sexta-feira, 14 de outubro de 2011

**QUER LER COMIGO ? A SOCIEDADE SECRETA DE JESUS - ROMÉRO DA COSTA MACHADO - CAPÍTULO III - A SOCIEDADE SECRETA DE JESUS

**QUER LER COMIGO ?

A SOCIEDADE SECRETA DE JESUS

- ROMÉRO DA COSTA MACHADO -

CAPÍTULO III -

A SOCIEDADE SECRETA DE JESUS



No ano sete a.C., data em que, segundo o conhecido astrônomo britânico da Universidade de Cambridge, Colin Humprey, em 1991, e confirmado por antigos astrônomos chineses, teria havido um cometa bastante visível, formando um brilho todo especial no céu, na noite de 08 para 09 de novembro, nas montanhas da tribo de Judá, na Judeia, nascia o primogênito de Isabel e Zacarias, um menino que iria mudar o mundo, chamado João (Batista).

No ano seis a.C., data em que, segundo o astrônomo alemão Johannes Kepler, houve a conjunção de Júpiter e Saturno, formando um brilho todo especial no céu, como se fosse um cometa ou uma lenta estrela cadente, na noite de 19 para 20 de abril, em Cafarnaum, na Galileia, nascia o primogênito de Maria e José, um menino que iria mudar o mundo, chamado Jeshua, e que para nós é simplesmente: Jesus.

(Notas do autor: 1) O monge Dionísio, o Pequeno, (500-545 d.C.) cometeu um erro de cálculo na determinação do ano zero, entre 6 a 8 anos. 2) A igreja, impossibilitada em determinar com precisão o dia exato do nascimento de Jesus, e submetida às leis de Roma, acatou a data de nascimento de Jesus como 25 de dezembro, fixada entre 525 d.C. e 533 d.C., para celebrar uma festa pagã de Roma (e não religiosa) que tinha como motivo a confraternização da felicidade, semelhante ao natal de hoje em dia. Chamava-se "Dies Natalis Invicti".

Primas entre si, Isabel e Maria tiveram uma sina de vida muito semelhante, isto porque os primos João (que o mundo viria a conhecer por João Batista) e Jesus, criados juntos como irmãos, tiveram vidas bastante próximas e entrelaçadas e que muitas e muitas vezes e em momentos absolutamente decisivos para os dois e para toda a humanidade protagonizaram uma das mais fantásticas vivências experimentadas pelo ser humano.

Por enorme coincidência, os pais de João Batista (Zacarias) e de Jesus (José), tiveram sérias e quase que irreconciliáveis dúvidas a respeito de suas paternidades e da fidelidade de suas mulheres. Isto porque Zacarias, pai de João Batista possuía idade muito avançada para ter filhos, e sua esposa Isabel era considerada estéril, pois apesar das inúmeras tentativas, jamais havia engravidado na juventude e na maturidade, e não era imaginável que justamente agora, em idade avançada, estar esperando um filho.

José, por sua vez, tinha semelhantes suspeições a respeito de Maria, pois sendo ela uma moça muito jovem, e ele com idade bem superior à dela, não conseguia entender como após tanto tempo de casada, Maria ainda permanecia como se fosse virgem. (E daí a sua dúvida, pois se mesmo depois de casada ainda aparentava "virgindade"... como acreditar que quando havia se casado era virgem de verdade?)

À época, não se conhecia e sequer se falava em hímen complacente (que não se rompe e retorna ao seu estado anterior, mesmo após a relação sexual, mantendo uma impressão de permanente virgindade). Mas, no entanto, após o parto de Jesus, constatando José que ainda assim Maria aparentava virgindade, conforme continuou, apesar dos vários filhos que Maria teve, José passou a acreditar que algo diferente havia com a "virgindade" de sua esposa, e que a sua aparente virgindade não deveria ser empecilho para seu relacionamento com tão devotada esposa.

Com o tempo, as dúvidas sobre possíveis infidelidades que assombravam Zacarias e José finalmente foram sanadas e os relacionamentos com Isabel e com Maria, foram restabelecidos sem as suspeições de traição que pairavam no ar. E isso trouxe um grande alívio para ambos, pois Zacarias era um sacerdote, um fervoroso religioso, e José, que apesar de um humilde camponês, tinha profundo respeito e devoção pelas leis religiosas. E estas leis religiosas eram bem claras em relação às mulheres infiéis: Deveriam ser apedrejadas e mortas publicamente. E, logicamente, pelo amor que devotavam às suas esposas, ambos não queriam ler que fazer cumprir as leis divinas que determinavam a morte de ambas por apedrejamento.

Restabelecer o convívio matrimonial foi mais do que um alívio imenso para Zacarias e para José, pois foi também, coincidentemente, um restabelecimento de suas saúdes. Vez que, por motivos inexplicáveis, Zacarias havia perdido a voz e José passara a ter sua saúde bastante debilitada, sem ânimo sequer para o trabalho. E o restabelecimento das relações conjugais de ambos resultou no coincidente restabelecimento da saúde de ambos. Pois Zacarias recuperou sua voz e José voltou ao trabalho com o ânimo que antes havia perdido.

Pela época do nascimento de Jesus, em Cafarnaum, no norte, na região da Galiléia, apareceram uns pregadores religiosos, praticando a catequese e falando de um novo mundo, um novo porvir. Iam de casa em casa, vestiam seus paramentos religiosos, suas mitras (chapéus pontudos semelhantes aos chapéus de magos) e iniciavam suas pregações. Falavam de um novo Deus, uma nova consciência, uma nova ordem religiosa, e como era hábito nas pregações de nômades vindos do oriente, faziam uma série de previsões de futuro para os moradores que os recebiam em troca de abrigo e comida. Até que deparando-se com o recém nascido, Jesus, foram tomados por uma intensa energia, um grande impacto e comoção. E como que inspirados ou tomados por entidades divinas começaram a falar torrencialmente e a fazer profecias a respeito do recém nascido, principalmente em razão de seu nascimento ter coincidido com a grande luminosidade do céu causado por uma luz que não sabiam bem como explicar.

Entre as profecias que faziam para o recém nascido, uma assustou muito a José e Maria. Exatamente a que predizia que Jesus viria a ser um rei, que mudaria o mundo, iria trazer muita paz, mas que antes disso seria responsável por muita dor e sofrimento. (As profecias eram muito comuns na época, e ainda hoje em dia o são — não sob o nome de profecia, mas como adivinhações ou "previsões do futuro" — pois muitas predições ou previsões são feitas simplesmente por dinheiro ou para angariar simpatizantes para seitas, ordens e religiões, e em geral dificilmente qualquer dessas previsões se concretiza)

José, apesar de camponês, bronco, estava acostumado com previsões, vez que era muito comum a prática de adivinhação ou premonição em troca de alimentos. Entretanto, embora respeitasse e temesse certas previsões, como a maioria das pessoas, ficou muito assustado e situado entre o medo de estar traindo a sua religião judaica (por estar dando ouvidos à religiosos de outra agremiação religiosa) e a possibilidade de seu filho vir a ter um trágico destino messiânico.

Então, José, usando como pretexto a possibilidade de poder vir a se concretizar a profecia dos religiosos, e isso tornar-se um risco para seu filho e para a sua família, diferentemente das outras vezes em que José insistentemente tentou mudar-se para Belém, sua terra natal, José aproveitou que dentro de alguns meses seria a época de recenseamento judaico, instituído por Roma para poder aumentar a coleta de impostos, José passou a pressionar Maria para que ambos fossem para Belém.

Após alguns meses, com muita insistência, José conseguiu convencer Maria de que deveriam aproveitar a oportunidade do recenseamento e irem juntos para a sua terra natal, Belém, na Judéia, afastando-se, desta forma, de Cafarnaum, na Galileia, e da proximidade de Herodes, o Grande, que poderia vir à saber da tal profecia messiânica dos religiosos da nova ordem e insurgir-se contra seu filho, considerando-o como uma ameaça ao império de Herodes, o Grande.

Embora Maria não acreditasse piamente que isso fosse possível, pois aquela deveria ser mais uma das tantas profecias que são feitas diariamente, a cada pessoa, em troca de alimentos ou algum outro pagamento e que nunca se concretizam, Maria, entre a dúvida e o medo, concordou com a mudança para Belém e a longa viagem (cerca de 150 km, ou dois a três dias de viagem).

Das vezes anteriores em que José quis mudar-se de Cafarnaum para Belém, Maria sempre demonstrava má vontade com a viagem e recusava insistentemente alegando, principalmente, que não podia viajar em razão de sua gravidez. Mas agora, diante de uma ameaça de perigo real, e com o filho (Jesus) já com alguns meses de vida, Maria poderia, finalmente, atender à vontade de seu marido e ir a Belém, ao menos por um breve período de tempo.

Procurando pousada em Belém, José e Maria buscam ajuda com parentes, em especial na casa da prima Isabel. E ao visitarem a casa de Zacarias e Isabel algo de inusitado aconteceu. Pois o primeiro encontro entre João Batista e Jesus foi arrepiante para os pais de ambos. Isto porque, Zacarias e Isabel incentivavam a aproximação entre os primos e tentando ensinar João Batista a falar corretamente o nome de seu primo Jesus (Jeshua). Ficavam repetindo: — "Seu primo, Jeshua (Yeshua), Jeshua (Yeshua), Jeshua (Yeshua)".

Subitamente João Batista balbuciou algo como: — "lesthus", e abraçou Jesus apertado para só largá-lo após grande insistência dos pais.

Foi um espanto geral, pois o que João falara ("lesthus") tanto poderia ser "Jeshua" (Yeshua), como poderia ser "Ichtus", que em grego significa "Peixe". Ou... o final da palavra "Christus". Foi algo tão inesperado e surpreendente que ninguém sabia o que realmente havia sido balbuciado por João Batista e a estranha razão de tamanha afinidade assombrosa, repentina e imediata entre João Batista e Jesus.

Embora isso possa parecer algo comum entre crianças, e até mesmo possa acontecer muitas e muitas vezes entre pessoas, o olhar de admiração de João Batista para Jesus e a paixão instantânea que foi estabelecida entre ambos foi algo que tornou-se marcante para os pais de João Batista e de Jesus que chegou a assombrá-los, assustando-os mesmo.

Esse vínculo inexplicável entre João Batista e Jesus, como se fossem "duas almas gêmeas", dois irmãos inseparáveis de outras vidas, viria a se estender por toda a existência de ambos.

Já havia se passado mais de seis meses do encontro de José e Maria com os religiosos da nova ordem mitral, quando Herodes, o Grande, por reclamação de religiosos hebreus, temendo a concorrência de novas e proibidas religiões, com adorações a novos deuses, toma conhecimento de que alguns religiosos de terras distantes, do Egito e da Índia, estavam profetizando sobre gente do seu povo.

Chamados ao palácio de Herodes, o Grande, os religiosos da nova ordem mitral apresentam-se a Herodes, o Grande, mas nada do que foi dito por eles era novidade ou coisa que já não tivesse ouvido. Eram as religiosidades de sempre e as previsões habituais, das quais ele, Herodes, estava cansado de ouvir. Aparentemente, eram só mais uns profetas e visionários, iguais aos demais que trocam previsões por dinheiro ou alimento, exatamente iguais aos tantos que existiam espalhados da Judéia à Galileia. Entretanto, um detalhe não escapou de Herodes, o Grande: O fato de que entre as previsões havia uma que detalhava sobre um dos primogênitos recém nascidos na Galileia que um dia viria a ser rei.

Percebendo que Herodes, o Grande, havia se interessado em especial pela profecia do novo rei e que hipocritamente mal disfarçava sua ira ao solicitar aos religiosos mitrais que fossem até Cafarnaum e Genesaré, recomendando que fossem até a criança que viria a ser rei e trouxessem-na para que ele mesmo, Herodes, o Grande, adorasse o "futuro rei".

Foi o suficiente para que os religiosos mitrais percebessem as reais intenções de Herodes, o Grande.

Uma vez percebido as intenções mal ocultadas de Herodes, o Grande, demonstrado por um incontido rancor sobre a possibilidade de haver um rei ameaçando seu trono, os religiosos da nova ordem, com a consciência pesada pelo possível mal que tal previsão poderia causar, partem então em busca dos pais de Jesus para alertá-los sobre o descontentamento de Herodes, o Grande, e de uma possibilidade de vingança ou retaliação sobre o "futuro rei".

Como José, Maria e Jesus não foram encontrados em Cafarnaum ou em Genesaré, os religiosos mitrais começam então a perguntar sobre o paradeiro deles, até que são informados por amigos que a família havia se mudado para Belém.

Como Belém ficava no sul, no exato caminho para o Egito, de onde os religiosos mitrais haviam vindo, eles foram até Belém, sua passagem obrigatória, e por estranha coincidência encontram-se com José em um mercado público (uma espécie de feira) e alertam do acontecido no palácio de Herodes, o Grande.

Assustado, e temendo por sua família, José convence Maria a fugir mais uma vez, posto que agora o perigo não era só uma suposição, era real. E, aceitando a oferta de abrigo e esconderijo oferecido pelos religiosos mitrais preparam-se para uma fuga para o Egito, longe do alcance de Herodes e seus filhos, que dominavam a Judéia e a Galiléia.

