular diante de nossa porta.




Aproveitando o ensejo. Subto e Brugrey também mandaram construir um abrigo para eles. Logo se reuniram a eles suas mulheres e vários filhos. As mulheres de suas casas cozinhavam nossa comida e lavavam nossas roupas finas de linho, que encontráramos na soleira de nossa porta. Quando meu pai vestia suas belas roupas (o que era raro), era sinal de que não iria trabalhar naquele dia.




Meu pai achou de qualidade inferior os detalhes e a feitura de muitas das jóias usadas pelos escribas e nobres. Ele tinha certeza de que conseguiria fabricar peças bem melhores. Preenchia todo seu tempo livre desenhando e fazendo figuras de barro das quais esperava algum dia fazer moldes. Quando nossa casa ficou cheia de suas criações, ele foi forçado a colocá-las em um poço revestido de argamassa coberto por pranchas de madeira localizado atrás de nossa casa (uma antiga versão egípcia do armário embutido). Menciono esse fato porque uma de minhas esperanças é novamente visitar a Terra quando a Barreira de Freqüência desaparecer e recuperar esses tesouros, que sei ainda existirem no lugar em que meu pai naquela vida originalmente os guardou.




Passaram-se vários meses e a construção da mastaba (tumba) do rei foi afinal iniciada. Meu pai trabalhava em sua forja desde o alvorecer até tarde da noite, produzindo talhadeiras e serras. Numa tarde chuvosa, quando estava sentada conversando com Tunertha, mulher de Subto, sob o telhado que se estendia em frente à nossa casa, o velho Sabber, sacerdote de Amon, veio cambaleando pelo caminho. Usando gestos e palavras ininteligíveis, consegui passar seu recado — que Imhotep queria que meu pai e eu fôssemos a sua casa para uma importante reunião. Pintados no chão da casa de Imhotep estavam os projetos de um ataúde de metal capaz de comportar um corpo humano. Ele queria que meu pai fabricasse doze deles.




A seguir, pediu que eu e minhas servas tecêssemos doze barcos de papiro com tampa que comportassem os ataúdes e que pudessem ser vedados com piche para tomá-los à prova d’água. Descobrimos depois que esses barcos para ataúdes levariam Nilo abaixo doze ancestrais mumificados do rei até deuses que os aguardavam, que os levariam para um além-vida num grande globo de luz.

A história dos “barcos dos mortos” de Imhotep foi transmitida de geração a geração. As pessoas de épocas posteriores colocavam seus mortos, seus doentes graves e seus filhos famintos (em tempos de fome) em barcos de junco, na esperança de que os deuses os tirassem do rio, levando-os para um lugar onde pudessem viver novamente. Está escrito que Moisés, amado do El da Terra, foi colocado no Nilo dessa forma para salvá-lo de ser morto por ordem de um rei.




Cada ataúde e barco de junco que meu pai entregava na casa de Imhotep já tinha desaparecido quando o seguinte era entregue. Embora Imhotep não pedisse mais ataúdes de metal, sua demanda de barcos de junco de vários tamanhos continuou. A área ao redor de sua casa ficou coberta de pilhas deles, um em cima do outro. Nas proas meu pai colocava figuras de metal de animais tais como o íbis, o gato, o morcego e o touro. Dentro da casa havia um número considerável de sacerdotes de Amon sempre às voltas com a mumificação desses mesmos tipos de criaturas, que eram por fim lançadas à deriva no Nilo na primeira noite de lua cheia.




Nos três anos em que nos ocupamos dos projetos especiais de Imhotep, a construção da mastaba do rei Zoser e do átrio de Heb-Sed foi concluída, e o rei corria pelo átrio realizando os rituais destinados a renovar sua força física e confirmar seu direito divino de dominar o Alto e Baixo Egito até a data do próximo jubileu de Heb-sed. Nessa mesma época, minha mãe, quatro de minhas irmãs mais novas e nosso velhíssimo cão vieram morar conosco. Minha mãe também trouxe sua taça sagrada cheia de cabeças de flechas e mais tarde tomou-se líder de um grande grupo de adoradores da taça. Nosso cão desapareceu durante vários dias e, quando o vi de novo, estava na companhia de Imhotep e do velho sacerdote Sabber. Mal se podia reconhecer o velho cão; corria de lá para cá e brincava como um filhote e nunca mais voltou para nossa casa.





Parte do átrio de Heb-Sed em Saqqara.




