quarta-feira, 6 de maio de 2009

O LIVRO ( sem nome ) - PRIMEIRA PARTE/CONTINUAÇÃO 03/6

O LIVRO ( sem nome ) - PRIMEIRA PARTE/CONTINUAÇÃO 03/6

PRIMEIRA PARTE

continuação 03/06



- Afff Maria mimosa, já estou ficando ansiosa, disse Lúcia se aconchegando mais na manta que lhe cobria.



- Está cansada menina? Podemos parar por agora e em outra hora continuaremos. A noite já se faz presente.



- A noite e estas imensas corujas também. Como gritam...



- Não estão gritando, estão falando. Falam alto apenas.



- Falando? Você entende o que elas dizem?



- Filha, não vamos derivar. Eu gostaria de deixar registrado os acontecimentos que são neste momento os mais importantes. Em outra hora falaremos sobre as corujas, certo?



- Está bem então. Vou preparar um novo chimarrão, colocar mais lenha no fogão e já volto para você continuar me contado.



Enquanto Lúcia ia tomar estas providências, Walkyria perdeu-se nas lembranças.



Como foi bom o tempo em que podia privar da companhia de seu amigo Mário. Aprendera tantas coisas com ele. Mário lhe ensinara o sentido exato, o valor real do Amor Incondicional.



Ainda que do lado de lá não existisse a idade cronológica a ser considerada, pela sua sabedoria, pelo seu aprendizado, Mário era "mais velho".



Havia sido ele o mestre que lhe ensinara a magia que existe no ato de amar. Mário havia forjado a forma de ser da Walkyria criança.



E foi com um sorriso nos lábios que desta vez Lúcia a encontrou.



- Boas lembranças mimosa?



- Sim querida, lindas e doces lembranças. Nestes poucos momentos voltei a ser menina e a recordação das chamadas que levei, seja dos meus pais ou das freiras do colégio que freqüentava, alegraram meu coração.



- Ficou alegre em se lembrar que foi chamada à atenção?



- Sim linda, veja como as pessoas pré julgam baseadas nos conceitos do certo e do errado que elas mesmas criaram.



- Como assim? Não entendi.



- Lúcia, por eu ser menina somente poderia brincar de brincadeiras de menina. Ter bonecas, pentear os cabelos das bonecas, ser “mamãe” era o máximo aceitável.



- E o que tem de errado nisso?



- Nada, não tem nada errado. Mas você acha que está certo o limite que me impunham? Lógico que eu gostava de bonecas. Lógico que eu gostava de ser “mamãe”. Mas eu gostava dessas brincadeiras quando estava brincando com as meninas. Brincadeiras reais com meninas reais, entende? Porém querida, não era com estas amiguinhas que eu brincava a maior parte do meu tempo.



- Brincava com Mário, e este não gostava de brincar de bonecas, certo?



- Certíssimo. Mário gostava de me ensinar empinar pipa, rodar pião, jogar bolinha de gude. E era isso o que eu mais gostava de fazer. Estar com ele e com ele ficar, esta sempre foi a minha prioridade.



- E você brincava sozinha. Quer dizer, para os olhos do mundo você estava sozinha.



- Sim. Foi então que comecei a ser julgada como uma tímida e solitária criança. Mas foi aqui também que conheci aquele que viria a ser o pai de meus filhos.



- Qual era a sua idade na época?



- Dez anos. Estudava em um colégio de freiras somente para meninas. E naquele ano as freiras resolveram aceitar meninos também. E veio estudar na minha sala o pai de meus filhos. Te conto isso para que lá na frente você entenda o que vou explanar.



- Está ótimo. E o que mais vai contar agora sobre ele?



- Ele tinha onze anos e eu dez anos. E tínhamos uma característica comum : éramos super arteiros.



- Bah! mimosa, imagino o que deviam aprontar.



- Sim, nos tornamos companheiros inseparáveis no colégio. Disputávamos nos estudos, um querendo saber mais do que o outro. Este é o lado positivo.



- E qual era o negativo?



- Negativo mesmo, nenhum. Nos divertíamos muito, desde subir na árvore de jabuticaba e ficar lá comendo escondido das freiras, até pisar no véu que cobria a cabeça da professora de francês para sabermos se freira raspava careca ou não.



- E era careca a freira?



- Qual nada. Tudo fantasia. Ela tinha sim uma linda cabeleira. Mas o importante e que gostaria de registra é que na vida real ele foi o meu primeiro amigo. E durante toda a minha juventude, neste plano, meu único amigo.



- E o conceito que faziam de você ser tímida e solitária, foi superado?



- Foi nada. Piorou até. Ele e eu éramos muito unidos apenas durante o período escolar. Quando voltávamos para casa, íamos cada um para seu lado. Na verdade eu não tinha tempo para ele, e acredito que a recíproca era verdadeira. Quando eu saia dos olhos das freiras, podia ser eu mesma. Eu e meu amigo Mário. Passei então a ser vista como “duas caras”. Uma no colégio e outra fora dele. E confesso que nunca dei importância a nada disso.



- Hum, formamos conceitos e criamos preconceitos sem nem mesmo saber o todo. Isto é bem a cara do ser humano.



- Que nos levou a tantos erros e tantos desmandos. Mas está para terminar. Está para ser eliminada esta energia escura. O véu de nossas lembranças irá cair e voltaremos a origem, sabedores de quem somos, de onde viemos e porque aqui estamos.



- É este Tempo que aguardo que chegue. E logo!



- Vai chegar princesa. Ou melhor, já chegou. Logo todos poderão acessar.



- Está bem querida, mas enquanto não posso acessar, conte-me mais de tua história.

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