Temendo também pela vida de João Batista, seu sobrinho, filho de Zacarias e Isabel, de quem tanto havia recebido ajuda, José tenta convencer Zacarias e Isabel a deixar João Batista fugir com eles para o Egito, uma vez que, segundo os religiosos mitrais, Herodes, o Grande, iria mandar matar todos os primogênitos nascidos nos dois últimos anos para evitar que um rei nascesse em seu reino.

Sabendo que João Batista, agora com pouco mais de um ano, se ficasse em Belém, iria ser morto pelos guardas de Herodes, o Grande, pois João Batista era somente quase seis meses mais velho do que Jesus, Zacarias consente em que João escape com os tios para o Egito. Entretanto, Zacarias recusa-se a ir junto, pois sendo um sacerdote muito conhecido em Belém e pelo fato de ter tido um filho já em idade avançada, com uma mulher tida como estéril, e que o fato do nascimento de seu filho ser de grande conhecimento público, Zacarias preferiu ficar em Belém, com Isabel, e simular a morte do próprio filho, para garantir a sua sobrevivência no Egito.

Nesse meio tempo, de fato, Herodes, o Grande, manda vasculhar seu reino, da Galiléia à Judéia, em busca do tal primogênito que poderia um dia vir a ser um rei. E após longa e incessante busca, frustrada em seu intento em localizar o "menino-rei", e sentindo-se traído pelos religiosos mitrais, que poderiam ter advertido à família do menino sobre as suas reais intenções, eis que ele chega à conclusão de que não tendo sido possível localizar pacificamente o tal "futuro rei", a única solução seria mandar matar todos os primogênitos, da Galiléia à Judéia, que tivessem menos de dois anos de vida.

Ensandecido, Herodes, o Grande, passa das palavras à ação e determina a "matança dos inocentes". Algo dantesco, inimaginável, uma chacina terrível, cruel. Eram mães e pais desesperados, vendo seus filhos sendo arrastados por soldados de Herodes, o Grande, para serem assassinados friamente, na presença do rei, para que ele tivesse a certeza de que nenhum primogênito (varão) com idade inferior a dois anos pudesse escapar com vida.

Embora nos níveis de hoje em dia, 30 a 40 crianças, primogênitos do sexo masculino, possa parecer um número pequeno, em razão da explosão demográfica do mundo atual, proporcionalmente à população de cerca de dois mil habitantes, entre Cafarnaum, Genesaré e Belém, é um número altamente significativo, em termos de mortandade, sem falar na crueldade que é, para um pai, a morte prematura de um filho, primogênito ainda por cima.

Felizmente, graças à providencial informação dos religiosos mitrais, Jesus havia escapado com vida da matança dos inocentes. E João Batista também, pois tendo menos de dois anos e se seus pais não tivessem sido alertados por seus tios, dos riscos que corria, teria tido um triste fim caso houvesse permanecido em Belém.

Durante três longos anos, José, Maria, Jesus e João Batista, passam a viver no Egito, e com isso a conviver e a aprender outra cultura, novas línguas, a confrontar sua religião com outras religiões e a adquirir novos ensinamentos e a sofrer um processo de aculturação. Que acabaram sendo basicamente a "cultura de berço" de Jesus e João Batista.

Ao fim de três longos anos, eis que finalmente Herodes, O Grande, vem a falecer, deixando seu reino para os seus filhos: Herodes Antipas (Galiléia), Arquelau (Judéia) e Filipe (Cesaréia de Filipe e Transjordânia). Quando então Zacarias vai até o Egito e avisa a José e Maria da morte de Herodes, o Grande, e que com isso eles agora poderiam voltar em paz, pois o perigo de vida (ou de morte) para Jesus e João Batista havia passado.

Foi uma festa enorme o retorno de Jesus e João Batista a Belém. Zacarias e Isabel não cabiam em si de contentamento pela volta de João Batista, e de seus primos e sobrinho. Até porque, agora, após três anos sendo criados juntos, Jesus e João Batista eram quase que como irmãos, a afinidade entre os dois (um com quatro para cinco anos e o outro com três para quatro anos) era algo incrivelmente indescritível. Pois se desde o nascimento já havia algo de transcendental e inexplicável entre os dois, imagine agora após os três primeiros anos sendo criados juntos... como irmãos.

Embora houvesse uma afinidade muito grande entre José e Zacarias, e entre Maria e Isabel, José não se sentia bem em Belém, embora fosse sua terra natal. Algo de assustador e muito negativo José via em Arquelau (filho de Herodes o Grande) que governava a Judeia, pois seu perfil era de um grande corrupto e meio louco. No íntimo José sentia que Arquelau era muito parecido com o pai, Herodes, o Grande, e que a loucura e os atos públicos de Arquelau, poderiam causar grande revolta popular, ou até mesmo uma revolução ou um período de muita conturbação (que de fato acabou acontecendo), o que colocaria em risco a família de José.

Conseqüentemente, isto não inspirava confiança para que José permanecesse em Belém.

A ter que escolher um lugar para morar dentre os três reinos dos filhos de Herodes, o Grande, José escolheu retornar à região da Galiléia, onde morara antes, e que agora era governada por Herodes Antipas, filho de Herodes, o Grande, e que parecia mais confiável do que o pai e o irmão Arquelau. Vez que sua quase única e grande preocupação era construir, construir e deixar um grande legado de construções, de modo a deixar sua marca para a posteridade.

E foi assim que José mudou-se novamente para Cafarnaum (na Galileia), às margens do Lago de Genesaré (Mar da Galileia ou Mar de Tiberíades), vizinho às cidades de Corozaim e Betsaida, onde ele tinha grandes amigos e muitos conhecidos, o que, por sua vez, tornaria a vida mais fácil para seus trabalhos.

Foi uma grande, sentida e dolorosa separação entre os quase irmãos João Batista e Jesus e os parentes Zacarias e Isabel, José e Maria.

Em Cafarnaum, a vida seguia normalmente para José e Maria. Mas, no entanto, algo de muito estranho acontecia com Jesus, pois, por mais que os pais tentassem ocultar e esconder dos vizinhos os dons de Jesus, não conseguiam ocultar um incontrolável poder dele sobre a matéria, que causava danos, transtornos e problemas para os vizinhos e para a comunidade.

Sem que Jesus desejasse, ou soubesse como, as coisas aconteciam à sua revelia, coisas estranhas aconteciam ao seu toque, e às vezes nem ao seu toque. Era algo inexplicável. E por ser algo que ele, criança, não sabia como direcionar ou controlar, logicamente muitas coisas boas aconteceram, mas principalmente muitos problemas foram criados por Jesus para José e Maria, que nada entendiam sobre o que se passava.

O fenômeno mais comum era a telecinesia, explicada pela parapsicologia (e no espiritismo) como a movimentação de objetos inanimados, à distância, sem qualquer ação mecânica humana.

Eram objetos que caiam sem que ninguém os houvesse tocado, eram coisas que se moviam sem que ninguém conseguisse explicar. E o estranho disso tudo é que todos sabiam que era Jesus quem fazia aquilo acontecer, mas quando ele era instado a fazer deliberadamente o que se pedia para fazer acontecer, ele não conseguia... tinha o poder mas não sabia como usá-lo ou direcioná-lo.

Logicamente, a fama dos acontecimentos não tardaram a se espalhar pela vizinhança e não faltava gente apegando-se às coisas de Jesus, como suas vestes, restos de suas roupas, água em que ele tivesse sido banhado, qualquer coisa que ele tivesse tocado ou usado, para serem utilizados como amuletos de sorte ou objeto das mais variadas curas, sendo a mais comum a de enfermidades. E como costuma acontecer nos casos em que pessoas esperançosas de determinados acontecimentos desejarem tanto, tanto, tanto a realização de um acontecimento que, por sugestão, indução ou coisa que o valha, muitos "milagres" (frutos do acaso, coincidência ou não) passaram a ser atribuídos a Jesus.

Sua fama logo correria por toda a cidade e pelas cidades vizinhas. E logo não tardaram a se formar verdadeiras romarias ao menino abençoado, em busca de soluções de problemas. Mas o que viam era simplesmente um menino parecido com quase todos os meninos de sua idade e que realizava coisas estranhas e inexplicáveis, mas todas elas independente de sua vontade.

Por outro lado, não tardou que as opiniões ficassem divididas à respeito dos "milagres" de Jesus. Uns achando que realmente muitas pessoas foram curadas pelo seu toque divino ou por objetos pertencentes a Jesus, mas muitos (a maioria, frustrada por não alcançar a graça ou o resultado esperado) achando que os casos acontecidos eram mera coincidência, pois somente alguns casos (a minoria) havia surtido efeito.

Os que alcançaram o resultado esperado acrescentavam ao seu resultado alguns outros acontecidos com terceiros para dar maior credibilidade e veracidade à sua história. E não faltavam histórias de que Jesus ressuscitava pássaros mortos, ou que matava pássaros acidentalmente. Ou que fazia árvores secarem a um simples toque ou rebrotarem depois de mortas. Ou que fazia levitação em pleno campo aberto.

Enfim, muitas histórias eram contadas a respeito de Jesus.

Por outro lado, muitos descontentes tratavam de espalhar como falsos os poderes de Jesus e citavam casos e mais casos de gente que havia buscado a cura e nada havia acontecido, quando não havia piorado do estado em que estava. Gente que estava "quase" sadia e que morrera sem maiores explicações. Enfim, as opiniões dividiam-se muito, até que com o passar do tempo as pessoas passaram a conviver com naturalidade com as coisas estranhas que Jesus fazia, e não tardou que Jesus voltasse à vida normal de qualquer criança.

E as coisas inexplicáveis que Jesus fazia passaram a ser recebidas sem espanto ou sem maiores alardes.

Como as coisas ditas, boas e ruins, sobre uma pessoa não ficam aprisionadas e circunscritas ao seu convívio direto, não tardou que a fama de Jesus chegasse a um ou outro em Belém e em Jerusalém. E em lá chegando a fama dos acontecimentos de Jesus, não tardou que chegasse ao conhecimento de seu tio, Zacarias, um conhecido sacerdote hebreu.

Tão logo pôde, Zacarias foi a Cafarnaum, a pretexto de uma visita para conhecer Tiago, o mais novo filho de José e Maria e de aproveitar dos prazeres da vida próxima ao mar, no lago de Genesaré. E em lá chegando, demonstrou enorme satisfação pelo seu mais novo sobrinho, Tiago, mas, sem disfarçar, apressou-se a verificar o que ouvira a respeito de Jesus. E para sua surpresa, constatou a realidade e assustou-se com as coisas que via e com os poderes de seu sobrinho Jesus. Para, logo em seguida, recuperando-se do susto, ter uma visão muito clara do proceder.

A José, Zacarias confessa, então, estar ensinando a seu filho João, a ler e escrever, juntamente com fundamentação religiosa (Para a época, saber ler, escrever e interpretar era muito pouco comum para as pessoas de uma maneira geral. O ensino básico era aprendido, em geral, para somente alguns privilegiados, na juventude).

Zacarias, mostrava-se espantado com os prodígios de seu filho João Batista, com alguns de seus poderes inexplicáveis (semelhantes aos de Jesus) e confessava-se temeroso de ensinar na mesma velocidade com que seu filho aprendia. E, por isso, ele preferia que João Batista fosse educado de maneira mais competente por sábios religiosos, estudiosos, próximo a Belém, em Monte Carmelo ou Qunram. E, sendo João Batista e Jesus praticamente irmãos, e com claros dotes especiais e incomuns de pessoas super especiais, ele, Zacarias, entendia que seria bastante proveitoso para Jesus se José permitisse que Jesus fosse aprender o ensino fundamental (ler, escrever e interpretar) juntamente com seu primo João Batista.

A primeira reação de José foi totalmente negativa. Era inconcebível entregar Jesus para Zacarias para que ele enviasse Jesus e João Batista para serem educados por sábios em um mosteiro em Monte Carmelo ou Qunram. A resposta era "não", "não" e "não".

José, entre assombrado e curioso, questiona então a Zacarias se, sendo ele um sacerdote saduceu, não o incomodava ou se não era um contra-senso confiar a educação de seu próprio filho João a um grupo essênio. No que Zacarias contesta e garante que quer para seu filho o melhor que a cultura pudesse dar. Descontente com sua própria religião, Zacarias diz que Belém e Jerusalém estão à beira do caos, com corrupção moral e de costumes, uma versão "moderna" de Sodoma e Gomorra. Os ensinamentos religiosos dos saduceus e dos fariseus estavam menos educando do que a própria ignorância. Por isso, a melhor solução para a educação estava em tirar João Batista de Belém ou Jerusalém e enviá-los a quem pudesse dar bons ensinamentos de base e uma sólida orientação religiosa ortodoxa, pautada na humildade, na caridade e na sabedoria do autoconhecimento.

Zacarias, apelando para o sentimentalismo e para a dívida de gratidão, argumentou com José que pelo bem de seu filho uma vez confiara a vida de João Batista a José, quando da fuga para o Egito. Agora, não era só uma questão de confiança, mas José deveria pensar primeiro no futuro e bem estar de Jesus antes de querê-lo agarrado a si, sem dar uma chance dele ter uma oportunidade de ser alguma coisa diferente de um simples camponês. E, de mais a mais, José não poderia esquecer que Jesus iria ser tratado como a um filho, como é habito entre os essênios, e que iria estar permanentemente na companhia de seu quase irmão João Batista, o que seria ótimo para a formação de caráter e o desenvolvimento de ambos.

