quarta-feira, 27 de maio de 2009

O LIVRO ( sem nome ) - TERCEIRA PARTE

O LIVRO ( sem nome ) -

TERCEIRA PARTE



Enquanto Walkyria aguardava Lúcia tomar seu café da manhã ficou sentada à sombra do flamboyant ouvindo o cantos dos pássaros neste mais um despertar no Reino Encantado.



A Natureza é pródiga e perfeita. Depois de uma noite onde as sombras do passado não lhe permitiram o descanso que seu corpo físico requeria, o amanhecer com todas as suas cores e o Sol que despontava no horizonte, vinham preencher sua Alma de luz e calor, afastando as sombras e levando embora a dor.



Seu olhar alcançou o guanandi, a árvore que pertence ao Rei Menino. Lá estava ela, forte, garbosa, dominando aquela parte do jardim. Suas raízes haviam penetrado no solo primeiro timidamente, mas no depois, ao ser tratada, amada, acarinhada, ganhou força.



O Amor em Ação!



Somente através do Amor em Ação é que tudo floresce. Seja uma pequena flor, um pequenino animal do tamanho de seu cachorrinho Pitchi, a Criança que sua Alma abriga...absolutamente tudo precisa do Amor em Ação.



Ganhos e perdas. Viver neste plano é vivenciar esta dualidade. Ganhar ou perder...tanto faz. A Vitória que nos arremete a Felicidade, precisa passar por estas duas situações. Ás vezes para podermos entender que somente seremos vitoriosos quando nossa prioridade for o Amor, e ganharmos a Felicidade, precisamos passar pela Dor da perda.



Hoje, sentindo-se perdedora, sentindo-se sem rumo e sem prumo pois a mão que a guiava foi retirada, a Rainha Menina busca em seu Coração o sentimento de Esperança para um recomeçar. Novamente sozinha. Nem mesmo o lenitivo das lágrimas que ajudavam no desafogar de sua tristeza se permite mais. Foi quando Lúcia chegou e perguntou:



- Então mimosa? Chorando novamente?



- Ah criança, vê alguma lágrima correndo pelo meu rosto?



- E precisa querida? O brilho em teus olhos se apagaram. Isto me dá a certeza de que muitas lágrimas estão sendo derramadas em teu Coração.



- Lúcia menina amada, atente para o que vou te dizer. Esta foi uma noite sombria, o vento soprava forte, não havia estrelas no céu. Nuvens escuras passavam ligeiras. O céu chorou, uma chuva fininha e gelada. Olhe como está ele agora. Límpido e azul. Olhe o Sol como está radiante. Se as árvores do nosso jardim se curvaram sob o vento raivoso, no agora estão novamente viçosas pois se curvaram, mas não foram derrubadas. E puderam receber a água, o liquido da Vida, e agora com o Sol aquecendo o solo, irão deste retirar o alimento que precisam para continuar crescendo, indo rumo ao infinito céu.

Observe a Natureza e verá Deus/Deusa AMOR em Ação. Assim estou eu, menina.

Olhe aquele guanandi, pois ele sou eu. Da mesma forma que ele cresce bravamente, que com as intempéries se curva mas não cai. Estou sofrendo no Agora a Dor da Perda. Curvo-me ante ela, a aceito em todo o seu esplendor, mas não caio. Eu sei que um dia alcançarei o Céu pois

EU SOU o Amor em Ação.



- De que perda está falando mimosa?



- Não é esta a hora de falar de minhas perdas. Vou falar de meus ganhos. Vou continuar te contando sobre o Cezar. Pode ser?



- Claro que sim. Mesmo porque te conheço e sei que não vai adiantar nada eu insistir em saber de outras coisas – disse Lúcia rindo.



- Pois então continuemos. O Cezar estava tão bem que no dia seguinte à cirurgia, quando pela previsão médica deveria estar na UTI, já estava andando pelo corredor do hospital. Logo pela manhã, na sexta feira, recebeu alta.



- Não apresentou nenhuma seqüela?



- De comportamento não. De visível apenas perdera o movimento da sobrancelha direita, do lado onde fora aberta a sua cabeça.



- E o tumor, era benigno?



