quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

COM MORTE DO EGO NASCE O “REINO DOS CEUS”

COM MORTE DO EGO NASCE O “REINO DOS CEUS”



ALÉM DO EGO:

NOSSA VERDADEIRA IDENTIDADE

Quando o ego está em guerra, saiba que isso não passa de uma ilusão que está lutando para sobreviver. Essa ilusão pensa ser nós. A princípio, não é fácil estarmos lá como testemunhas, no estado de presença, sobretudo quando o ego se encontra nessa situação ou quando um padrão emocional do passado é ativado. No entanto, depois que sentimos o gosto dessa experiência, nosso poder de atingir o estado de presença começa a crescer e o ego perde o domínio que tem sobre nós. E, assim, chega à nossa vida um poder que é muito maior do que o ego, maior do que a mente. Tudo de que precisamos para nos livrar do ego é estarmos conscientes dele, uma vez que ele e a consciência são incompatíveis. A consciência é o poder oculto dentro do momento presente. É por isso que podemos chamá-la de presença. O propósito supremo da existência humana, isto é, de cada um de nós, é trazer esse poder ao mundo. E é também por isso que nossa libertação do ego não pode ser transformada numa meta a ser atingida em algum ponto no futuro. Somente a presença é capaz de nos libertar dele, pois só podemos estar presentes agora - e não ontem nem amanhã. Apenas ela consegue desfazer o passado em nós e assim transformar nosso estado de consciência. O que é a compreensão da espiritualidade? A crença de que somos espíritos? Não, isso é um pensamento. De fato, ele está um pouco mais próximo da verdade do que a idéia de que somos a pessoa descrita na nossa certidão de nascimento, mas, ainda assim, é um pensamento. A compreensão da espiritualidade é ver com clareza que o que nós percebemos, vivenciamos, pensamos ou sentimos não é, em última análise, quem somos, que não podemos nos encontrar em todas essas coisas, que são transitórias e se acabam continuamente. E provável que Buda tenha sido o primeiro ser humano a entender isso, e dessa maneira anata (a noção do não-eu) se tornou um dos pontos centrais dos seus ensinamentos. E, quando Jesus disse "Negue-se a si mesmo", sua intenção era afirmar: negue (e assim desfaça) a ilusão do eu. Se o eu - o ego - fosse de fato quem somos, seria um absurdo "negá-lo". O que permanece é a luz da consciência, sob a qual percepções, sensações, pensamentos e sentimentos vêm e vão. Isso é o Ser, o mais profundo e verdadeiro eu. Quando sabemos que somos isso, qualquer coisa que ocorra na nossa vida deixa de ter importância absoluta para adquirir importância apenas relativa. Respeitamos os acontecimentos, mas eles perdem sua seriedade plena, seu peso. A única coisa que faz diferença realmente é isto: podemos sentir nosso Ser essencial, o "eu sou", como o pano de fundo da nossa vida o tempo todo? Para ser mais exato, conseguimos sentir o "eu sou" que somos neste momento? Somos capazes de sentir nossa identidade essencial como consciência propriamente dita? Ou estamos nos perdendo no que acontece, na mente, no mundo?