Maria foi mais sensível às palavras de Zacarias do que José.

Ela reconheceu de imediato que Zacarias iria fazer por Jesus o mesmo que iria fazer por seu filho João Batista. Iria dar-lhe a melhor instrução, o melhor preparo para a vida e quem sabe ter até um destino conforme o previsto nas profecias... e, de mais a mais, Maria e José não ficariam sós, vez que estavam com um filho nascido há pouco (Tiago) e Maria já estava grávida de outro.

E foi dessa maneira, com o apoio de Maria e com José meio a contragosto, que Jesus foi enviado por meio de Zacarias para ser educado junto com seu primo João Batista.

No início, João Batista e Jesus foram enviados para a iniciação dos ensinamentos não em Qunram, mas no mosteiro essênio em Monte Carmelo, ao sul de Belém e Jerusalém, onde tiveram a instrução elementar. Posteriormente, foram enviados para Qunram para a fase mais profunda e madura do aprendizado.

Durante o período em que estiveram sob a orientação dos essênios, João Batista e Jesus receberam várias vezes as visitas de seus pais, o que não era um fato comum entre os internos do mosteiro. Nas principais festas religiosas eles iam para a casa de suas famílias e para as celebrações festivas. E a cada ano João Batista e Jesus iam passar uma curta temporada em casa com seus pais, o que também era algo incomum, e que denotava um tratamento especial e diferenciado que era destinado a Jesus e a João Batista.

Esta liberdade de ir e vir e este procedimento pouco comum, permitido a João Batista e a Jesus, criava um grande embaraço e constrangimento entre os essênios. Isto porque, em geral as crianças eram entregues nos mosteiros essênios, nas mais tenras idades, eram tratados verdadeiramente como filhos, e somente após estarem totalmente prontos, na puberdade, com o caráter bastante forjado com sólidos ensinamentos, é que voltavam a ter saídas mais freqüentes dos mosteiros e contatos com seus familiares. Entretanto, percebendo a luz interior de ambos e os seres especiais que eram João Batista e Jesus, foram-lhes concedidas condições diferenciadas e especiais de tratamento.

Embora Jesus fosse pobre (e João Batista nem tanto), o aprendizado da leitura e da escrita, assim como a interpretação de textos, parábolas e ensinamentos era algo incomum e quase inalcansável para sua classe social. Essa aculturação provocou uma gradativa ascensão social de Jesus, que passou a freqüentar e a privar de determinados grupos sociais, antes inatingíveis para a sua classe social. Judeus convictos, circuncisados desde os oito dias do nascimento (nota do autor, deixar a palavra circuncisado, pois circuncidado é mais uma das tantas "preciosidades" de dicionaristas), aos 12 anos João fez o seu tradicional Bar Mitzvah (uma festividade judaica que consiste na entrada da puberdade, onde a criança deve justificar e dizer aos adultos como e porque merece adentrar à vida adulta), o que não se constituiu numa grande surpresa, pois sendo João Batista um filho de um sacerdote, presumia-se uma grande cultura capaz de impressionar os mais velhos, no templo, no seu discurso de entrada na juventude. Era algo esperado. Mas, quando no ano seguinte Jesus fez seu Bar Mitzvah, que para surpresa geral ninguém esperava tamanha fonte de conhecimento por parte de um humilde filho de camponês, foi algo absolutamente marcante, isto porque, além de demonstrar um incrível e fantástico conhecimento, incompatível para um filho de camponês (os religiosos do templo não sabiam da instrução essênia de Jesus), e por isso Jesus foi sendo mais e mais questionado pelos mais velhos, e quanto mais questionado, mais conhecimento Ele demonstrava. A ponto de estarrecer os sacerdotes e seniores do templo, com tamanho conhecimento das leis religiosas, bem como demonstrando uma impressionante cultura geral.

Inegavelmente, Jesus era o irmão destacado de uma família comum, tradicional da época. Nada de especial havia sido manifestado em seus irmãos. Tiago já estava bastante crescido, com quase sete anos. Os outros irmãos, José, Simão, e Judas, eram crianças absolutamente normais, comuns. Sem que merecessem registro destacado. Mas, para Jesus (e também para João Batista) de certa maneira, a chegada dos doze/treze anos acabou marcando não só uma posição de passagem para a adolescência, como expôs de maneira mais acirrada as contradições entre a doutrina e a vida dos essênios e o convívio com os demais grupos judeus, como os saduceus e os fariseus. As disparidades eram muito grandes e gritantes.

Os essênios, por seu turno, não estavam contentes com os rumos das vidas duplas de costumes diferentes de João Batista e Jesus. Assim como eles (Jesus e João) não estavam plenamente satisfeitos em ater-se a uma só cultura. A curiosidade e a fome de saber consumiam os dois jovens. E, coincidentemente, estava chegando o momento de ambos decidirem (ou os pais de ambos) se iriam dar seqüência à doutrina essênia, optando por tornarem-se mestre (rabi) ou sacerdote essênio, ou se optariam por outro tipo de rumo ou religiosidade.

De certo, certo mesmo, somente as sólidas bases de cultura geral e religiosa, passadas pelos essênios, que eles haviam adquirido. Mas, isso era muito pouco ante o fogo e a fome de saber que ardia em ambos, visto que eles ansiavam por mais e mais conhecimentos, que eles sabiam que existia mundo a fora, e que por esta razão não se contentavam com o que tinham, apesar de muitos acreditarem que era conhecimento suficiente. Mas que para eles era muito pouco.

A inquietude e o fogo da adolescência empurravam João Batista e Jesus para aventuras além das terras da Palestina. Os propalados mistérios do Egito e da índia, e mais os desafios de suas culturas e religiosidades, colocavam os agora jovens João Batista e Jesus em verdadeiro estado de tormento e ânsia pelos desafios que se apresentavam.

Com a chegada da juventude aumentaram a inquietude, a angústia e o tormento. O chão queimava sob seus pés.

Foram mais alguns anos vivendo a contragosto entre a Galiléia e a Judéia, até que a força e o ímpeto da juventude os empurrou definitivamente para o mundo de aventuras em viagens de experiências fantásticas.

Foram viagens ao Egito (a sudoeste), para rever velhos conceitos, ensinamentos e relembrar dos primeiros anos de vida, quando haviam fugido para o Egito e passados os primeiros anos de suas vidas. Mas, o principal motivo das viagens era o de confrontar e adicionar novos conhecimentos, verificando, de perto, ciências que despertavam enorme curiosidade como o ocultismo, previsões e o zoroastrismo

(Religião de Zoroastro ou Zaratustra, nascido na Média, no século sete a.C., criador da casta dos magos e reformador do masdeísmo — religião antiga dos iranianos = persas e medas -, caracterizada pela divinização das forças naturais e pela admissão de dois princípios em luta, aura-masda e arimã (o bem e o mal), do qual conservou-se a concepção dualística do universo.)

Como conseqüência da curiosidade pelos conhecimentos egípcios (os essênios cultuavam muito a cultura egípcia e respeitavam a influência que tiveram da ramificação da Grande Fraternidade Branca, fundada no Egito pelos ascendentes do faraó Akenatom, em cerca de 1450 a.C.), interligado aos conhecimentos dos persas (Irã), e à cultura budista da Índia e do Nepal, mormente referente à meditação transcendental dos monges tibetanos e aos ensinamentos humanitários, pacifistas e adeptos da não-violência, isto sem falar em reencarnação, vida eterna e evolução espiritual (que o judaísmo saduceu e fariseu se furtavam a discutir e sequer queria ouvir falar), não tardou que uma longa jornada fosse empreendida no sentido oposto ao Egito.

Ou seja, seguindo a Rota de Seda, a nordeste (Síria e Turquia) e depois ao sudeste e sul, atravessando os países hoje conhecidos como Iraque, Irã, Paquistão, Índia e Nepal.

A vida de Jesus, dos 16 aos 28 anos, período em que esteve em constantes viagens e aprendizado no extremo oriente, pode ser lido em diversas publicações de diversos pesquisadores , mas de uma maneira séria e inconteste, pode ser confirmado pela própria igreja católica, na biblioteca do Vaticano, onde existem 63 (sessenta e três) manuscritos variados, em diversas línguas orientais, referindo-se às viagens de Jesus ao extremo oriente: Egito, Arábia, Síria, Turquia, Índia, Nepal e China, com especial vivência na índia e no Nepal, onde Jesus era conhecido e chamado de "Issa", conforme constatado em 1887 pelo pesquisador russo, da Criméia, Nicolai Notovitch.

Outros manuscritos (atos e evangelhos) que tratam do assunto, e que por isso mesmo haviam sido banidos pela igreja nos primeiros quinhentos anos da era cristã, foram redescobertos e trazidos por missionários cristãos, entre eles os Atos de Tomé, publicados em 1823, Atos de Barnabé, publicado em 1870, o evangelho de Pedro 1893, o evangelho secreto de Tomé, descoberto no alto Egito, em 1945, dois anos antes (1947) dos manuscritos (Qunram) do Mar Morto.

Outro que pesquisou a fundo estes documentos no Vaticano foi o alemão Holger Kersten, o que ensejou a autoria do livro "Jesus viveu na Índia", onde descreve com riqueza de detalhes a longa estada de Jesus ("Issa") na índia e no Nepal.

E não diferente são os estudos e pesquisas do teólogo-pesquisador russo Nicolai Notovich, que aliás foi o primeiro a descobrir (em 1887) os manuscritos sigilosos da biblioteca do Vaticano, e que foram por muito tempo ocultados do mundo cristão, assim como seu livro "A vida desconhecida de Jesus" (The unknown life of Jesus).

Portanto, escrever sobre a vida de Jesus, dos 16 aos 28 anos, baseado em manuscritos do Vaticano e livros sérios já editados e confirmados, parece ser um ato repetitivo e que muito pouco acrescentaria ao relato atual sobre a vida de Jesus, vez que o foco de nossa abordagem é especificamente "A Sociedade Secreta de Jesus".

Assim sendo, retornemos a Jesus e João Batista, aos 27 e 28 anos, após as longas viagens de ambos ao extremo oriente.

De volta à Palestina, impregnados de novos e sólidos conhecimentos religiosos, do zoroastrismo ao budismo, com uma visão espiritualista amplificada, Jesus e João Batista deparam-se com uma terrível corrupção de costumes, da Judeia à Galileia. Era como uma antevisão muito próxima de Sodoma e Gomorra. Havia uma séria inversão de valores e uma tremenda injustiça social que infelicitava e empobrecia cada vez mais o povo.

A política dos romanos era perversa. Exigiam mais e mais, cada vez mais e contavam com total apoio e cumplicidade da elite dos judeus (saduceus) para ajudar cada vez mais a Roma. Enquanto que os judeus pobres e os gentios (não-judeus) viviam em lastimável estado de miséria.

A tática dos romanos era mais ou menos simples: Não impunham seus Deuses e as várias divindades do panteão romano, e permitiam que a elite dos judeus (saduceus), sabidamente corrupta e canalha, controlasse o povo pela religião casuística deles e pela cega e inconteste adoração a Javé. Em troca, exigiam que os saduceus sangrassem o povo ao máximo, com tributos escorchantes, para "honra e glória de Roma". E com isso o povo tinha que trabalhar mais e mais, cada vez mais, para sustentar essas duas classes da elite parasitária.

É certo que isso (injustiça social e corrupção de costumes, principalmente a desenfreada libertinagem que havia se instalado nas classes dominantes) revoltava e indignava terrivelmente a João Batista e a Jesus. Mas cada um tinha sua revolta particular dirigida para um foco da questão. À João Batista indignava mais a promiscuidade, a libertinagem, a devassidão e a corrupção de costumes. À Jesus indignava mais a corrupção religiosa, pois os templos haviam se transformados em verdadeiros mercados e casas de câmbio, onde alguns dos impostos só poderiam ser pagos com a moeda "tetradracma tíria", que obrigatoriamente tinha que ser trocada no templo dos saduceus (como se fosse uma casa de câmbio), enquanto que ao mesmo tempo os espertalhões saduceus obrigavam — sob ameaça dos "fiéis" arderem em fogo eterno do inferno — aos pobres coitados ansiosos por melhorar de vida, que para melhorarem de vida tinham que fazer sacrifício de animais, comprar amuletos e oferendas no templo, pagar dízimo, e seguir determinados rituais que beneficiavam diretamente os gerentes e mercadores do templo.

O poder de exploração da ignorância alheia pelos gerentes e mercadores do templo dos saduceus era de tal ordem que aos pobres "fiéis", amedrontados ante o fogo eterno do inferno, nem o direito de trazer seus próprios animais para serem sacrificados era permitido. Nem trazer sua água para ser benzida. Nem trazer seus azeites e óleos para serem benzidos. Nem trazer seus próprios amuletos. Tudo isso era considerado impuro pelos vigaristas do templo. Os "fiéis" ignorantes só podiam oferecer em holocausto animais "puros", comprados com exclusividade no templo dos vigaristas. A água, os azeites, os óleos e os amuletos para serem santos, bentos, tinham que ser "puros" e para isso tinham que ser comprados no templo dos gerentes, sacerdotes e mercadores vigaristas, que detinham uma exclusiva reserva de mercado, concedida por Roma — em retribuição à subserviência dos saduceus e fariseus — e que ao mesmo tempo era garantido pela ignorância do povo ameaçado pela igreja. (Esta exploração religiosa da ignorância, desejada e mantida por uma igreja que se pretende fazer e manter próspera, em benefício dos gerentes do templo, foi o que tanto irritou Jesus a ponto de — em determinada ocasião — perder o controle e expulsar os vendilhões do templo).