- Não querida, era malígno. Câncer. Soubemos o resultado na semana seguinte, quando voltamos ao hospital para continuar o tratamento. Foi quando o médico prescreveu vinte e quatro aplicações de radioterapia. Nesta oportunidade, Maia pegou todos os resultados radiológicos mais a prescrição destas aplicações e mandou para os EEUU no que era na época reconhecido como o melhor centro de tratamento de câncer.

Enquanto aguardávamos que fosse feita a máscara para ser usada durante as aplicações, chegou o parecer médico lá dos EEUU: o procedimento estava correto. Seriam mesmo necessárias as vinte e quatro aplicações.



- Puxa, que pena. Tantas aplicações deixariam o Cezar careca com certeza. Mas desde que ficasse livre totalmente do câncer, valia a pena.



- Está certa querida. A Vida é e sempre será mais importante do que qualquer restrições físicas que possamos ter. Mas não foi isso o que aconteceu com ele.



- Não ? Como não?



- A rotina era a seguinte. Uma vez por semana ele fazia a aplicação de radioterapia, e em seguida fazia uma tomografia. Na quarta semana, na quarta aplicação, após ter feito a tomografia, o médico responsável sai da sala abraçado com ele e diz:

- Walkyria, não me pergunte o que aconteceu porque não sei, mas não será mais necessário a aplicação de radioterapia. Posso te dizer com segurança que teu filho está curado.



- Oras vivas, finalmente a Alegria.



- Sim menina, foi realmente um momento mágico.



- E as seqüelas que ficaram? Teve alguma?



- Novamente tenho que te dizer que físicas não. O movimento do rosto no geral voltou. E os cabelos também. Mas ficou uma situação emocional que se socialmente falando é de difícil gerenciamento, posso dizer que até mesmo impossível, no meu enfoque é hoje sua melhor virtude : o Cezar não mente!



- Mais que maravilha. E ser verdadeiro, dizer somente a verdade, atrapalha em que?



- Ah Lúcia, vivemos em uma sociedade mentirosa. O trato entre as pessoas é sempre revestido de uma “aparente verdade” para se conseguir o fim determinado. Comercialmente então, nem se fala. E o Cezar fala a verdade. Fala sempre. E te desmente se você falar algo que ele sabe ser inverdade na frente dele. Pergunta na maior inocência:

- Porque está falando isso? Sabe que é mentira.

Para ele não importa que seja uma mentira sem conseqüências maiores, é mentira e ele diz:

- Mentira!



- É, realmente para o profissional, nesta sociedade imoral que está implantada no Planeta, o Cezar é um “peixe fora d´água”. Mas no trato pessoal, familiar, como é o procedimento dele?



- Bem, vou te contar um fato para que entenda melhor. Meu centro emocional sempre foram os meus filhos. E eu acredito que dizer TE AMO seja necessário dizer enquanto podemos fazê-lo. São duas palavrinhas que exprimem TUDO. Você pode até pensar que não há necessidade de rotineiramente falarmos, mas se ponderar que chegará o momento em que não nos será mais possível nem falar e nem ouvir, sentirá que tenho razão. Assim, nunca me despedi de meus filhos, e agora da minha neta, seja por telefone, por escrito, e até mesmo pessoalmente sem declinar meu sentir.

TE AMO, para mim resume TUDO.

O Cezar nunca havia dito estas palavras, nem para mim nem para ninguém.



- Nunca disse que te amava?



- Não. Eu perguntava para ele o porquê de ele não dizer e a resposta era :

- Mãe, não sei o que é amar. Como posso dizer TE AMO se eu não conheço este sentimento?



- Meu Pai, o Cezar não conhece o que é amar?



- Não conhecia criança. Um dia, quando ele tinha 18 anos, telefonou para mim e disse:

- Mãe, agora eu sei o que é amar. Estou te ligando para dizer TE AMO.



- Nossa, que delicia!



- Foi mesmo. E no agora, vem até meu quarto antes de se recolher, pergunta se preciso de alguma coisa e diz:

TE AMO mãe.



- E como foi que ele descobriu este sentir?



- Não sei Lúcia. Não perguntei. O importante para mim é que descobriu. Mas vou te contar um outro fato relacionado ao Cezar, que você vai ficar triste comigo porquê não questionei no momento certo.



- Então tem relação com espiritualidade!



- Sim, tem. Vou te contar.

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