sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O OURO ESCONDIDO - A PROJECÇÃO DO DIVINO

O OURO ESCONDIDO - A PROJECÇÃO DO DIVINO
por Emídio de Carvalho
www.emidiodecarvalho.com




Uma das melhores formas de aprender psicologia é, sem dúvida, observando atentamente a forma como as pessoas trocam o seu ouro interior, o que de mais sagrado possuem. É disto que trata a alquimia. O ouro interior é todo o valor incalculável que existe na nossa pessoa, enquanto ser humano total. É a nossa alma, o Eu Superior, o Eu Eterno. É o presente de 24 quilates que possuímos. E todos possuímos este Ouro Interior. Não é criado, mas tem que ser descoberto.
Falar de ouro desta forma é, em verdade, falar de Deus.
Quando acordamos para uma nova possibilidade nas nossas vidas, vemos este ouro primeiro nos outros. Uma parte de nós, que esteve escondida, está prestes a emergir, mas não surge de uma maneira linear do subconsciente para o consciente. Viaja através de um intermediário, um hospedeiro temporário.
Projectamos o nosso Ouro noutro, e, sem nos apercebermos, somos consumidos pela presença desse outro. A primeira pista é sempre a nossa percepção que nos mostra a outra pessoa como sendo luminosa, com um brilho especial. Isto é um sinal real de que algo está prestes a mudar em nós e que estamos a projectar o nosso Ouro noutro.
Quando observamos, e atribuímos, certas qualidades noutro, vemos a nossa própria profundidade e significado. O nosso ouro viaja assim, primeiro para outro e só depois vem até nós. Ao projectar o nosso Ouro Interior oferecemo-nos uma oportunidade de despertar a nossa consciência.
Até à Idade Média nós projectávamos o nosso Ouro bem para dentro das igrejas.
Deus encontrava-se enclausurado. Ninguém era obrigado a transportar o Ouro de outro. Mas para conseguirmos todos os avanços tecnológicos que hoje temos, tivemos que dividir o mundo à nossa volta. Nunca conseguiríamos ser competitivos com uma mente medieval. O preço que pagamos por esta competitividade é a solidão e uma incapacidade para amar na totalidade. Quando amamos limitamo-nos a apaixonar-nos, e neste processo transferimos para outro o nosso Ouro Interior. É aqui que surgem os nossos problemas, a diferenciação entre o mundo interior e o mundo exterior. Estamos agora na fase em que é importante abraçar o exterior para podermos fazer as pazes, e amar, o interior.
Na Índia existe, ainda hoje, o mundo exterior. Este mundo, Maya, significa literalmente “ilusão” – considera-se uma ilusão porque na verdade não está fora de nós, mas simplesmente é projectado para fora de nós. Nós vemos apenas aquilo que projectamos.
Quando descobrimos que projectámos o nosso Outro noutro, para que no-lo mostre e guarde enquanto nos preparamos para o receber, poderemos responder de muitas maneiras. Podemos ir ter com essa pessoa e dizer-lhe “significado da minha vida apareceu-me agora no brilho dos teus olhos. Poderias devolver-me o meu Ouro agora?” Isto é uma maneira de dizer “eu dei-te o meu Ouro Interior, importas-te de o carregar por mim durante algum tempo?” O problema é que raramente conseguimos ver as coisas como elas são de verdade.
O mais provável é escondermo-nos dessa pessoa, sentirmo-nos assustados e comportarmo-nos de maneira estranha a nós mesmos.
Ou então apaixonamo-nos pela pessoa. Neste caso falamos com a pessoa animadamente, contamos histórias engraçadas, sorrimos estupidamente, tomamos um café e depois vamos para o trabalho ou para casa, sentindo-nos cheios de energia, alegria e uma sensação que apelidamos de “mor”(não o é).
A troca de Ouro Interior é um processo misterioso. É o nosso Ouro, mas é demasiado pesado para o transportarmos, daí precisarmos que alguém o carregue por nós enquanto nos preparamos física e psicologicamente para o receber. E aquele que carrega o nosso Ouro parece-nos cheio de significado e seguimo-lo aonde quer que ele vá. O seu sorriso deixa-nos felizes, o seu semblante carregado aterroriza-nos.
Assim é o poder deste significado.

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