Não se pode nem dizer que as lutas de João Batista e Jesus ficaram centradas somente neste aspecto de revolta contra a exploração do povo e as desigualdades sociais. Claro que isso não é a verdade inteira. Isso era, também, um tema e um assunto de interesse permanente dos revolucionários ultranacionalistas zelotes. Que infelizmente tinham uma visão desfocada do problema e a tudo atribuíam a culpa a Roma, esquecendo-se que seus próprios irmãos judeus (saduceus e fariseus) eram os maiores culpados de tudo.

Não se pode esquecer e nem perder de vista que de alguma forma este aspecto de uma vida corrupta e mundana de romanos, saduceus e fariseus, influenciou o direcionamento e a vida de João Batista e de Jesus.

Estas corrupções, religiosa — que tanto revoltou, irritou e angustiou Jesus — e a de costumes, pela degradação de valores morais, ligados à libertinagem e devassidão — que tanto revoltou, irritou e angustiou João Batista, acabaram sendo decisivas para suas vidas e responsáveis pela "sorte" e tragicidade de seus destinos.

Os quase irmãos, João Batista e Jesus, decepcionados com a permissividade e corrupção instalada por toda a Palestina, vendo e assistindo a degradação de Belém e Jerusalém espalhando-se por toda a Judéia e Galileia, voltam então ao mosteiro essênio em Qunram para retomar seus antigos contatos, trocar conhecimentos e experiências com os "irmãos" essênios, e estabelecer uma forma de resistência e luta contra o que estava acontecendo com o povo hebreu (judeu).

Puros como o branco das roupas que vestiam (conforme já explicado, o branco não era uma cor tão comum quanto possa parecer. Ao contrário, eram raros os tecidos brancos, bem brancos, pois como os tecidos eram todos feitos artesanalmente, por isso tinham a cor crua original e característica dos tecidos (bege) ou a cor de seus tingimentos mais berrantes: vermelho, azul, amarelo, etc. Exceto o branco que era uma descoloração difícil de ser conseguida) os essênios juntaram-se a João Batista e a Jesus em suas preocupações quanto à corrupção de costumes que havia tomado conta do povo hebreu (judeu), associado à degradação dos romanos.

Algo deveria ser feito para conter aquele avanço incontrolável de devassidão e corrupção. E foi exatamente diante deste quadro que um grupo de essênios (não era a maioria) resolveu organizar um combate sistemático à podridão de costumes que campeava pelas cidades.

Inicialmente falavam em ir às ruas fazer pregações e usar o poder de convencimento. Mas esta idéia encontrou bastante resistência por vários motivos. Primeiro, porque os essênios mais velhos e tradicionais primavam pela vida reclusa dos mosteiros e não se aventuravam por pregações abertas em ruas. Segundo, porque a pregação aberta em ruas envolveria críticas além da religiosidade e esta não era a finalidade da religião essênia. Aliás, sem sucesso os zelotes já criavam tumulto suficiente (e sem muito sucesso) combatendo e se insubordinando contra a corrupção de costumes dos romanos, dos saduceus e dos fariseus. Terceiro, porque grande parte das críticas iria encontrar resistência religiosa junto aos grupos saduceus e fariseus, com conseqüências drásticas para os essênios, onde a menor delas seria a perseguição pessoal aos essênios: Quarto, porque identificando abertamente os revoltosos essênios eles seriam presas fáceis e colocariam em risco não só suas vidas como a de seus familiares.

Era uma situação extremamente difícil, mas da necessidade e do debate surgiu então uma solução alternativa, qual seja: uma irmandade, uma fraternidade, uma sociedade agindo secretamente — em princípio desvinculada dos mosteiros essênios — visando combater a corrupção de costumes e de religião, onde seus membros usariam nomes falsos de batismo de modo a dificultar as suas identificações e para não terem seus parentes, familiares e amigos perseguidos.

Suas regras de funcionamento eram bastante simples. Iriam fazer pregações dos conceitos religiosos tradicionais dos essênios (ampliados e associados aos conhecimentos religiosos adquiridos por João Batista e por Jesus, quando de suas viagens ao extremo oriente. Basicamente índia, Nepal e China); iriam revolucionar e despertar a religiosidade de cada pessoa, iniciando pelo renascimento, pelo batismo, dando a cada alma uma nova oportunidade de renascimento e uma vida nova a cada pecador. Iriam manter rituais sagrados como a eucaristia (pão e vinho) para selar os laços da arca da amizade. Iriam pregar a paz e o amor acima de todas as coisas, pois só a paz e o amor conduzem à harmonia com Deus. Iriam pregar a busca da verdade como meta a ser alcançada, sempre, como uma forma de libertação (até para que os fiéis parassem de ser enganados por pregadores vigaristas). Iriam pregar a reencarnação e a vida eterna, como a base da esperança de vida do ser humano e estabelecer um ritual de reza (mantra) com as principais aspirações do ser humano, conforme encontram-se colocadas no hino dos essênios, sobre as bem-aventuranças.

Estas eram as principais metas de orientação. Mas ainda faltava a questão prática de operacionalidade. Ou seja, como fazer isso tudo funcionar sem despertar a ira dos saduceus e dos fariseus.

Assim como a sociedade dos essênios, a sociedade secreta que dali estava surgindo iria ser dividida por responsabilidades. Os mais capacitados iriam formar a base da sociedade secreta, num grupo de doze mestres, rabinos, que iriam buscar a evolução dentro do grupo, para que posteriormente cada um dos doze mestres viesse a formar seu próprio grupo de doze, onde cada um dos doze formaria novo grupo de doze discípulos e assim sucessivamente, numa progressão matemática assustadora. Ou seja, a missão não buscava somente convencer o discípulo às convicções religiosas, mas convencê-lo a convencer outros, que convenceriam outros e assim sucessivamente, sempre em grupos fechados e sucessivos de doze.

Para que os membros da sociedade secreta não pudessem ser identificados publicamente, ou pelo menos dificultar a sua identificação, todos teriam um novo nome dentro da sociedade, adquirido depois de um batismo especialmente feito para celebrar a entrada de cada membro na sociedade secreta, e por este nome deveriam ser tratados em público para que nenhum vínculo pudesse ser estabelecido com suas famílias e seus amigos, ou que pelo menos fosse dificultado a identificação direta, e com isso preservar a segurança familiar e o círculo de amizades dos pregadores.

O símbolo da sociedade seria o peixe, um dos poucos seres vivos que comiam e que representa o milagre da vida, a fonte de energia e alimentação da sabedoria dos seres humanos e a perpetuação das espécies, pois mesmo sendo adeptos de um parcial vegetarianismo, os essênios entendiam que o homem precisava de nutrientes animais para a sua dieta, sustentada pobremente à base de vegetais, e que o peixe e o sal, ligado ao peixe, tinham um significado simbólico de sobrevivência do ser humano e por isso o peixe foi escolhido como um símbolo muito especial para a sociedade secreta originária dos essênios ("Vós sois o sal da terra. Imprescindíveis. Sem o sal não há gosto, não há vida. Sem o peixe não há alimento que haste ao homem sobre a Terra, e sem alimento o homem não vive").

E aperfeiçoando o símbolo do peixe, foi sugerido que o perfeito equilíbrio e a perfeita harmonia do peixe seria exatamente a colocação de dois peixes em posições opostas.

Ou melhor, um peixe com a cabeça apontada para a cauda do outro, dando a dimensão exata da harmonia e do equilíbrio, que poderiam significar, o bem e o mal, o certo e o errado, o dia e a noite, o corpo e a alma, a matéria e o espírito, num eterno dualismo.

Do símbolo do peixe surgiu o sinal (código) de comunicação secreta da sociedade em público. Pois, os membros da sociedade, que eventualmente não se conhecessem entre si, ou que quisessem ter uma conversa reservada, longe dos olhos das demais pessoas identificavam-se pelo desenho do peixe. Ou seja, faziam um arco como se fosse um semicírculo, abrindo os dedos polegar e indicador, e o outro membro da irmandade fazia o mesmo, e em seguida tocavam polegar com polegar e faziam o dedo indicador passar pelo indicador de seu companheiro, completando, com isso, o desenho de um peixe.

Vezes havia em que este mesmo desenho era feito riscando-se na areia, com gravetos ou com os próprios dedos, fazendo cada um o seu semicírculo, que juntos, ao se cruzarem, perfaziam o desenho do peixe.

Partindo do planejamento teórico para a prática, inicialmente foram nomeados doze jovens mestres (Jesus, João Batista, Benjamim, Samuel, Isaac, Jacob, Aarão, Josias, Nicodemos, Amós, Silas e Oséas), indicados pelos doze mestres veteranos que dirigiam a comunidade essênia. Estes mestres veteranos, que elegeram os doze membros da sociedade secreta, mas que a ela não pertenciam, em princípio não iriam se envolver diretamente com as atividades da sociedade secreta, mantendo suas vidas normais como mestres essênios, reclusos nos mosteiros. Enquanto isso, cada um destes doze jovens mestres (rabi), membros da sociedade secreta, deveria ir buscar junto ao povo, através de pregação, doze discípulos (cada um) para segui-los e levar adiante a sociedade secreta, para que no futuro cada discípulo constituísse sua própria irmandade de doze, e assim sucessivamente. Este era o sistema de irradiação de idéias que daria sustentação prática à sociedade ou irmandade.

Para cada um dos membros da sociedade secreta, além das atividades normais desenvolvidas, caberia uma atividade específica e prioritária. A Jesus coube a pregação visando a recuperação da religiosidade e a recomposição das tradições religiosas, contra o mercantilismo dos templos. A João coube a pregação contra a libertinagem, a devassidão, e a corrupção dos costumes. Aos outros dez (Benjamim, Samuel, Isaac, Jacob, Aarão, Josias, Nicodemos, Amós, Silas, Oséas) coube temas diferentes como orientadores de suas pregações e objetivos.

E foi com esta sociedade secreta instituída e constituída dessa forma que Jesus e João Batista iniciaram as suas pregações específicas pela Judeia e pela Galileia, cumprindo a grande orientação e determinação da sociedade essênia: — "Ide. Batizai a todos. Pesquem almas como peixes".

Em muito pouco tempo, João Batista na Judeia e Jesus na Galiléia já haviam conquistado seus doze discípulos, embora vivessem rodeados de um número muito maior de seguidores do que o número de doze discípulos. A receptividade às suas pregações eram fantásticas, imediatas, muito além do que havia sido planejado ou esperado. Eles diziam exatamente aquilo que o povo, cansado da degradação moral e religiosa, queria ouvir. Logo se formavam imensos grupos e pequenas multidões para ouvir os pregadores essênios, sem que fosse dito — obviamente — que eles eram essênios ou sequer que pertenciam a qualquer religião. Pois até mesmo nos templos dos saduceus eles faziam as suas pregações livremente, como rabinos independentes, vez que eles não se definiam a que ramo hebreu pertenciam. Foi uma revolução de pregação religiosa como nunca dantes vista.

Às margens do Lago Genesaré (Mar de Tiberíades ou Mar da Galiléia), com todos os seguidores reunidos, especialmente convocados para uma grande reunião, Jesus explicou que, dentre todos, dezenas de seguidores, Ele iria convocar 12 (doze) discípulos que iriam assumir a função de apóstolos e que iriam seguí-lo permanentemente. E após a escolha dos doze discípulos, Jesus explicou a cada um o funcionamento da Sociedade Secreta de Jesus, de modo a que cada um dos doze se tornasse responsável pela difusão e propagação das idéias da sociedade secreta.

Os discípulos escolhidos eram, e sua esmagadora maioria, da Galiléia, e por isso tinham uma forte ligação com o mar, com a pesca, com o peixe, até por serem, na maioria, pescadores ou viverem nas proximidades do mar. Os 12 (doze) primeiros discípulos a quem Jesus batizou como membros da Sociedade Secreta de Jesus foram: Simão a quem Jesus batizou como Pedro; André irmão de Simão/ Pedro; Bartolomeu a quem Jesus batizou como Natanael; Levi a quem Jesus batizou como Mateus; Tomé a quem Jesus batizou como Dídimo; Tiago a quem Jesus batizou como Boanerges Maior; João irmão de Tiago e filho de Zebedeu, a quem Jesus batizou como Boanerges Menor (os irmãos Filhos do Trovão); Tiago irmão de Judas Tadeu e filho de Alfeu; Judas Tadeu irmão de Tiago e filho de Alfeu; Filipe; Simão o cananeu e Judas Iscariotes, que por ser o mais próximo e chegado a Jesus e de sua maior confiança foi escolhido como o tesoureiro da irmandade de Jesus. Isto porque, em cada irmandade de 12 membros sempre havia um tesoureiro, independente, para que cada irmandade trabalhasse de forma autônoma e independente, ficando o tesoureiro responsável pelo controle das doações recebidas e do fruto do trabalho de cada um dos membros da sociedade, de modo a garantir a manutenção e sustento da irmandade.