O tempo se passou e a casa de meus pais ganhou mais cinco crianças. Casei-me com um vidreiro de minha idade trazido a mim certa manhã e apresentado por Imhotep. Depois de dizer que achava que deveríamos nos casar, Imhotep deixou o rapaz de pé em frente de nossa casa, descansando numa perna e depois na outra. Seu nome era Keerey e meu pai imediatamente passou a chamá-lo de Filho. Os dois mais tarde colaboraram na produção de jóias de vidro e metal.




Nos anos que se seguiram, Imhotep ampliou a mastaba do Rei Zoser até transformá-la numa pirâmide de degraus com seis níveis. Três dias depois de a última pedra de revestimento de calcário ser colocada na pirâmide, o rei morreu. Perguntei por que o rei foi enterrado na pirâmide em vez de lançado no rio como seus doze ancestrais. O velho sacerdote Sabber me disse que os deuses viriam mais tarde buscar o corpo do rei. Depois do enterro de Zoser, Imhotep e Sabber desapareceram para nunca mais serem vistos.




Tive três filhos — dois meninos e uma menina. Exceto por Yalput, toda nossa família veio do delta para morar conosco. Ganhávamos a vida vendendo jóias de vidro e metal aos turistas que vinham ver a pirâmide. Acima de nossa porta havia uma placa de madeira com a imagem de um crocodilo e hieróglifos que diziam: “Neste local moram o pai e o marido de Naya, amada de Sobek, o deus-crocodilo.” Vivi até os 68 anos e meu corpo foi mumificado. Em razão de meu status “sagrado,” meu corpo foi colocado numa câmara inferior da pirâmide do Rei Zoser, pois os que sobreviveram a mim tinham esperança de que os deuses o levassem juntamente com o corpo do rei para o céu. Os corpos de meu pai e de minha mãe também foram mumificados e enterrados entre os modelos de formas de barro de meu pai no poço atrás de sua morada.



AMENHOTEP III E AMENHOTEP IV



As pessoas com conhecimento do assunto estão corretas ao situar o reinado de Amenhotep III entre os anos de 1417 e 1379 a. C. Foi durante o governo desse grande rei que nasci outra vez na terra do Egito. Meu nome era Ymet. Minha mãe se chamava Nansa e meu pai, Farneen, era um soldado que foi morto alguns meses antes de meu nascimento. Tinha um irmão mais velho chamado Tobet.




Vivi a maior parte de minha juventude na companhia do segundo marido de minha mãe, Kelneto. Meu padrasto era um capataz que passava seus dias batendo no lombo dos escravos que carregavam cestos de cascalho, retirado dos penhascos rochosos do lugar agora denominado Vale dos Reis, para longe dos locais onde ficavam as tumbas requintadas. À noite Kelneto bebia muito e batia em minha mãe, em meu irmão e em mim.




Meu irmão e eu compartilhávamos o desejo de que os nubios um dia invadissem nossa terra e fizessem nosso padrasto em pedacinhos. Meu irmão Tobet mais tarde o estrangulou até a morte, certa noite depois de ele desmaiar de tanto beber. Meu irmão foi preso por esse crime e sentenciado a trabalhar pelo resto da vida nas minas de cobre ao sul.

Minha mãe relutantemente exerceu o que se denomina agora a profissão mais velha do mundo, e eu arranjei emprego de cozinheira dos pedreiros e artistas que construíam e decoravam as tumbas.




Ao meio-dia eu levava comida para os artesãos que estavam trabalhando nas tumbas. Certo dia, um artista pediu-me para misturar um pouco de tinta para ele, o que fiz. Ele foi comigo até a cozinha do campo e disse ao encarregado que eu trabalharia com ele daquele dia em diante. A partir daquele dia, ele me chamava de Arco-íris por causa das diversas cores que me manchavam as roupas e partes do corpo no final do dia. Eu tinha permissão para entrar em partes da tumba que eram mantidas secretas para os outros. Algumas dessas câmaras ocultas ainda não foram localizadas pelos especialistas da Terra chamados arqueólogos.




Depois de muitos anos, meu irmão Tobet chegou a nossa casa tarde da noite. Estava acompanhado por mais quatro homens que tinham escapado com ele da escravidão nas minas do sul. Quando souberam que eu tinha conhecimento de algumas das câmaras ocultas das tumbas reais, rapidamente fizeram um plano (que me incluía) para roubar de uma das tumbas todo o ouro e jóias que conseguissem carregar. A tumba escolhida por eles foi a de Amenhotep II. Meu irmão e seus companheiros despacharam aos deuses as almas de dois velhos soldados que dormiam na entrada do vale. Na escuridão, ouvíamos os escravos roncando e falando no sonho em suas barracas.




