O LIVRO ( sem nome ) - PRIMEIRA PARTE
Primeira Parte
Entardecia. A brisa forte do outono soprava por entre as folhagens amareladas, espalhando as folhas secas. A luz do sol abria passagem timidamente por entre os arvoredos, não conseguindo aquecer as mãos e nem tampouco o coração de Walkyria.
Como sonhara com o reencontro com Mário. Como buscara por toda parte a figura amada. Tudo inútil.
- Nunca mais! Nunca mais poderei acariciar seu rosto amado, beijar seus olhos, sentir seu perfume. Nunca mais abraçarei seu corpo sentindo o pulsar de seu coração junto ao meu.
Era muito cruel esta constatação, e ela curvou-se ao seu desespero, permitindo que as lágrimas rolassem em sua face livremente.
Como é doída a saudades. Ela tentara esquecer. Tentara racionalizar e entender que tudo não passava de um sonho.
Havia se casado, gerado três lindas crianças, possuía bens, posição social. O que mais poderia querer da Vida?
Em seus momentos de solidão vinha-lhe a memória o riso doce de Mário ao lhe chamar de Linda Minha enquanto lhe acariciava o corpo com ternura e sofreguidão.
Os anos foram-se sobrepondo e com eles a rotina de um casamento sem amor. Ficava cada vez mais difícil para Walkyria a coexistência pacifica com seu esposo, tornando-se apenas formal o relacionamento.
Arrependia-se por não haver esperado a chegada de Mário em seu viver. Fora sua inabilidade com a Vida, a cobrança da sociedade para que constituísse família, que a havia levado a tomar a decisão de contrair matrimônio.
A decisão estava tomada. Casaria, teria filhos, e à eles dedicaria todo o amor que permeava seu Ser.
E assim o fez, encarcerando dentro de sua Alma seu querer maior, seu sonho de viver o Amor Pleno com aquele que não sabia onde estava, mas que sabia com toda a certeza que somente aqueles que amam possuem, que em algum lugar estaria e que um dia se reencontrariam.
No agora estava sozinha. Sozinha e perdida na imensidão da propriedade, que ao invés de lhe trazer conforto a sufocava com sua grandeza.
Quando se preparava para levantar-se do gramado onde se sentara à sombra do flamboyant, sentiu uma mão suave a lhe tocar os ombros.
Virou-se e deparou-se com Lúcia, sua amiga e confidente, a quem amava como uma filha, a filha que não lhe fora permitido ter.
- Desculpe se a assustei. Estava passando por aqui e vim te visitar minha mimosa. E te encontro assim, tão emocionada. Chorando pelo teu Mário?
- Sim, chorando pelo meu Mário. Já faz muitos anos que choro esta saudades. E você é a única testemunha desta minha verdade.
Suspirando fundo disse a menina:
- Talvez então seja hora de você me explicar algumas coisas que ainda não entendi direito.
- Talvez seja mesmo. Talvez seja este o momento de abrir meu coração para que entenda os meus porquês.
- É isso mesmo o que penso. Vamos então conversar – respondeu ela séria.
- Vamos sim. A tarde está fria. Aceita tomar um chá bem quentinho?
- Claro que sim. De preferência um chimarrão. Pode ser minha mimosa? – respondeu com delicadeza e carinho.
Sentaram-se frente a frente, ao pé do fogão a lenha, e enquanto Lúcia preparava a cuia perguntou:
- Diz para mim minha querida, já fazem alguns anos que te ouço falar do teu Mário. Fala de maneira tão convincente deste teu amor que passei a acreditar na existência real desse homem. Começa então me explicando se ele existe mesmo ou se é apenas fruto de tua imaginação.
- Se ele existe? É esta a tua dúvida? Pois te respondo que sim. Ele existe. Não é apenas um sonho. Ao contrário, é ele a minha realidade.
Olhando o rosto emocionado de Walkyria, Lúcia considerou:
- Vamos tomar o chimarrão. Ambas estamos precisando. Quero saber tudo, com detalhes.
Walkyria sorveu alguns goles, e passando a cuia para Lúcia procurou acalmar-se. Depois, sentindo-se mais encorajada, iniciou o relato de sua história de Amor.
- Eu era ainda uma menina, mal tinha completado 15 anos, quando me perdi de Mário.
- Perdeu-se como? Quem os apresentou? Ele te abandonou?
- Pode-se dizer que sim. É preciso que conheça um pouco da história da minha vida para que entenda o que vou te contar.
- Pois pode começar minha mimosa. Adoro ouvir tuas histórias.
- Não será uma história que desta vez vou te contar. Será uma verdade que irei historiar. Mas é importante que se predisponha a acreditar.
- Claro que acreditarei. Nunca tive nenhum motivo de duvidar sequer de uma palavra tua minha mimosa querida.
- Prepare mais um chimarrão, agasalhe tuas pernas e acomode-se. Será longo meu relato.
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