Junto com a nova vida os discípulos eram instruídos da importância do novo nome que assumiam perante a Sociedade Secreta de Jesus e as razões de se ter uma outra identidade, de acordo com os preceitos da sociedade a que agora pertenciam. E como uma recomendação de prática religiosa, seguiam o conselho de Jesus:

— "Ide pelo mundo. Eu vos dou a Minha autoridade. Pregai a liberdade, a vida nova e a revolução pela paz. Não carreguem nada exceto o que Deus vos deu. Usem vestimentos simples, carreguem somente um cajado e calcem as sandálias da humildade do pescador. Eu vos farei pescadores de homens. Batizai a todos. Pescai almas como peixes. E Eu estarei convosco até o fim dos tempos.", Disse Jesus.

Além dos doze discípulos, Jesus foi chamando e batizando um a um de seus demais seguidores (eram dezenas, no início, e chegou rapidamente a milhares posteriormente), sem dar-lhes novos nomes, pois o batismo especial da sociedade secreta era aplicável somente aos doze membros, apóstolos, discípulos da Sociedade Secreta de Jesus. E pelo batismo aos demais seguidores Jesus foi purificando-os pela água, e explicando o significado e a importância do batismo, demonstrando que à partir daquele ritual cada um estaria tendo a oportunidade de começar uma vida nova, independentemente dos erros e dos pecados anteriores. Essa era a idéia da conversão batismal.

(Nota do autor: A fim de evitar confusão de alguns nomes ao longo do relato, esclareça-se que existiam muitos nomes comuns e corriqueiros para a época, razão pela qual deve-se fazer distinção entre eles, quais sejam:

— Tiago irmão de João e filho de Zebedeu

— Tiago Irmão de Judas Tadeu e filho de Alfeu

— Tiago irmão de Jesus e filho de José

— Judas (Tadeu) irmão de Tiago e filho de Alfeu

— Judas (Iscariotes), o tesoureiro, a quem atribuiu-se traição.

— Judas irmão de Jesus

— José pai de Jesus

— José irmão de Jesus — José (de Arimatéia)

— Simão discípulo a quem Jesus chamou de Pedro.

— Simão irmão de Jesus

— Simão o cananeu

— João (Batista) — Primo de Jesus, que batizou Jesus e teve uma vida fantástica, paralela à de Jesus.

— João (Evangelista) — A quem atribui-se um dos evangelhos e que vaidosamente e pernosticamente arrasta seus escritos insinuando-se como "o discípulo a quem Jesus amava" (Como se Jesus só amasse a ele)

— Maria mãe de Jesus

— Maria (Madalena) seguidora de Jesus

— Maria irmã de Jesus

— Maria irmã de Lázaro



Na escolha dos discípulos de Jesus e de João Batista, de imediato, apresentou-se uma grande e quase irreconciliável diferença. Pois, enquanto João Batista escolheu, como discípulos, basicamente jovens de vida regular e correta, praticamente sem grandes vícios aparentes e que por isso mesmo foram facilmente doutrinados, Jesus escolheu uma corja, um bando totalmente heterogêneo. Pessoas comuns, a maioria muito mais velha do que ele, com muitos vícios e muitos pecados, inclusive com descrentes e materialistas absolutos dentre eles.

Certa feita, após um banquete na casa de Levi, o publicano (coletor de impostos) a quem Jesus batizou como Mateus (a quem atribui-se um dos evangelhos), a título de provocação, uns fariseus questionaram Jesus por ter Ele se banqueteado com comerciantes, coletores de impostos, prostitutas e vagabundos que bebiam e tinham grandes vícios. No que Jesus respondeu que não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os que estão doentes. Não foram os justos, mas os pecadores a quem Ele veio chamar. Demonstrando claramente, com isso, que Seus discípulos e Seus seguidores não são santos e muito mais do que isso, são declarados pecadores, pessoas normais, comuns, e que pelo batismo estavam renascendo para a vida. (Parcialmente relatado em Lucas 5:27-32)

— "Mas alguns de seus discípulos sequer acreditam em Deus, são materialistas como ele, Tomé". — Retrucou o fariseu.

— "Mais uma razão para tê-lo entre os Meus. Existe maior mérito do que a conversão de um descrente?" — Acrescentou Jesus.

Insistindo nas provocações, os fariseus tentam jogar os discípulos e os conceitos de João Batista contra Jesus, dizendo que os discípulos de Jesus não eram como os de João Batista. Os discípulos de Jesus não jejuavam, não faziam orações antes das refeições, não faziam abluções (higiene antes e após as refeições), eram mal educados e agiam como animais. No que Jesus retrucou, entre conformado e com graça, que não se põe remendo novo em pano velho, como que a explicar que existiam coisas muito mais profundas a serem ensinadas aos discípulos e à humanidade do que jejuar ou fazer higiene às refeições. Eles iriam mudar no que fosse preciso, ou seja, na questão religiosa, mas que poderiam continuar mantendo velhos hábitos, pois ninguém muda tudo radicalmente, de uma hora para outra, e para Jesus bastava que eles mudassem o essencial. (Parcialmente relatado em Lucas 5:33-39)

No fundo, Jesus reconhecia que o caminho dos discípulos era longo, árduo e não era pelo fato d'Ele havê-los escolhidos que se deveria esperar desses discípulos uma imediata santificação e beatificação (Aliás, se a santificação feita por homens já é um erro, outro erro muito maior e mais terrível ainda é essa automática santificação destes discípulos, pela igreja, considerando-os como "santos homens" baseado somente no fato de Jesus tê-los escolhidos para discípulos, e não pelos seus méritos de vida).

Jesus não se incomodou com as provocações dos fariseus.

Sabia muito bem que estas não seriam as únicas provocações e que muitas outras viriam. E com esta certeza, um tanto a contragosto, Jesus dá continuidade à sua pregação na Galiléia, mesmo sabendo que seu alvo era e deveria ser Jerusalém, pois a sua maior meta era o faraônico templo de Jerusalém, onde estava o coração da religiosidade dos saduceus e dos fariseus, e por conseqüência o foco da corrupção religiosa.

Lentamente Jesus vai fazendo pregações cada vez maiores, em Cafarnaum, e aos poucos vai conquistando adeptos em todos os lugares por onde passava: Genesaré, Corozaim, Betsaída, Tiro, Sidónia. Por onde passava arrastava multidões de adeptos às suas pregações e aos seus ensinamentos religiosos, absolutamente revolucionários para a época.

Enquanto isso, os outros 11 (onze) líderes religiosos da sociedade secreta (João Batista, Benjamim, Samuel, Isaac, Jacob, Aarão, Josias, Nicodemos, Amós, Silas, Oséas) tratavam de arregimentar 12 (doze) discípulos cada um, e espalhar as idéias da nova ordem religiosa.

De longe, acompanhando tudo com muita curiosidade e apreensão, os 12 líderes (mestres) essênios permaneciam no mosteiro e coordenavam a irmandade monasterial dos essênios, que não necessariamente intervinham diretamente na sociedade secreta composta pelos novos 12 jovens mestres ( Jesus, João Batista, Benjamim, Samuel, Isaac, Jacob, Aarão, Josias, Nicodemos, Amós, Silas, Oséas) que havia sido formada à partir da fraternidade essênia, e da qual João Batista e Jesus eram destacadamente considerados mais do que mestres ou rabi, mas como messias.

Sendo João Batista e Jesus os messias que a comunidade essênia esperava, e não tendo ainda sido ambos batizados, pois eles eram tidos como essênios desde criança quando estudavam no mosteiro, daí não haver sentido em um batismo imediato de quem já era purificado desde a infância...

Entretanto, como eles iriam continuar pregando o batismo como forma de renascer para uma vida nova, ainda em vida, nada mais natural que eles mesmo (Jesus e João Batista) fossem oficialmente e formalmente batizados.

Surge então a grande dúvida: Se eles iriam ser batizados, quem os batizaria?

Eis que chegam, então, à conclusão de que ambos deveriam ser batizados publicamente, em cerimônia de grande conhecimento de todos e que João Batista batizaria Jesus e Jesus batizaria João Batista, numa simbólica igualdade, a fim de evitar conflitos. Vez que quem batizasse Jesus ou batizasse João Batista seria tido como um ser humano privilegiado. Um privilégio que a nenhum essênio jamais seria concedido.

Em razão desta decisão, Jesus é chamado à Judéia para o seu batismo e a ambos (João Batista e Jesus) é comunicado a decisão dos 12 mestres sábios essênios a respeito do batismo recíproco.

Jesus e João Batista passam, simultaneamente aos seus discípulos e à comunidade essênia, a imagem messiânica da condição de quase irmãos. Cada qual enaltecendo o outro e julgando-se inferior ao seu quase irmão e atribuindo-lhe a condição de verdadeiro messias salvador.

Jesus se opõe a batizar João Batista e diz que não existe entre os homens, nascidos e a nascer, alguém que se iguale a João Batista. E garante que João Batista, sim, é o verdadeiro messias. — "Ele é o Elias que está por vir."

João Batista, por sua vez, se opõe a batizar Jesus. Perguntando: — "Quem sou eu para batizar a Ti? Eu é que tenho a necessidade de ser batizado por Ti. E Tu vens a mim para que eu te batize?"

E foi ante a este impasse, que a comunidade essênia tomou a salomônica decisão de ambos batizarem-se mutuamente. O que de fato ocorreu com grande pompa e circunstância, pois era algo tão inusitado, tão fabulosamente espetacular, que foi tido como um dos eventos religiosamente históricos mais importantes acontecido na humanidade.

Contando com a presença dos doze discípulos de João Batista, dos doze discípulos de Jesus, dos discípulos dos outros dez líderes da sociedade secreta, dos demais membros da irmandade essênia, cerca de trezentas pessoas assistiram, no Rio Jordão, ao batismo de João Batista e de Jesus.

Primeiramente, Jesus batizou João Batista, nas águas do Rio Jordão, numa cerimônia absolutamente carregada de uma energia fantástica que tomava conta de todos. Em seguida, João Batista começou a batizar Jesus.

Segundo alguns, no momento em que João Batista estava batizando Jesus, uma pomba branca pairou por alguns instantes sobre a cabeça de Jesus, e em razão deste acontecimento, atribuiu-se como um sinal do Espírito Santo a presença da pomba, indicando que, entre os dois, Jesus teria sido escolhido como o messias salvador e que João Batista seria o messias que iria anunciar a vinda do Salvador, o Cristo. E de fato João Batista disse para que todos ouvissem: "Tu és o Cristo. Tu és o Salvador. Que a irmandade te conheça como XPTO"

À partir daquele instante, João Batista assumiu a sua sina de pregar a vinda do messias e de lutar contra a devassidão, a libertinagem e a corrupção de costumes instalada por toda a Palestina. E de imediato iniciou esta sua missão por uma pregação pelo deserto, para que nenhum canto ficasse sem ouvir a boa nova da vinda dos novos tempos com a chegada do messias salvador.

Da árdua peregrinação do deserto, João Batista volta após longo jejum, comendo somente pães não fermentados, uvas secas e alguns gafanhotos encontrados no deserto. E satisfeito pela missão cumprida, por falar e anunciar ao vento e aos quatro cantos vazios do mundo a vinda do messias, João Batista retorna à cidade para a complementação de sua obra, iniciando por Jerusalém.

Jesus, por seu turno, temporariamente afastado da Galiléia, principia tentar acomodar seus discípulos nas terras da Judéia. E já conformado por ter sido ungido por João Batista como o messias, como o Cristo, assume a sua missão e sina como o messias salvador, e por conseqüência a identidade de XPTO (letras que designam, na comunidade secreta, o Cristo).

Embora tivessem tido a mesma educação, as personalidades de Jesus e a de João Batista eram marcadamente diferentes.

Pois enquanto Jesus era mais calmo, comedido e manso, João Batista era mais explosivo, mais impulsivo, mais vibrante messianicamente.

Dentro do seu estilo e comportamento, João Batista questiona seu quase irmão Jesus sobre as suas amizades com bêbados, vagabundos, desocupados e prostitutas. E até mesmo a escolha dos discípulos de Jesus foi objeto de crítica por parte de João Batista.

Jesus, com um leve sorriso e com a serenidade e calma que Lhe era peculiar, responde a João Batista, com um certo humor nos lábios, o mesmo que havia respondido aos fariseus. Ou seja, Ele estava interessado nos que haviam que ser curados e não por aqueles que não necessitavam de cura.

João Batista contra-argumenta que ele, João, não teria como criticar os corruptores sociais se Jesus andava em bando com pecadores, vagabundos, bêbados e prostitutas, e que até mesmo entre seus discípulos vários exemplos destes eram visíveis e reconhecidos.

Jesus, mantendo a serenidade messiânica, responde aconselhando a João Batista: — "Não critique os que estão errados, João. Recupere-os. Não amaldiçoe a escuridão. Acenda uma luz."

Reconhecendo a clareza de raciocínio de Jesus, seu quase irmão, eis que João Batista aceita a lição e volta à sua missão de pregação em Jerusalém.