Ao chegarmos à tumba, tivemos a surpresa de encontrar vários jovens nobres já atarefados roubando o lugar. Depois que facas e espadas foram desembainhadas, um dos nobres começou a rir, e depois da troca de algumas palavras, nosso bando ganhou mais quatro membros. Mostrei a meus cúmplices a sala oculta por trás de uma parede de estuque, que eles derrubaram golpeando-a e chutando-a com punhos e pés. A sala não era a câmara sepulcral (localizada, na verdade, vários metros abaixo) e sim uma sala pequena de depósito cheia de milhares de pequenas estatuetas de ouro maciço do rei e dos deuses.




Pilhamos com calma o lugar e ainda assim saímos do vale protegidos pela escuridão. Quando passamos pelos corpos dos guardas, um dos nobres disse: “Vocês os mataram? Enviamos a eles uma garrafa de vinho com remédio para dormir por um escravo e conseguimos passar bem na frente deles.” Seguimos os nobres até uma colina até o lugar em que tinham parado suas carruagens puxadas por cavalos. Puseram sua parte do saque em seus carros e se despediram. Meu irmão e seus amigos encheram um saco grande com ouro e me deram, então se despediram e desapareceram dentro da noite. Fui para casa e enterrei meus ganhos ilícitos no chão de terra de nosso casebre.




No dia seguinte, quando me apresentei para o trabalho, o lugar estava repleto de sacerdotes e soldados. Meu mestre me contou que a tumba fora roubada à noite, mas que não haviam mexido no corpo do rei. Ao longo de todo aquele dia e durante vários dias a seguir, pensei no saco de deuses de ouro sob minha casa. Permitam-me introduzir um pouco de humor nesta altura, fico muito feliz por eles não tirarem impressões digitais naquele tempo. Sei que devo ter tocado ou tentado erguer cada um dos objetos daquela sala.




Aprendi com meu mestre, que se chamava Rort, os significados dos hieróglifos que ele pintara nas paredes das tumbas. Posteriormente, ele permitiu que eu pintasse a arte nas paredes enquanto ele observava sentado, ou dormia depois de uma noite de bebedeira. Afinal, comecei a passar minhas noites na casa de um colega artista de nome Merelre. Nunca nos separamos naquela vida e tivemos quatro filhos: três meninos e uma menina. Nossa casa se localizava a cerca de 90 metros da tumba de Amenhotep II. Eu tinha medo de trazer meus deuses de ouro de volta ao vale, onde o fantasma do rei poderia vê-los, então não os enterrei sob minha casa. Em vez disso, enterrei-os de novo na encosta da colina logo abaixo da entrada do vale.

Quando Amenhotep III morreu, seu cortejo funerário tinha milhares de pessoas. O cortejo entrou no vale acompanhado pelo som de tambores, pratos e sinos, O ataúde do rei era de ouro maciço e sua mobília funerária foi colocada na tumba sob o olhar vigilante da agora viúva rainha Tiye. Sentada em sua liteira coberta, ela segurava um menino pequeno, conhecido depois como Tutancâmon. Embora a rainha fosse bem idosa, dizia que a criança era filho dela e de Amenhotep III.




Sentado em outra liteira estava o filho dela, agora Rei do Egito; chamava-se Amenhotep IV. Nosso novo rei era muito esquisito fisicamente. Ele carregava as coroas do Alto e Baixo Egito num busto em tamanho natural de si mesmo pousado num mastro dourado. Ele agia assim porque se colocasse as coroas na cabeça, não seria capaz de manter para cima seu rosto muito grande e alongado. Quando o vi pela primeira vez, ele vestia um manto branco esvoaçante que lhe cobria todo o corpo.





Busto de Akhenaton/Amenhotep IV, o fundador, entre outras coisas, da Ordem RosaCruz


Quando Amenhotep IV se tornou Faraó (que significa “aquele que vive na casa grande”) recusou-se a ter qualquer relação com seu irmão um pouco mais novo, Príncipe Smenkhkare. Esse irmão depois juntou-se aos inimigos do faraó, que acabaram por derrotá-lo. Em seu primeiro ano de reinado, Amenhotep IV casou-se com a bela Nefertite, filha da irmã de sua mãe. Tiveram seis filhas e três filhos.





