terça-feira, 19 de maio de 2009

O LIVRO ( sem nome ) SEGUNDA PARTE/CONTINUAÇÃO 07

O LIVRO ( sem nome )

SEGUNDA PARTE

/CONTINUAÇÃO 07



- Manda ver mimosa. Estou curiosa e é bom aprender.



- Bem, vou te contar um fato que fez reascender em mim as lembranças que eu havia trancado dentro da minha pirâmide de cristal. Dentro de mim. A menina que havia sido moldada pela ajuda espiritual através principalmente do Mário. Fiquei sabendo que havia um senhor de nome João que tinha um centro espírita no qual aconteciam curas importantes. E lá fui eu atrás do homem.



- Centro de mesa branca, igual ao da sua avó.



- Não filha. Era uma outra linha de trabalho, uma coisa que nunca vi nada parecido. E olha que eu já havia visto tanta coisa... Aquele centro era debaixo da terra.



- Como assim? Debaixo da terra? Não entendi.



- Vai entender. Vou descrever. O atendimento era feito na casa dele mesmo. Casa térrea. Ao lado das dependências de moradia ele construiu um grande salão para atendimento público.



- Normal, disse Lúcia.



- Sim, normal como tantos outros. Mas havia em um dos cantos desta sala uma porta que permanecia fechada. Por ela só adentravam poucas pessoas.



- E você foi uma delas.



- Sim. E foi surpreendente, confesso. Atrás da porta tinha uma escada. Comecei a descer a tal escada. Era estreita, e havia nichos nas paredes. Em cada um deles uma imagem. E um patamar. Parávamos e o senhor João pedia permissão para eu continuar descendo. Depois fiquei sabendo que se fosse negado pela entidade eu não poderia continuar. Mas fui descendo mais e mais. Bem fundo. Muito fundo.



- Nossa. E não foi faltando ar se era tudo fechado?



- Não querida, não foi. Era quente e abafado. Mas dava para respirar tranquilamente.



- E quando chegou lá embaixo, o que havia?



- Uma sala linda. Grande. Imagine uma clareira e estará vendo a imagem correta. Alta e espaçosa. O mais lindo disso tudo era a fonte que tinha no meio dela.



- Fonte? Jorrava água?



- Sim querida. E a fonte era construída de pedras. De pedras do mundo inteiro, conforme o senhor João contou. Ele as havia trazido de suas viagens com esta finalidade. O senhor João pegou um pouco desta água, e com ela me benzeu.



- Ele estava incorporado com alguma entidade?



- Não Lúcia, nunca o vi incorporado. Era ele mesmo. O ato de me benzer foi também simples, mas carregado de muita energia. Dava para sentir a energia rolando em torno de mim.

Em seguida subimos para o salão, e lá o senhor João disse:

- Amanhã, logo nas primeiras horas do amanhecer, precisamos ir à praia. Pode vir me buscar? Respondi que sim, e no dia seguinte, madrugada ainda fui buscá-lo e rumamos para Santos.



- Walkyria, me diz uma coisa. Você contou para ele o problema do Cezar? Ele te conhecia?



- Nem uma coisa nem outra. Ele apenas sabia meu nome, e sem sobrenome. E não foi possível falar do Cezar, pois fui deixada por último para ser atendida, e logo fui para o salão debaixo da terra.



- Mas e você? Não perguntou nada, não quis saber de nada?



- Não querida. Eu respeitei como sempre procuro respeitar o momento de cada um. Se eu estava ali é porque havia um motivo. Se ele não perguntou, é porque eu não precisava dizer. Então...



- Tá bom! Mas e sobre o local em si, sobre a energia que sentiu quando ele te benzeu, você também não perguntou?



- Lúcia querida, nada pode me deixar “deslumbrada”. Ainda é assim. Quem como eu teve a graça de estar com Mário na outra dimensão, não consegue ver na materialidade nada que me desperte o “Oh, que coisa”. Tudo o que se passa aqui, neste plano, não me encanta. Eu tenho a noção exata da transitoriedade. Agora, o estágio que algumas pessoas, o senhor João inclusive, alcançou na espiritualidade, isto sim me encanta, e por isso te relato.



- Entendo. Continua então contando sobre a praia.



- Como eu ia dizendo, nem bem a noite estava indo embora e lá estava eu buscando o senhor João e fomos para Santos. O David dirigia, eu estava no banco da frente e o senhor João atrás, em silêncio. Pensei até que estivesse adormecido. Estava quieto e quieto todos ficamos até chegarmos na baixada santista. Quebrando o silêncio, diz o senhor João : - Entre a direita. Entrar a direita queria dizer ir em direção as praias do litoral norte de São Paulo. E lá fomos nós. Quando chegamos em uma praia que tem o nome de Mongaguá ele voltou a falar e disse: - Entre com o carro na praia. O David entrou e perguntou : - Para a direita ou para a esquerda. E ele respondeu: - Para o lado que quiser. David entrou para a esquerda e foi em frente. O senhor João voltou a falar dizendo: - Pare onde quiser, onde achar melhor. David percorreu alguns metros mais e parou. Descemos.



- E o que aconteceu?



- O senhor João ficou andando de um lado para outro. Depois foi até o carro, pegou uma maleta, tirou um enorme facão e vindo em minha direção disse: - Atire onde quiser.



- E você ?



- Atirei oras. Joguei longe. Na hora pensei em jogar no mar. Mas depois, alguma coisa me fez jogar na areia. Eu sentia que tinha que jogar na areia onde tem aquelas eras que crescem na areia. Nem sei se são eras. Mas são matos que crescem na areia das praias. Entende?



- Entendo sim.



- Pois é. Atirei e o facão ficou enterrado na areia. O senhor João virou-se para mim e disse : - Venha. E se dirigiu para o local onde estava o facão e eu junto com ele. Em lá chegando ele começou a assobiar de mansinho. Não uma música, apenas um assobio. Enquanto ele assobiava o mato que cobria a areia começou a se mexer. E as cobras foram chegando...uma, duas, três.



- Cobras? E você saiu correndo?



- Não criança. Fiquei maravilhada com o que estava acontecendo. São estas coisas que me encantam, não outras.



- E as cobras chegaram até você?



- Não! Foram direto para ele. Ele então se abaixou, e assobiando ainda bem baixinho, estendeu o braço. E as cobras se enrolaram no braço dele e ficaram quietinhas. Olhou para mim e disse:

- Arranque o facão da areia e no mesmo lugar vá cavando um buraco.

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