Jesus, por seu turno, tentava administrar um bando quase que incontrolável. Eram vaidades exacerbadas, brigas por posições dentro do grupo, disputas por proximidades com Jesus (para ver quem ficava mais próximo ou mais perto de Jesus), ciúmes terríveis. Era realmente um bando disforme onde quase todos brigavam com todos.

Pedro tinha ciúmes terríveis da amizade de Jesus com Maria Madalena, a quem Jesus freqüentemente beijava na boca.

Mateus era olhado com desdém por ser um publicano (coletor de impostos), que era muito mal visto pelos povos dominados, como um explorador. Tomé era de uma incredulidade a toda prova. Faltava pouco para ser ateu. Tiago e João (Evangelista) eram um poço só de vaidades. Inclusive chegaram ao desplante de pedirem à sua própria mãe que rogasse a Jesus para que Ele deixasse que os dois sentassem à sua esquerda e à sua direita como símbolo máximo da vaidade e do privilégio pessoal. Sem falar no ridículo e na futilidade de João (Evangelista), posteriormente, atravessar um evangelho inteiro referindo-se a si mesmo como "o discípulo a quem Jesus amava", como se Jesus amasse só a ele. E Judas Iscariotes, a quem Jesus tratava com especial carinho e amizade, demonstrando ter mais proximidade com ele do que com os demais, gerando grandes ciúmes e até porque Judas era o tesoureiro da sociedade, cargo de extrema confiança, mas que — por despeito — reiteradamente era acusado de materialista, apegado ao dinheiro e a valores de propriedade. Quase ninguém escapava às brigas por posições dentro do grupo, às vaidades exacerbadas e aos ciúmes mesquinhos.

Não bastassem os problemas que Jesus tinha com seus próprios discípulos e com as provocações feitas pelos saduceus e pelos fariseus, uma coisa preocupava a Jesus mais do que tudo no mundo: era a posição extremamente crítica de João Batista, que de maneira quase que suicida, apontava abertamente os erros das maiores autoridades e governantes.

Praticamente esquecendo a recomendação de Jesus para salvar e recuperar antes de criticar, para trazer a luz ao invés de amaldiçoar a escuridão, João Batista passou a criticar abertamente o governante máximo, Herodes Antipas, por ele estar tendo relações carnais espúrias com a sua cunhada, Herodíade, esposa de seu irmão Filipe.

(Nota do autor: Com o afastamento de Arquelau, pelas tantas loucuras que cometeu e corrupções que praticou e acobertou, seu irmão Herodes Antipas havia assumido o controle não só da Galileia, que lhe era de direito, como o controle da Judéia, deixada por Arquelau. E em razão disso, Herodes Antipas, agora, não só governava, como tinha palácios na Galiléia assim como na Judéia)

E tantas críticas abertas João Batista fez ao relacionamento de Herodes Antipas e Herodíade, que pressionado por Herodíade (a esta altura considerada publicamente como uma vagabunda real, amante do rei), Herodes Antipas resolve mandar prender João Batista. Prisão esta que tinha a finalidade muito mais intimidativa para tentar silenciar João Batista do que propriamente punitiva, vez que Herodes tinha muito medo pessoal de João Batista e de suas maldições. Sem contar o grande receio de fazer-lhe algum mal, por causa de uma possível reação popular por estar tiranizando um profeta respeitado e adorado pelo povo.

Ao contrário, sem medo algum, mesmo preso, João Batista enfrenta Herodes Antipas e diz que não é a ele, João Batista, que Herodes Antipas deve temer, e sim a Jesus, o messias que irá fazer um novo reino na Terra. E, complementando, João Batista profetiza para Herodes Antipas: — "Aquele que vem depois de mim é muito mais poderoso do que eu. Eu não sou sequer digno de Lhe levar as sandálias."

Com medo de João Batista e ao mesmo tempo não querendo se indispor com Herodíade, Herodes Antipas mantém por algum tempo João Batista em cárcere, mas com planos de soltá-lo na primeira oportunidade. Até que Herodíade engendra um plano de vingança terrível contra João Batista.

Sem o menor pudor, usando a própria filha, Salomé, como arma e instrumento, Herodíade convence sua filha Salomé a oferecer-se, também, na cama, como concubina ao seu cunhado e amante Herodes Antipas e com ele partilhar o leito, não sem antes fazê-lo assumir publicamente a sua palavra imperial de que, em troca, satisfaria ao menos a um grande desejo de Salomé.

Isto planejado e feito, Salomé oferece-se em leito a Herodes Antipas (seu padrasto) e logo após, numa festividade no palácio, dança lascivamente, provocativamente, publicamente, no salão principal do palácio, na presença de todos.

Extasiado, Herodes Antipas enaltece as "virtudes" de Salomé (sua "sobrinha", enteada e amante). Enquanto que esta, espertamente, pergunta, publicamente, em alto e bom som, se Herodes Antipas não estaria devendo-lhe um desejo.

Sem perceber totalmente a maldade que estava por trás daquele plano, Herodes Antipas, meio constrangido, confirma estar devendo, sim, um desejo a Salomé. Mas não sem antes, de sustentar a sua palavra imperial, jocosamente perguntar o que Salomé queria: Parte de seu reino? Ouro? Prata? Jóias? O que queria?

Salomé, espertamente, garante não querer parte do reino, nem ouro, nem prata, nem jóias. Queria tão somente algo simples que Herodes nem dava importância, a ponto de considerar desprezível e jogar fora tratando como lixo.

Certo de que não perderia nada de importante, Herodes Antipas cai na armadilha engendrada por Herodíade e pomposamente honrando a posição imperial de governante, garante a sua palavra real empenhada.

Salomé, então, industriada por Herodíade, sua mãe, constrange Herodes Antipas e publicamente declara que não quer ouro nem jóias. Simplesmente ela quer a cabeça de um preso vagabundo. Quer a cabeça de João Batista, literalmente, numa bandeja.

Assustado, mas não tendo como descumprir a sua palavra dada publicamente, Herodes Antipas, mesmo com medo e a contragosto, manda cortar a cabeça de João Batista e servi-la numa bandeja de prata a Salomé.

Este episódio, aos chegar ao conhecimento de Jesus, perturba-o terrivelmente. O choque pela perda de alguém tão próximo, o Seu quase irmão, companheiro de uma vida inteira... é demais para Jesus.

Seguido ao primeiro choque, pela perda de João Batista, Jesus começa a experimentar um pânico até então nunca antes sentido.

Com visível medo, e não sabendo bem avaliar toda a situação e o que estava se passando, Jesus literalmente foge com os discípulos para a Galileia e retoma Sua pregação em Sua terra natal.

Abalado pelo incidente da morte de João Batista, Jesus perde o equilíbrio emocional e não consegue coordenar seus controles, e seguidamente falha na tentativa de cura de diversos doentes. A ponto de ser ridicularizado, ser chamado de charlatão e de ser hostilizado pelas próprias pessoas que um dia o endeusaram.

Sem entender completamente o que estava acontecendo, e experimentando o fracasso inusitado, ante um mau momento de sua vida, Jesus atribui este fracasso ao fato de que ninguém faz milagre em sua própria terra. Ou seja, usa como desculpa que "santo de casa não faz milagre." (Esquecendo-se que antes, tantas vezes, já havia feito muitos milagres em sua terra natal e nas cidades vizinhas).

Não convencendo a si mesmo e muito menos aos Seus discípulos e seguidores, Jesus principia a imprecar e a amaldiçoar as cidades onde um dia Ele havia feito tanto bem e levado tanto conforto a tanta gente.

— "Ai de ti Corozaim! Ai de de ti Batsaída! E tu, Cafarnaum, julgas que serás exaltada até o céu? Haverá mais tolerância para Sodoma e Gomorra, no dia do juízo final, do que para ti."

Percebendo o erro em atribuir a terceiros e culpar, maldizendo e amaldiçoando, as cidades e seu povo pelas falhas por não conseguir realizar o que antes realizara com facilidade, Jesus reconhece que não está bem, e que na realidade Ele estava fugindo, com medo, por não querer enfrentar o Seu destino, que Ele bem sabia qual era.

Refletindo sobre Seu erro, mais calmo e buscando a paz interior, Jesus arrepende-se de ter fugido de Jerusalém e comunica a Seus discípulos a Sua vontade em voltar para enfrentar a Sua sina e o Seu destino. E que, para tanto, eles, seus discípulos, se preparassem para a volta a Jerusalém e para assistir ao que estava por vir. Ou seja, um grande embate entre as forças das trevas e as forças da luz.

Retomando a serenidade, e aí já sem demonstrar medo, Jesus reúne seus discípulos e simpatizantes, e organiza uma entrada triunfal em Jerusalém. Para tanto, pede que toda a Sociedade Secreta reúna seus discípulos e junte todos os simpatizantes para a entrada em Jerusalém e para que assistam o enfrentamento com os saduceus e fariseus junto ao maior templo judeu já erigido.

A dois dos discípulos, Jesus pede que dirijam-se até a um casebre num monte próximo ao Monte das Oliveiras, na direção de Betânia, e que façam o sinal (do peixe) e peçam emprestado um jumentinho para servir de montaria a Ele, Jesus. Aos demais apóstolos e simpatizantes Jesus pede que colham ramos de palmeiras e lancem pelo caminho até o templo judeu, de modo a marcar o novo caminho religioso que será traçado para o povo hebreu.

Os dois discípulos, irmãos, Tiago e Judas Tadeu, aflitos e sem saber como agir, questionam a Jesus como iriam obter um jumentinho de uma pessoa tão pobre, que possivelmente era seu maior bem material, e provavelmente o seu maior instrumento de trabalho.

No que Jesus tranqüiliza-os e responde a ambos, orientando que o dono do jumentinho é um simpatizante da Sociedade Secreta de João Batista, e que facilmente reconhecerá o sinal secreto da sociedade. E dizendo isso recomendou que fizessem o sinal da sociedade secreta, o peixe, e que dissessem ao dono do jumentinho que tratava-se de um empréstimo e que logo o jumentinho seria devolvido. O uso temporário era somente para atender a uma necessidade imediata do Cristo, XPTO. (E aí Jesus fez o desenho dos dois semicírculos na areia, formando o peixe, e colocou ao lado as letras XPTO).

Meio desconfiados, sem entender os reais planos de Jesus, os discípulos questionam ao mestre o por quê de usar como montaria um simples e humilde jumentinho para uma entrada em Jerusalém, acompanhado de uma multidão.Jesus então explica que não veio ao mundo para se exibir, demonstrar ostentação ou força física. Os que O esperavam num cavalo branco estavam enganados. Os que O esperavam fisicamente forte e com o domínio e a força da espada, estavam enganados. Jesus queria que O vissem como um ser normal, comum, igual a todos, vestindo as sandálias da humildade de pescador, trajando as roupas simples e comuns dos homens do povo, montado num animal a quem os poderosos desprezam pois só trabalha, trabalha e trabalha, e tendo como "exército" um bando de pessoas comuns, pecadores recuperados, vagabundos e prostitutas renascidos para uma nova vida.

A entrada de Jesus em Jerusalém foi triunfal naquele "domingo de ramos". Montado num jumentinho, era saudado pelo "Seu povo" com ramos de palmeiras. E à Sua passagem os ramos eram jogados ao chão indicando o caminho da nova era que estava por vir, conforme queria Jesus. E logo não tardou que outras e outras pessoas se juntassem ao movimento para ver e ouvir àquele que chamavam de o Cristo (Salvador).

Chegando ao maior templo judeu até então construído (havia levado 46 anos para ser construído) Jesus tem seu primeiro embate com os religiosos judeus.

Alguns fariseus, assustados com aquele alarido todo e tamanho movimento de gente, recepcionam Jesus, cinicamente, à porta da sinagoga e ironizam o "novo rei".

Saúdam-No hipocritamente como a um grande imperador e apontam para um povo pobre e miserável que O seguia e perguntam se aquele bando era o Seu "reinado".

Jesus não recua ante as provocações dos fariseus e afirma que Seu reino não é deste mundo, e que deste mundo orgulha-se muito da amizade dos humildes. E apontando para o templo diz: — "Vede aquela pedra que ampara o templo? Foi comprada com o dinheiro dado por um destes pobres. E outros destes pobres a colocaram no lugar. Vede a vossa roupa suntuosa que a vós causa tanto orgulho? Foi comprada com o dinheiro que estes pobres dão ao templo para sustentar-vos. Quem sois vós para desdenhar daqueles pobres que vos alimentam?"

Irritados, os fariseus questionam Jesus: — "Acaso és contra os dízimos sagrados instituídos pelas leis de Moisés?"

— "Não sou contra as contribuições voluntárias dadas ao templo por aqueles que querem e que podem ofertar à Deus ou para garantir a sobrevivência daqueles que oram e têm como trabalho levar a palavra de Deus ao povo. Afinal, o templo precisa ser mantido, assim como os sacerdotes que no templo trabalham. No entanto, sou contra a obrigação e a cobrança exploratória do dízimo como um imposto devido a Deus. Porque Deus não possui publicanos cobrando impostos em Seu nome." Diz Jesus.