Nefertite, a bela rainha esposa de Akhenaton


Todos sabiam que Amenhotep IV era hermafrodita (tinha os dois sexos). Corriam boatos de que conseguia amamentar os próprios filhos. O povo acreditava que isso era verdade e estava totalmente convencido de que as chamadas anormalidades físicas do faraó eram, na realidade, dádivas dos deuses que o tornavam mais divino do que qualquer rei que o antecedera (no que estavam absolutamente certos).




[Nota: como o leitor deve saber, Amenhotep IV (18ª dinastia) aboliu o culto dos inúmeros deuses do Egito, declarando que apenas um único deus, Aton (personificado pelo disco solar), seria venerado na terra. Seriam necessárias centenas de páginas para descrever os problemas acarretados por essa conduta. Amenhotep IV mudou seu nome para Akhenaton (“aquele que serve a Aton”) e transferiu a capital do Egito de Tebas para um lugar onde construiu uma cidade inteiramente nova que ele planejou chamada Aketaton, que significa “horizonte de Aton.” O local onde essa cidade se localiza chama-se atualmente Tell-el-Amarna. - W. B.]




Akhenaton retratado com claros traços femininos, cintura e quadris não são masculinos, sua altura seria de 4,20 metros, um gigante.




Akhenaton convocou todos os tipos de artesãos a ir para o local de sua nova cidade e trabalhar para ele. Meu marido Merelre era membro de uma corporação que jurara obediência ao faraó e ignorava a possível ira dos deuses de antigamente e de seus sacerdotes desempregados, muito faladores e descontentes. Por pouco tempo, o templo de Amon em Tebas permaneceu em funcionamento, até a morte da rainha Tiye. O Príncipe Smenkhkare a princípio desafiou a exigência de Akhenaton de que o templo fosse convertido num local de culto a Aton, mas sob ameaça de morte Smenkhkare saiu de Tebas, vivendo por algum tempo no exílio no delta.




Antes de ir embora do Vale dos Reis, confessei meu crime do roubo da tumba a meu marido. Desenterramos o tesouro dourado e o escondemos em meio a nossos pertences. Fizemos nossa viagem para Aketaton em companhia de centenas de pessoas. Nossa rota era quente, poeirenta e marcada, de vez em quando, pela necessidade de evitar carruagens rápidas e estafetas a cavalo do faraó tanto vindo como indo para a nova capital.

Meu marido e eu nos tornamos especialistas no novo estilo de arte concebida pelo faraó. Atualmente, esse tipo de arte é denominado estilo Amarna.

À medida que a cidade de Aketaton crescia, o faraó se descuidava do reino e, depois de várias rebeliões, foi perdida uma grande porção das terras ocupadas pelo Egito ao leste. Para impedir que as fronteiras do reino encolhessem ainda mais, Akhenaton encarregou do controle total do exército e de muitos dos assuntos de estado um certo Horemheb. Mal sabia que ao fazer isso, favorecia os sacerdotes e seu irmão exilado, o Príncipe Smenkhkare.

A rainha Nefertite ficou muito decepcionada com o marido e suas infindáveis idéias radicais, partindo por longos períodos para morar com seus filhos em Tebas. A aparência física do faraó tomou-se mais grosseira e ele ficou praticamente cego de tanto fitar o Sol durante longos períodos de tempo, em busca de alguma mensagem divina de seu deus.




Meu marido e eu tiramos pedaços de alguns de nossos deuses de ouro e compramos cavalos, que criávamos e vendíamos aos agentes compradores do exército do general Horemheb. Nossas terras aumentaram consideravelmente, bem como nosso número de servos e escravos. Nossa casa ostentava a marca do deus Aton sobre a porta. (Esse ato de colocar esse emblema da proteção do rei em nossa casa seria lamentado depois.)

Certo dia, o rei e vários de seus sacerdotes foram aprisionados por Horemheb numa tumba que estava sendo construída para o rei. Akhenaton e seus sacerdotes não voltaram ao palácio naquela noite, Os soldados de Horemheb lançaram-se a uma orgia de assassinatos que durou dias. Quando vieram a nossa casa, marcada com o emblema de Aton, tentamos primeiro lhes oferecer propinas usando o que restara de nossos deuses de ouro. Depois de ver os ídolos, o capitão acrescentou a acusação de roubo de tumbas à de heresia e ordenou que todos da casa fossem passados à espada, inclusive sua humilde narradora.

