sexta-feira, 8 de maio de 2009

O LIVRO ( sem nome ) PRIMEIRA PARTE/CONTINUAÇÃO 04

O LIVRO ( sem nome )

PRIMEIRA PARTE/CONTINUAÇÃO 04





- Quero que entenda Lúcia, que apesar de sofrer dores físicas, apesar de ter que superar minhas impossibilidades a cada movimento que fazia, ainda assim ou apesar de, até os meus quinze anos eu fui a criança mais feliz que acredito possa ter havido neste plano.



- Coloca nesse tempo mesmo a época em que não podia andar?



- Sim, mesmo este tempo. Eu não nasci paralítica. Até os três anos eu andava e corria. Mas também caia e me machucava. Dos três anos até os sete anos eu não podia andar, nem correr, e nem mesmo brincar com as outras crianças que estavam sempre temerosas de brincar comigo, vamos dizer assim.



- Não acredito mimosa que insista em dizer que foi feliz neste tempo.



- Lúcia menina amada, posso eu dizer que era infeliz por não andar se tinha alguém que vinha e dizia: Me dê sua mão irmãzinha, vamos voar. Filha, eu não podia andar,mas eu podia voar! Entende?



- E como entendo... E quando voltou a andar, como foi? Pergunto por que sei que naquela época não havia um tratamento específico para poliomielite.



- Bem minha filha, agora vou te falar de outro conhecido teu. O Tião, lembra dele?



- Claro! Aquele que está sempre junto de você e que nos dá recados. Adoro ele!



- Pois é linda. Naquele tempo ele estava encarnado. O nome dele era e eu continuo ainda a chamá-lo de Sebastião. Meu tio Sebastião. Tião é por tua conta - acrescentou rindo. Era um pediatra muito competente que amava sua profissão. Tio Sebastião tomou-me a seus cuidados. Muita fisioterapia, muitos exercícios. Segurando-me pelas mãos me fazia andar descalça e na grama.



- Na grama? Porque na grama?



- Dizia ele para meus pais que pisar na terra massageava os pés e que nos pés estavam todos os pontos importantes do organismo humano. Estimulando estes pontos estimularia a musculatura de minhas pernas. E eu dava longas caminhadas diariamente na grama. Hoje sei que não passavam de alguns metros, mas na época me pareciam quilômetros.



- Então foi assim que voltou a andar?



- Quase assim. Claro que foi um tratamento fisioterápico como um todo. Mas posso te afirmar que andei mesmo, andei sozinha e sem apoio, quando enterrei meu medo.



- Pode explicar melhor mimosa. Essa não entendi.



- Nessa época eu já tinha sete anos. Vivia entre dois mundos. O mundo real, onde tio Sebastião me orientava, e o outro mundo, onde eu voava junto a Mário. O mundo real me assustava. Neste mundo eu conhecia o que era ser limitada fisicamente. Conhecia a dor da tentativa e do fracasso. No outro não. No outro eu tinha a mão de Mário que me dava prumo e rumo. Preferia aquele. Melhor dizendo, somente aquele.



- Tinha medo e não sabia lidar com ele.



- Sim, eu tinha medo. E foi então que tio Sebastião me fez uma proposta.



- Proposta ou desafio?



- Não, proposta mesmo. Ele me deu uma pequena caixa, papel e lápis. E disse para que eu escrevesse: aqui enterro meus medos. Escrevi e ele mandou que eu colocasse na caixa. Assim o fiz. Estávamos na praia. Carregando-me no colo levou-me até um lugar onde a areia era molhada. Lá chegando começamos a fazer um castelo.



- Ah, eu sei como é. O castelo que fazemos pingando a areia molhada. Já fiz muito disso também.



- Exatamente. Fui fazendo o castelo e tio Sebastião disse : faça um fosso bem fundo. Vou tomar água de coco e já volto. E foi. Quando ele se retirou Mário veio ao meu encontro. E ficou comigo, rindo das minhas tentativas de fazer um castelo alto.



- O fosso nem pensar né querida? Queria mesmo era fazer um alto castelo e subir nele e sair voando – disse Lúcia rindo.



- Pois acertou desta vez menina. Foi quando o Mário me chamou pela primeira vez de “minha amiguinha”, dizendo: “Você está crescendo e tem um sentimento que tem que crescer junto com você : FÉ. É este sentimento que afasta o medo, pois este medo te faz menor pois é comandado pelo ego. Me foi permitido ser aquele a te ensinar tudo sobre o Amor o sublime sentimento que elimina a Dor. Agora é tua vez minha querida amiguinha. É tua vez de mostrar que apesar de estar encarnada, você tem Fé, acredita no teu Eu Crístico, que é Energia do Pai, e que tudo pode. Se acreditar irá vencer”.

E eu fiz o fosso. Bem fundo como meu tio pediu.



- Ai que lindo. Bem que eu gostaria de estar lá para ver tudo isso.



- Tio Sebastião voltou, e ao ver meu trabalho disse: Agora você vai enterrar teus medos. Coloque a caixinha dentro desse fosso e cubra com bastante areia. E assim o fiz. Titio então me colocou em pé e afastou-se alguns metros, indo na direção do mar. Virou-se, estendeu os braços e disse: Venha filha!



- E você foi? Conseguiu?



- Não de pronto. Disse : tenho medo. Ele respondeu: não o tem mais, você o enterrou lembra? Olhei além de titio e lá estava Mário sorrindo. Mentalmente, pois era assim que nos comunicávamos ele perguntou: E FÉ, você tem minha pequena amiga? Então eu andei. Tropegamente no começo mas com confiança logo após. Fui ao encontro deles. Enterrei o Medo com minha Fé. E foi assim que voltei a andar.



- Oh meu Pai. Para um pouco para eu respirar.

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