Constrangidos, os fariseus tentam uma ironia para contradizer a parte material que Jesus tanto criticava, de modo a demonstrar que Jesus era um cabotino por colocar-se ao lado dos pobres e dos humildes. E ao mesmo tempo, questionam Jesus, na frente de simpatizantes de Herodes Antipas, por estar incitando o povo contra Roma, incentivando as pessoas a não pagarem impostos "devidos" e "justos": — "És contra o tetradracma tíria que trocamos no templo? (Moeda romana que só podia ser trocada pelos judeus no templo, como se o templo fosse uma casa de câmbio)

Percebendo a armadilha e a hipocrisia dos fariseus, Jesus firmemente questionou: — "Por que me tentais, fariseus hipócritas? Não luto contra Roma como insinuais, mas contra o pecado dos homens. Por acaso o dinheiro dos impostos não é o dinheiro de Roma, com as inscrições de Roma e com a efígie de César? Então? Daí a César o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus!".

Estupefata, a multidão riu com ironia pela armadilha mal traçada pelos fariseus e pelo desfecho imprevisível que todos acabavam de presenciar.

Imaginando poder reverter a situação, os fariseus então apelam para o lado religioso, tentando demonstrar que Jesus era um herege e que desrespeitava as leis sagradas.

Dirigindo-se a Jesus, um fariseu questiona: — "Tu, falso profeta, viste dois de Teus discípulos roubando espigas de milho num sábado e não lhes repreendeu, nem pelo furto nem pelo desrespeito ao sábado. E Tu mesmo, falso messias, herege, desrespeita o sábado fazendo curas e obrando aos sábados".

Indignado e sabendo onde os fariseus queriam pegá-Lo em truques e armadilhas, Jesus responde que não poderia repreender a quem furtava por fome. Água e comida não podem ser negadas a qualquer ser vivente. E quanto aos sábados, Jesus questionou aos fariseus: — "Bando de hipócritas, raça de víboras. Por acaso desconhecem as escrituras? Não sabem que David, o idolatrado David, quando teve fome, furtou do templo e comeu os pães não fermentados, num sábado? Vós mesmos e os sacerdotes saduceus comem, violam o sábado e não se culpam, pois a vós, vós mesmos vos permitem criar leis que vos beneficiem... Bando de hipócritas!."

E continuou Jesus: — "Acaso se vísseis uma de vossas ovelhas presa num poço ou num atoleiro... não a salvariam simplesmente porque era sábado? O que é preferível? Salvar uma vida ou perdê-la? Fazer o bem ou fazer o mal? Então? Por que não posso Eu curar um necessitado num dia de sábado? O que vale mais? Por acaso a vida de uma ovelha vale mais do que a vida de um homem? Raça de víboras!"

A multidão encanta-se com o conhecimento de Jesus e ri da falta de preparo dos fariseus.

— "Estás desvirtuando a conversa, falso messias!", dizem os fariseus. "Fazes as curas e dizes agir em nome de Deus, mas o teu Deus não é o nosso Deus. Dizes expulsar os demônios das pessoas, mas o fazes em nome de Belzebu."

Acostumado a este tipo de argumentação estapafúrdia, Jesus surpreende uma vez mais os fariseus e ironicamente contesta: — "Vós dizeis que ajo em nome de Belzebu, o que não é verdade. Mas, ainda que fosse, Eu estaria expulsando demônios em nome do próprio demônio. E com isso, dividindo o poder das forças do mal. E se o mal se divide e enfraquece, logo Eu estou agindo em favor do bem. Ou não?"

— "Vós, fariseus, nem bem sabem o que é Belzebu ou o que são demônios. Colocam culpa numa imagem para explicar coisas que desconhecem".

Inconformados, diante de tantos fracassos públicos perante Jesus, os fariseus tentam uma última cartada. Arrastam uma prostituta até Jesus, sabendo que pelas leis de Moisés a prostituta tem que ser apedrejada até a morte. E se Jesus fizesse isso, teria que fazer o mesmo com as demais prostitutas que O acompanhavam (Madalena, Verônica e outras).

— "E então falso messias, dizes que conhece as escrituras sagradas. O que devemos fazer com esta prostituta que corrompe a nossa sociedade e leva a devassidão e a libertinagem às famílias corrompendo lares honestos?" — Questiona o "príncipe" dos sacerdotes saduceus.

Jesus fica impassível... calado.

A multidão faz um silêncio sepulcral, sabendo que Jesus teria que mandar matar a prostituta a pedradas, conforme as leis de Moisés.

Subitamente Jesus abaixa, pega uma pedra, como quem vai começar a apedrejar a prostituta e levanta a pedra com a mão, oferecendo-a a todos: — "Atire a primeira pedra aquele que não tem pecado."

Foi um silêncio sepulcral.

Os fariseus e alguns saduceus saem em retirada para dentro do templo e Jesus, adentrando ao templo depara-se com uma cena dantesca, uma verdadeira feira livre. Pessoas vendendo animais para serem usados em oferendas de sacrifício (holocausto). Amuletos eram vendidos por mercadores para tirar o mal das pessoas. Vendia-se água benta, óleos bentos, e um monte de amuletos e bugigangas para trazer sorte aos pobres coitados, "fiéis", crédulos, que supunham que usando ou fazendo determinado ritual com aquelas bugigangas iriam afastar os males de suas vidas.

A população, pobre coitada, sofrida, desesperançosa, ansiosa por melhorar de vida, era industriada pelos vigaristas do templo no sentido de que as pessoas para poderem melhorar de vida tinham que fazer sacrifício de animais, comprar amuletos e oferendas no templo, pagar dízimo, e seguir determinados rituais que beneficiavam diretamente os gerentes e mercadores do templo.

Este mercantilismo, esta corrupção religiosa indignava a Jesus mais do que qualquer outra coisa em sua vida. A criatividade dos sacerdotes vigaristas era tamanha, que até alguns dos impostos só poderiam ser pagos com a moeda "tetradracma tíria", que só podia ser trocada no templo dos saduceus vigaristas. Ou seja, o templo era uma verdadeira casa de câmbio misturada com sinagoga e um mercado varejista.

A exploração da credulidade religiosa das pessoas era tanta que — além de ser uma enorme ignorância esta credulidade e gigantesca vigarice estas vendas de amuletos e uma maldade atroz a mortandade de animais — os pobres não podiam nem sequer trazer sua própria água para ser benzida.

Não podiam sequer trazer seus azeites e seus óleos para serem benzidos. Não podiam trazer ou fazer seus próprios amuletos. Pois tudo isso era considerado impuro pelos vigaristas do templo. Os "fiéis", ignorantes, pobres coitados, só podiam oferecer em holocausto animais "puros", comprados com exclusividade no templo dos vigaristas. Era exploração demais. Era a degradação total da religião.

Irritado, perdendo a têmpera e o controle, como seu quase irmão João Batista, Jesus passa a mão num chicote preso a uma barraca de venda de animais para sacrifício e sai distribuindo chicotadas nos vendilhões do templo, empurrando e derrubando as barracas e as pessoas, enquanto que estupefatos os discípulos assistiam a tudo boquiabertos pois nunca haviam visto o mestre, o calmo e pacífico rabi, descontrolado como João Batista.

— "Bando de hipócritas! Raça de víboras! Estais profanando a casa de meu Pai. A César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Aqui é a casa de meu Pai, não um lugar de compra e venda" — Bradava Jesus, enquanto chicoteava os vendilhões e derrubava suas barracas.

— "Como podem vender oferendas? Como podem vender animais para serem mortos em holocausto? Como podem enganar o povo desta maneira? Como podem vender amuletos, coisas inanimadas, como se Deus residisse nelas? Como podem comercializar a fé? Como podem vender Deus em barracas?" — Esbravejava Jesus.

Ante ao tumulto generalizado que ali se instalara, e com medo que o descontrole de Jesus pudesse comprometer a sua própria vida ou segurança, alguns dos discípulos seguraram Jesus e conduziram-no para um lugar onde pudesse ser acalmado.

Mais calmo e recobrando o controle, Jesus viu com clareza que aquele era o grande divisor de águas da sua vida. Aquele era seu destino que, por alguns instantes quis evitar de acontecer, como se Ele pudesse evitar sua missão, sua sina, os planos de Deus.

Era impossível tamanha exploração religiosa continuar. Era impossível o ser humano se rebaixar tanto, a ponto de se deixar explorar em nome da fé. Aquela estrutura religiosa exploradora, massacrante, tinha que ser destruída, nem que isso custasse sua própria vida.

Pedro, Tiago e Mateus acercam-se de Jesus e questionaram o Seu procedimento e o destempero diante de algo que parecia tolerável, mas que havia causado tamanha repulsa a Jesus.

— "Acaso tu não vês, Pedro, que estás diante da maior luta de nossas vidas? Não percebes que esta exploração religiosa é o maior e o pior dos males que se pode praticar em nome de Deus? Esses religiosos hipócritas e exploradores não podem transformar a casa do Pai Eterno num negócio, num grande negócio, baseado na exploração da fé das pessoas!"

Pedro então retrucou: — "A religião, Mestre, transformou-se num grande negócio. Um grande e lucrativo negócio, com grandes lucros e prestígio para os exploradores da religião, que ainda se fazem passar por santos homens, agindo em nome de Deus".

— "Eu sei, Pedro. A religião transformou-se num grande negócio e os exploradores da religião acostumaram-se tanto e de tal forma com as vantagens e os benefícios desta exploração religiosa que lutarão até a morte pela manutenção destes privilégios. E não permitirão que uma verdade, uma simples verdade, uma mera verdade se torne uma ameaça à religião lucrativa deles."— Retrucou Jesus.

Continuou Jesus: — "De pouco adianta, agora, Eu dizer que só a verdade e o conhecimento liberta o ser humano. As pessoas continuarão a ser enganadas por exploradores religiosos, sem buscar a verdade, e acreditando que a verdade é a que está sendo dita pelo farsante escriba ou pelo farsante pregador dissimulado".

— "Pois é, Senhor, há de se passar muito tempo até que a humanidade compreenda a sua revolta e se indigne contra o comércio nos templos". Retorquiu Pedro.

— "Mas o pior, Pedro, é que esse Deus que ora eles exploram irá falir, sucumbir e irão criar outros e outros Deuses, e até mesmo em meu nome e em teu nome, Pedro, algum dia, ainda farão explorações como estas e ainda dirão que estão agindo em meu nome, em teu nome e em nome de Deus. O que me angustia, Pedro, é que esse Deus que eles cultuam hoje é um Deus falido e particular, e que não há de durar. O Deus verdadeiro, o verdadeiro criador do mundo, que prevalecerá acima de todas as religiões, não é um Deus particular que mora em um templo.

— "É, Senhor, mas o que Deus tenta mostrar, revelar, aos homens, os religiosos são os primeiros a tentar esconder E é com base nisso que estes religiosos se mantêm e iludem o mundo."

— "Precisamos que Deus seja consolo e compreensão, Pedro. Um Deus infinito. Um Deus de amor, que seja para nos civilizar e não para nos manter selvagens matando e sacrificando animais. Precisamos que as religiões não sejam um insulto à nossa compreensão e à nossa inteligência. Este Deus que é vendido e comercializado nos templos é um sacrilégio e uma ofensa ao próprio nome de Deus."

Jesus estava muito angustiado, muito desesperado. Sabia que aquele era o momento crucial de sua vida. Sabia que aquele era o início do cálice amargo da sua missão.

Para libertar os que n'Ele acreditavam Ele precisava enfrentar aquele falso altar, aquele falso templo, aquela falsa adoração a Deus, aquela mercantlização religiosa e a grande exploração em nome do santo nome de Deus.

Antevendo o que sucederia e que já se mostrava claramente desenhado, Jesus começa a jejuar e pede aos discípulos que O aguardem pois Ele precisava repousar, refletir, conversar com Deus.

Afastando-se de Jerusalém, Jesus chega a uma parte deserta a caminho de Qunram, começa a refletir e pede que Deus o inspire e que dê forças para enfrentar todo aquele poderio, mantido e sustentado com o dinheiro do povo fiel a Deus.

Primeiramente Jesus pede a Deus que dê forças e que o ajude a destruir o templo para dar um exemplo àqueles falsos adoradores. Mas percebe que se fosse tão fácil e simples assim, Deus não precisaria de Jesus e nem do Seu sacrifício pessoal. Deus mesmo faria sozinho o trabalho e pronto, estaria feito.

Refletindo, Jesus conclui que Deus não iria dar-Lhe superpoderes para que Ele destruísse seus inimigos. Deus não iria fazer milagres transformando pedras em pães, pois os homens precisam resolver sozinhos as suas questões e não transferir a Deus esta responsabilidade. Os homens precisam acreditar com o coração e não com os olhos. E Deus indicava o caminho que Jesus teria de enfrentar sozinho o mal, se é que Ele queria realmente acabar com o mal.

Recuperado, Jesus retorna de sua reflexão no isolamento desértico e reúne os apóstolos explicando-lhes o que está para acontecer, que certamente acontecerá, e como os apóstolos deverão proceder.

— "Os pregadores, escribas, saduceus e fariseus, instalaram-se na santa casa de Deus, na cátedra de Moisés. Observai bem o que eles vos disserem. Buscai a verdade, porque ela vos libertará. Não avaliai a importância dos que vos falam pelas aparências que possam ter. Não imitai as obras dos pregadores fariseus e dos escribas saduceus. Eles dizem e não fazem. Atam fardos pesados, nas costas dos homens, difíceis de serem transportados. E eles mesmos, pregadores e escribas, não movem um dedo para retirar estes fardos das costas dos homens. Tudo o que fazem é em benefício próprio, para serem notados, e por isso encobrem suas falsidades com roupas que os façam parecer sérios. Por fora parecem sepulcros caiados, mas por dentro estão cheios de osso e de imundice. Por fora, com suas sérias roupas, parecem honrados e justos homens, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e iniqüidade. Gostam de ocupar os primeiros lugares em todos os lugares onde compareçam.