Fiquei sabendo depois que o príncipe Smenkhkare subiu ao trono por um período muito breve sendo então sucedido por seu irmão mais novo Tutancâmon. O reinado de Tutancâmon foi seguido pelo de seu velhíssimo tio Aye, alto sacerdote de Amon que depois entregou o trono a Horemheb que, por sua vez, legou o reino a um de seus generais. que ficou conhecido como Ramsés I.

Depois da época de Smenkhkare, os templos de Aton foram outra vez convertidos para servir aos antigos deuses, e o nome Akhenaton foi retirado de todos os monumentos. Dali em diante, referiam-se a ele como o Grande Inimigo. Até sua morte, a rainha Nefertite fez parte da casa de Aye. Duas de suas filhas chegaram a se tornar rainhas do Egito ao se casarem com Tutancâmon e Ramsés I.




[Nota: em razão das longas descrições de Churmay das três vidas que acabamos de apresentar e do fato de o espaço ser limitado, as três vidas restantes por ela selecionadas serão apresentados na forma mais resumida possível, mencionando apenas os destaques que ambos concordamos seriam de interesse para você, leitor. - W. B.]




A GRANDE MURALHA DA CHINA



O ano era aproximadamente 222 a.C. Meu nome era Ting-Sue, caçula de seis filhos. Aos onze anos, casei-me com um homem chamado Key Shi. Dei à luz o primeiro de meus três filhos com a idade de treze anos.

Era a época em que o grande guerreiro e imperador Shih Huang-ti governava a terra. Esse imperador decidiu ligar os muros existentes nas províncias numa muralha contínua que atravessaria toda a extensão do império. Embora sua intenção fosse empregar a muralha para deter invasores, seu objetivo básico era controlar e taxar todo comércio que passasse por qualquer um dos portões estrategicamente localizados.

Durante muitos anos, trabalhei com meu marido e meus filhos como cortadora autônoma em pedreiras. Usávamos cunhas de madeira embebidas em água para soltar blocos do corpo de pedra principal.

Meu marido primeiro fazia um orifício na pedra com um buril e um de nossos filhos ou eu inseríamos as cunhas de madeira e derramávamos água sobre elas. Quando a madeira inchava, os blocos de pedra quebravam em pedaços de tamanhos que poderiam ser carregados para nossa carroça puxada por um boi. Uma carroça cheia entregue no local da construção nos rendia o suprimento de um mês de arroz e vegetais. Às vezes, nossa entrega de pedra era feita em um local de construção próximo e às vezes num bem distante.

Achávamos que tínhamos sorte por não estarmos entre os milhares de escravos forçados a realizar o trabalho físico na muralha. Também nos considerávamos ricos, pois possuíamos nosso próprio boi e carroça.

Os meses de inverno e de primavera eram difíceis para nós, pois as neves frias de inverno e as chuvas da primavera muitas vezes faziam com que nossa carroça atolasse na lama. Certa noite, durante pesadas chuvas de primavera, nossa carroça atolou no lamaçal. Quando procurávamos abrigo sob uma saliência rochosa, apareceu uma luz no céu. Gradualmente ficou cada vez maior, a seguir pairou sobre nossa carroça por cerca de cinco minutos, e então voou para fora de nossa vista. Minha família ficou apavorada. Só eu tive a intuição de que, na verdade, nada havia a temer. No dia seguinte, encontramos nossa carroça no chão seco. O solo pelo qual viajaríamos também estava seco por uma boa distância. Quando contamos nossa história a outras pessoas, pensaram que estávamos loucos, então logo aprendemos a falar do incidente apenas entre nós.

Vivi até cerca de 38 anos e morri de ataque cardíaco enquanto tentava tirar nosso velhíssimo boi de um lamaçal.



CLOVIS (Dinastia Merovíngia)



A época foi por volta de 478. Seu nome era Clovis, o primeiro rei de várias tribos chamadas francas. Ele era tio de minha mãe pelo lado materno, mas isso não fazia diferença ele na verdade nem sabia que ela existia.

Meu nome era Dora e tinha dois irmãos mais velhos. Meu pai, Ambis, era um importante soldado que lutara com Clovis durante suas muitas batalhas vitoriosas contra os romanos e outros chefes tribais francos que não morriam de amores por ele.