TODAS AS ESTRUTURAS SÃO INSTÁVEIS
Seja qual for a forma que assuma, a motivação inconsciente por trás do ego é fortalecer a imagem de quem nós pensamos que somos, o eu-fantasma que passa a existir quando o pensamento - uma enorme bênção, assim como uma grande maldição - começa a dominar e a obscurecer a simples, e ainda assim profunda, alegria da conectividade com o Ser, a Origem, Deus. Independentemente do comportamento que o ego manifeste, a força motivadora oculta é sempre a mesma: a incessante necessidade de aparecer, ser especial, estar no controle, ter poder, ganhar atenção. E, é claro, a necessidade de experimentar uma sensação de isolamento, ou seja, de oposição, de ter inimigos. O ego sempre quer alguma coisa das pessoas ou das situações. No caso dele há sempre um plano oculto, um sentimento de "ainda não é o bastante", de insuficiência e falta, que precisa ser atendido. Ele usa as pessoas e situações para conseguir o que deseja e, até mesmo quando é bem-sucedido, nunca fica satisfeito por muito tempo. Em geral, vive frustrado com seus objetivos - na maior parte do tempo, a lacuna entre o "eu quero" e "o que acontece" torna-se uma fonte constante de aborrecimento e angústia. A clássica canção dos Rolling Stones (I Can’t Get No) Satisfaction ("Não consigo ter satisfação") é sua música. A emoção subjacente que governa todas as atividades do ego é o medo. O medo de não ser ninguém, o medo da não-existência, o medo da morte. Todas as suas ações, enfim, destinam-se a eliminar esse temor. No entanto, o máximo que o ego consegue fazer é encobri-lo temporariamente, seja com um relacionamento íntimo, a aquisição de um novo bem ou tendo um bom desempenho numa coisa ou noutra. A ilusão nunca nos satisfaz. Apenas a verdade de quem nós somos, se compreendida, nos libertará. Por que o medo? Porque o ego surge pela identificação com a forma e, na verdade, ele sabe que nenhuma forma é permanente, que todas elas são transitórias. Assim, há sempre um sentimento de insegurança ao seu redor, mesmo que externamente ele pareça confiante. Certa vez, quando eu caminhava com um amigo numa linda reserva natural próxima a Malibu, na Califórnia, chegamos às ruínas do que fora uma casa de campo, destruída pelo fogo décadas atrás. Aos nos aproximarmos da propriedade, toda cercada de árvores e de plantas magníficas, vimos, ao lado da trilha, uma placa que as autoridades do parque haviam colocado ali. Nela estava escrito: "Perigo. Todas as estruturas são instáveis." Comentei com meu amigo: "Este é um sutra profundo." E ficamos parados, impressionados. Depois que compreendemos e aceitamos que todas as estruturas (formas) são efêmeras, até mesmo os materiais aparentemente sólidos, a paz surge dentro de nós. Isso acontece porque o reconhecimento da impermanencia de todas as formas nos desperta para a dimensão do que não tem forma no nosso interior, o que está além da morte. Jesus chamou isso de "vida eterna".

A NECESSIDADE DO EGO DE SE SENTIR SUPERIOR
Existem muitas formas sutis de ego que, mesmo sendo tênues, podemos observar com facilidade nas pessoas e, mais importante, em nós. Lembre-se: no momento em que nos tornamos conscientes do nosso ego, essa consciência emergente é quem somos além do ego, o "eu" profundo. O reconhecimento do falso já é o surgimento do real. Por exemplo, imagine que você está prestes a contar uma novidade a alguém. "Já sabe o que aconteceu? Não? Vou lhe dizer." Se estiver alerta o suficiente, no pleno estado de presença, será capaz de detectar um rápido sentimento de satisfação dentro de si imediatamente antes de dar a notícia, até mesmo se ela for má. Isso ocorre porque, por um breve momento, existe, aos olhos do ego, um desequilíbrio a seu favor na relação entre você e a outra pessoa. Durante esse instante, você sabe mais do que ela. Essa satisfação provém do ego e ela surge porque sua percepção do eu é mais forte em comparação com a outra pessoa. Ainda que o interlocutor seja o presidente ou o papa, você se sente superior a ele naquele momento porque sabe mais. Esse é um dos motivos que fazem com que muita gente se vicie em fofoca. Além disso, a fofoca costuma carregar um elemento de crítica e julgamento malicioso dos outros. Dessa forma, também fortalece o ego por meio da superioridade moral imaginada, que fica implícita em toda apreciação negativa que fazemos de alguém. Se uma pessoa tem mais, sabe mais ou pode fazer mais do que nós, o ego se sente ameaçado porque o sentimento de "menos" diminui sua percepção imaginada do eu em relação a ela. Assim, ele pode tentar se recuperar procurando, de algum modo, criticar, reduzir ou menosprezar o valor das capacidades, dos bens ou dos conhecimentos desse indivíduo. Ou pode mudar de estratégia: em vez de competir, vai se valorizar por meio da associação com essa pessoa, caso ela seja considerada importante aos olhos dos outros.


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Texto extraído do livro “O DESPERTAR DE UMA NOVA CONSCIÊNCIA” de Eckhart Tolle
Publicado por Rochel Aim Uo – CGR-MS-SK em segunda-feira, 31 de janeiro de 2011 - 17:18:12Hs.

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