sexta-feira, 15 de maio de 2009

O LIVRO (sem nome) - SEGUNDA PARTE / CONTINUAÇÃO 04

SEGUNDA PARTE

continuação 04





- Casou para ter filhos.



- Sim, na minha época isso de produção independente não era aceitável.



- E você acha que foi “aceitável” casar-se sem estar vivenciando o Amor Pleno?



- Não, hoje posso te dizer que não com muita segurança. Mas também posso te dizer que nunca enganei pois deixei claro os meus motivos. E veja menina, também ele deixou claro os motivos dele. Não houve manipulação de sentimentos. Ouve apenas a intenção maior de dois amigos, que acreditavam não poderem vivenciar desta vez o Amor Pleno, de unirem-se para constituir uma família onde os filhos teriam de nós todo o Amor e dedicação.



- Estabeleceram uma sociedade de fato e de direito.



- Sim, uma sociedade onde o Ser seria prioritário, pois naquele momento era no que acreditávamos.



- E foi rompida esta sociedade quando ele passou a valorizar mais o Ter.



- Isso. Vejo que você entendeu.



- E quando você ficou sozinha, responsável pela formação de teus filhos, foi difícil?



- Sim Lúcia, foi muito difícil. Em todos os aspectos foi difícil, principalmente no emocional. Não por mim, e já te expliquei os motivos. Mas pelas minhas crianças, que estavam sendo vitimadas pela minha inconseqüência ao pensar ser possível uma relação baseada apenas na amizade.



- Entendo. Mas isso não justifica você não ter se interessado em estudar a espiritualidade, saber mais e praticar. Estava tendo tantas provas...



- Lúcia, também disse para você que nunca aceitei de ninguém nada material. Já te expliquei também que o poder que o dinheiro dá sobre o outro torna para mim a convivência insuportável. Sempre trabalhei para manter meus filhos e a mim. E agora, com esta situação formada, sentia-me na obrigação de não ser apenas a mãe, mais também o pai. Eu não sabia como lidar com isso. A fuga foi o trabalho. Agora me sentia na obrigação de desempenhar também o papel do homem, entende? E não tinha mais tempo para nada.



- Nada? Nem mesmo uma missa já que você resolvera fazer da religião católica o teu caminho?



- Não menina. Coloquei meus filhos em colégio de padre, onde eles puderam ter noção de religiosidade.



- E teus filhos seguiram esta religião?



- Somente o Junior. Se você perguntar qual é a religião dele, responderá : católico. Mas não professa a religião, não é um católico atuante, digamos assim.



- E os outros?



- Nem mesmo primeira comunhão fizeram. Você acredita que quando eu quis que Marcus Vinicius fizesse a primeira comunhão, fui procurar a paróquia de nossa região. E lá o padre me informou da impossibilidade pois ele era filho de pais separados. Pode uma coisa destas? Não sei como anda as normas de agora, mas foi assim naquele tempo.



- Então eles não tem nenhuma formação religiosa?



- Eles tem noção do que seja a religião católica. Estudaram em colégio de padre como disse. Porém, muito mais do que formação religiosa, eles possuem a formação do Ser. O Marcus tinha como “amigo invisível” quando criança ainda um menino que ele chamada de meu amigão Jesus. Batia longos papos com este amigo. Lembro de um dia, ele tinha em torno de seis anos, estava no box tomando banho, e a fumaça foi deixando os vidros embaçados. Eu escutava ele rindo muito, falando alto, e entrei vagarosamente no banheiro para ver o que estava acontecendo. Ele fazia desenhos no vidros. E dizia para “seu amigo Jesus” : adivinha o que é? Sai sem atrapalhar a brincadeira que durou algum tempo. Agora me diz, quem tem um AMIGO deste precisa de orientação externa sobre religião?



- Conhecendo teu filho posso dizer que não!



- É verdade, não precisou não. Tem suas falhas, tem seus defeitos como todos nós. Mas no quesito SER ele é dez. Sabe, vou te contar outra passagem do viver do Marcus, que acho muito engraçada.



- Conta mimosa, alegria é comigo mesmo!



- Certa vez fomos passar uns dias no Rio de Janeiro. Estava chovendo e não deu praia. Um bando de crianças e sem ter o que fazer. Saíram eles para lanchar e Marcus voltou com um livreto e cartas de tarô. Entrou no apartamento falando alto como é seu jeito e foi logo dizendo: - Mãe, tem uma cigana que disse que vai me ensinar jogar cartas de tarô. Vou para o quarto aprender, não deixe ninguém me incomodar. E foi.



- A cigana foi junto?



- Deve ter ido, pois somente ele a via. E deve ter ido porque algum tempo depois ele abre a porta e diz : - Já aprendi, quem quer que eu jogue? E foi assim que passamos aquele dia chuvoso. Ninguém mais reclamou.



- Nossa, que lindo. Ele ainda joga?



- Não Lúcia. Nega-se. Por dois motivos : diz ele que fica sabendo o que não quer, e também que dá muita confusão.



- Confusão?



- Sim menina. Marcus vai falando logo o que está vendo. Certa vez, a última vez na verdade que ele abriu tarô para alguém, foi na praia. Defronte do nosso apartamento tem aquelas barraquinhas que vende lanches. Marcus, para ajudar uma “tia” e também para comer lanche de graça verdade seja dita, ele ia lá todo final de tarde e ficava jogando tarô para os clientes. Depois que acertou qual seria o sexo de uma criança que estava para nascer, pronto! A noticia começou a se espalhar e foi quando veio uma senhora pedido para ele ver se o marido lhe era fiel.



- Ai meusssdeusessss já imagino!



- Imaginou certo. Ele abriu o jogo e foi logo dizendo:

- Olha, eu sinto muito. Mas teu marido te trai. A senhora ficou uma fera, dizendo que ele estava enganando, que era mentiroso. E isso menina, o Marcus não aceita. Foi então que ele respondeu : Está bem então. Vá em tal lugar a tantas horas e terá a prova.



- E a mulher foi?



- Foi, e comprovou.



- E ela voltou para pedir desculpas?



- Não. Quem voltou foi o marido, que nada mais era que o delegado de policia da região.



- Nossa! O Markito foi preso?



- Não minha linda. O delegado quase foi é linchado. Mas Marcus desistiu de ler tarô

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