O rei Clovis casou-se com uma princesa real da Borgonha e se converteu à sua fé cristã, assim como minha mãe e eu. Nunca tive tanta certeza de nada em minha vida como tive quando aceitei pela primeira vez Jesus Cristo como meu senhor e salvador.

Criei meus quatro filhos na fé cristã e morri de velhice nos braços de meu marido, Bormen.

Quando retornei ao estado aberto e comecei a viver minha vida atual, descobri o desejo universal de a realidade Crística se manifestar totalmente no nível molar de percepção. Estou agora cheia de alegria e esperança de que a energia espiritual que despendi na veneração amorosa do Cristo durante outras vidas que passei na Terra se somará coletivamente à de outras pessoas para tomar esta realidade maravilhosa acessível a todos nós do universo.



SALADIN, O MAGNÍFICO



Meu nome era Taydeena, filha de Shabdar e de sua mulher Nadja. Não tive irmãos nem irmãs. Era o ano de 1188, e o líder islâmico Saladin, o Magnífico tivera êxito em repelir da cidade de Jerusalém o exército cristão da Segunda Cruzada. Eu, juntamente com outras pessoas de minha família de ex-mercadores de lã, fui recrutada para trabalhar na construção e reconstrução dos muros defensivos da cidade (meu trabalho preferido). Um ano depois, aqueles persistentes cristãos uma vez mais chegaram aos portões de nossa cidade sob o comando de Ricardo I da Inglaterra (Ricardo Coração de Leão).

Durante minhas várias viagens carregando água para os trabalhadores da muralha, o próprio Saladin veio inspecionar nosso progresso. Acompanhava-o um jovem oficial chamado Soidulah. Depois de me ver, esse homem disse algumas palavras a seu chefe, e depois só me lembro de fazer parte de um harém muito pequeno composto de outras duas garotas e de mim. Com o passar dos anos, chegamos a dez.

Saladin conseguiu repelir os cruzados outra vez e a seguir assumiu o firme controle da terra do Egito. Soldulah foi indicado para um posto muito alto de oficial e enviado para desempenhar deveres administrativos na cidade de Alexandria.

Certa noite, quando nosso navio se aproximava da foz do Nilo, antes de costear as margens e de navegar rumo a Alexandria, vimos um globo de luz se erguer do rio e voar para o céu estrelado. Convencemo-nos de que o globo de luz era um sinal e uma benção de Alá.

Oito anos depois, Soldulah morreu de repente. Antes de informar alguém, minhas irmãs do harém e eu dividimos seu dinheiro e outros pertences e fugimos em diferentes direções para dentro da noite. Sem saber onde eu realmente me encontrava, fui para o sul de barco.

Durante essa viagem, passei pelas grandes pirâmides de Gizé e experimentei aquela sensação que vocês chamam de déjà vu. Fixei-me numa pequena comunidade grega cristã próximo de Luxor e acabei por casar-me com um homem chamado Callrus. Minha parte da fortuna de Soldulah nos propiciou um início de vida. Vivi até a idade de 83 anos e novamente morri de causas naturais na terra do Egito. (Não acreditem na história do marciano Senhor Sharmarie segundo a qual fui comida por um crocodilo.)



CONCLUSÃO



Atualmente moro, como tenho feito há 187 anos, no oitavo planeta da estrela chamada Thubal. O planeta é Simcarris, o mesmo mundo no qual moram Trome de Sumer e sua família.

Novamente moro com meus pais waydianos originais, bem como com minhas duas irmãs e meus irmãos daquela primeira vida. Todos nós deste mundo estamos comprometidos com a preservação da vida animal e vegetal de nosso sistema solar natal e com o monitoramento das transformações biológicas que ocorrem continuamente nas diversas formas de vida terrestres.

Corno mencionei os ataúdes de metal em cuja fabricação para Inhotep já estive envolvida, acrescentarei que um homem de Sumer disse saber onde um deles está atualmente guardado e providenciará que me seja entregue.



Sou Churmay, de Venus/Wayda

2 comentários:

jaymeholistico@hotmail.com disse...

muito intereçante e alucinante.

jaymeholistico@hotmail.com disse...

gostaria de ter essa memória cósmica também, e saber minha trajetória por éons de existencia, quem sabe não sou venusiano "Wayda" tambem, ou Maldekiano, ou outra raça espacial. eu apelo ao grande Faraó Zozer e sou muito bem sucedido. talvez eu seja da mesma linhagem e não saiba. que venha o tempo das revelações. Ayam.