Querem ser saudados e reconhecidos como pregadores, como pais (palavra latina = padres), como mestres, e serem saudados pelos homens. Culpam de falta de fé aos fiéis e crentes pela falha do que não conseguem realizar ou fazer.

Eles, fariseus e saduceus perseguirão implacavelmente a Mim e a vós, Meus discípulos. Eles são um bando de hipócritas, raça de víboras. A vós, meus discípulos, recomendo que não se preocupem por mim, pois estou com a paz de Deus. Cuidai de vós e passai a diante as mensagens de que são portadores. Mantenham a irmandade e a fraternidade acima de tudo. Espalhem pelo mundo a mensagem de um novo mundo, porque Jerusalém está perdida."

— "Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedreja os que te são enviados. Quantas vezes quis reunir teus filhos como uma galinha reúne seus píntinhos sob suas asas e tu não quiseste. Pois bem, a vossa casa ficará deserta e vosso templo se destruirá. Jamais haverá paz sobre Jerusalém."

Assustados, os discípulos sentem que além dos sábios conselhos Jesus está profetizando sobre seu próprio futuro, o futuro da irmandade e sobre os destinos do templo e de Jerusalém.

Neste meio tempo, os saduceus conspiram contra Jesus. Os sacerdotes Anás, Caifás, Ariel, Hedi, Soari e Silas querem a cabeça de Jesus como Herodíade queria a cabeça de João Batista. Os judeus saduceus e fariseus queriam a morte de Jesus antes da páscoa pois não queriam que aquela morte causasse qualquer tipo de alvoroço ou confusão pública durante os festejos. O que seria praticamente impossível, pois já era véspera do primeiro dia de ázimos e não haveria tempo suficiente para prisão, julgamento e execução.

Decepcionados, planejavam para que pelo menos Ele não morresse no sábado sagrado. Mas o certo é que seria melhor cortar o mal pela raiz, com a morte de um só para exemplo, do que a morte de muitos, caso frutificassem as idéias de Jesus.

Anás, o dirigente do sinédrio, inconformado com o incidente da expulsão dos vendilhões do templo queria um castigo exemplar para Jesus. Era inadmissível que ele entrasse no templo, na casa de Deus, e fizesse o que fez, desrespeitando a "santidade" do templo.

Caifás, o sumo sacerdote, revoltado, dizia que Jesus queria acabar com as sagradas ofertas a Deus e impedir a venda de animais puros nos templos, contrariando as sagradas escrituras (feitas por eles mesmos).

Ariel, o pregador racista e beligerante, vociferava, pois Jesus estava falando em paz e justiça, e pregando igualdade dos hebreus com os gentios (não judeus).

Hedi, o sacerdote materialista, mostrava-se estupefato por Jesus insurgir-se contra a venda de sacramentos. — "Como a igreja vai sobreviver sem venda? De onde virá o dinheiro para a manutenção do nosso templo? Como poderemos honrar a Deus?", questionava Hedi.

Soari, o sacerdote dissimulado, ironizava Jesus, questionando como um hebreu pobre, da Galileia, ousava interferir na Judeia, curando pessoas sem nada cobrar por isso.

— "Amanhã, dizia Soari, todos hão de querer curas gratuitas, sem pagar nada ao templo. Isso é uma subversão dos valores de Deus."

Silas, o pregador simuladamente enfurecido, arrogantemente, ridicularizava Jesus, um messias camponês, sem espada, sem lança, sem cavalo branco, que entrara em Jerusalém montado num jumentinho, seguido por uma multidão de maltrapilhos, vagabundos e prostitutas. — "Que messias maltrapilho é esse que diz ter vindo para redimir o povo de Israel?", questionava Silas.

Estava mais do que claro que Jesus havia ferido profundamente o mercantilismo do templo, os saduceus e os fariseus. Jesus havia atentado contra a sociedade religiosa lucrativa que se instalara no mundo hebreu e que não queria abrir mão de seus privilégios. Jesus havia tocado profundamente na ferida da religiosidade: o comércio eclesiástico, o comércio nas igrejas. E por este motivo, sabia Ele que estava com a morte sendo encomendada pelos sacerdotes hebreus.

Terça-feira, dois dias após a entrada triunfal em Jerusalém, no "domingo de ramos", e um dia após ter ido refletir no deserto, Jesus encontra-se com os discípulos para combinar como seria a ceia pascal, vez que era o início dos Ázimos (pães não fermentados, feitos somente com farinha e água).

Ao ser perguntado pelos discípulos sobre como e onde seria realizado a celebração da páscoa (judaica), Jesus explica que não irá comer o tradicional "cordeiro pascal" dos judeus, pois Ele (por ter formação essênia) não comia carne (com sangue) de determinados animais. Iria comer somente peixe, os pães não fermentados e beber vinho. E recomenda aos discípulos que a celebração da ceia seja feita na casa de um simpatizante da Sociedade Secreta de Jesus que já havia sido ofertada anteriormente. — "Vá até a casa dele, faça o nosso sinal (o peixe) e diga que precisamos de sua casa para a celebração da ceia pascal, pois o Meu tempo está terminando e esta será a nossa última ceia e reunião", diz Jesus.

Os discípulos de Jesus entram em pânico diante de Suas palavras e de Sua certeza sobre o que estava por vir.

Após a décima segunda hora, ou seja: depois das seis horas da tarde, noite de terça para quarta-feira, reunida toda a Sociedade Secreta de Jesus — com seus doze membros à mesa —Jesus principia a explicar aos doze discípulos que o Seu fim está próximo e que por Ele haver expulso os vendilhões do templo e exposto a toda gente as vigarices dos sacerdotes, Ele, Jesus sabia que naquele momento estaria havendo uma grande trama contra Sua vida pelos saduceus e pelos fariseus.

A primeira reação dos discípulos foi no sentido de que Ele, Jesus, poderia ficar e sentir-Se seguro, oculto e protegido pela fraternidade da Sociedade Secreta.

Jesus contesta e diz que fugir ao próprio destino seria abrir mão de fazer o trabalho em nome de Deus para simplesmente sobreviver, ou melhor: viver escondido como um covarde e medroso. Pois, se era vontade do Pai que Ele acabasse com a corrupção religiosa, com a iniqüidade, com o comércio dentro dos templos religiosos, não cabia a Ele, Jesus, fugir ao Seu destino, Sua sina, escondendo-Se e alterando a vontade de Deus.

Iniciando a última ceia, Jesus principia o ritual da eucaristia dizendo aos discípulos: — "Pai, agradecemos pelo alimento justo e honrado, conseguido com o suor de nossos rostos".

E tendo dito isso pegou os pães e foi repartindo (dividindo, e não multiplicando) um a um (cada pão) com cada discípulo.

— "Dividam sempre vosso alimento com vossos irmãos e com os mais necessitados. Tomai e comei, este é meu corpo".

Pegando uma jarra de vinho, foi servindo os discípulos e dizendo: — "Tomai e bebei, este é meu sangue. Celebrai e fazei em cada rejeição estes gestos para que seja perpetuada a sagrada aliança de nossa irmandade, nossa fraternidade, nossa sociedade".

Atônitos, os discípulos vêem nas palavras de Jesus uma triste e sentida despedida. E retornam as argumentações no sentido de salvar a vida de Jesus pois era preciosa demais para ser desperdiçada com um covarde e cruel assassinato.

Jesus intervém e explica que Deus tem tudo muito bem traçado, pois se os saduceus e os fariseus realmente levarem a cabo o plano de matá-Lo, mais do que um grande erro, este será o início do fim do templo deles (saduceus e fariseus) que ruirá como se fosse feito só de areia e água. E que, com isso, ao mesmo tempo, seria o início de uma nova conscientização religiosa que dali nasceria. Um fortalecimento para uma sociedade religiosa mais humana, mais igualitária, como a que eles pertenciam, voltada para o bem e não para o comércio; voltada para a paz e a fraternidade e não para a guerra, para o ódio ou para a ameaça e o terrorismo religioso.

— "Mestre, e como podemos protegê-Lo?", questiona Pedro.

— "Vós não podeis me proteger e nem devem. Aliás vós não podeis proteger-me sequer de um de vós mesmos.", complemente Jesus.

— "Como assim, rabi?"

— "Somos todos humanos, Pedro. Um ser humano já é um mundo inteiro de contradições e sentimentos. Imagine o quanto de diferente existe entre todos nós. Neste exato momento, cada um aqui está tendo vários sentimentos e muitas e diferentes idéias de como proceder para que isso tudo acabe. E pode até ser que dentre vós um venha a Me trair, ainda que isso possa ter como motivo ou justificativa uma explicação compreensível em função de como se queira ver."

— "Traição? Tu dizes, rabi, que dentre nós, onde somos como irmãos, um poderá ser traidor?, questiona Pedro, abismado e perplexo com a possibilidade de traição.

— "Mas é claro, Pedro. Não só poderá acontecer a traição como se Eu for arrastado preso e perseguirem a vós pelas ruas, muitos poderão fugir e até simular jamais ter-Me conhecido."

Indignado, Pedro garante que se alguém for trair Jesus não haveria de ser ele, Pedro. E que se Jesus for arrastado preso, ele, Pedro, jamais haverá de negar ser irmão de fé, Jesus.

— "Pedro, Pedro, Pedro. Vós sois humanos. Ao ferirem o pastor, as ovelhas se dispersarão. Esse é o plano dos saduceus e dos fariseus, que logo hão de por em prática. É a mim que querem, num primeiro momento. De vocês eles querem a dispersão. E você, como qualquer um outro aqui poderá fugir como uma ovelha foge do rebanho sem o pastor", explica Jesus.

— "Poderá acontecer com qualquer um. Menos comigo. Eu jamais te negarei, Senhor", diz Pedro.

— "Como qualquer um de vós, Pedro, tu poderás Me negar ou Me trair antes mesmo do galo cantar.", vaticina Jesus.

— "Eu, Senhor? justo eu, Senhor?, espanta-se Pedro

— "Sim, Pedro, no que tu presumes ser diferente de nós?, questiona Tomé.

O clima da ceia transforma-se numa espécie de anunciação de um velório, e nem mesmo é amenizado pelos cânticos e salmos após a ceia.

Após a ceia, enquanto uns conversavam e outros dirigiam-se ao Monte das Oliveiras para reflexões e aprendizado com Jesus, Judas Iscariotes, que era o mais chegado e de maior confiança de Jesus, o tesoureiro da Sociedade Secreta e o responsável pela manutenção e guarda dos bens comuns da sociedade, e por isso mesmo tinha uma visão bastante prática de tudo, dirige-se à casa de Anás, "príncipe" dos sacerdotes saduceus e um dos dirigentes do sinédrio, com um plano na cabeça.

Sabendo que Jesus já tem como certo que Ele será preso e morto pelos saduceus e pelos fariseus, e que Jesus mesmo sabe que isso é inevitável e espera que isso aconteça nas próximas horas, Judas Iscariotes, segundo suas convicções, tenta evitar o pior, ou seja, que Jesus seja morto covardemente pelas costas num local isolado e solitário. E, tentando evitar essa morte silenciosa e covarde, Judas Iscariotes imagina poder fazer prender Jesus às claras, na presença de seus discípulos, de modo a garantir um julgamento justo, onde Ele, certamente, sairá ileso, uma vez que Jesus não havia cometido nenhum pecado religioso, assim como não havia praticado nenhum crime contra Roma. E Judas Iscariotes confiava mais num julgamento justo dos romanos, pelas leis romanas, pelo direito romano, do que nos próprios judeus, pois apesar dos romanos serem imperialistas dominadores, tinham um rígido código de leis e de direito romano.

Isto posto, Judas Iscariotes encontra-se com Anás, "príncipe" dos sacerdotes saduceus e dirigente do sinédrio, e propõe entregar Jesus em troca de um julgamento público e justo pelos romanos, visando poupar-lhe a vida.

Enquanto isso, Jesus, consciente do fato de que os saduceus e fariseus lutariam de todas as maneiras e usariam de todos os recursos para garantir e manter os privilégios e vantagens financeiras que a religiosidade dissimulada proporciona, e que por Jesus haver tocado profundamente no cerne da questão Ele tornara-se a maior ameaça para os saduceus e fariseus; conseqüentemente Sua vida estaria por um fio.

Com o espírito tumultuado, confuso, com grandes dúvidas e ao mesmo tempo triste, Jesus recolhe-se ao horto das oliveiras, num lugar chamado Getsêmani, com o propósito de meditar, orar, aconselhar-se, pedindo a Deus que O ilumine diante do cálice amargo que Ele sabia que estava prestes a beber.

Jesus sabia que os saduceus e fariseus iriam resistir ferozmente à revolução religiosa que Jesus começara e que com isso os saduceus e fariseus iriam atentar contra a Sua vida, de todas as maneiras.

A uma certa distância, Pedro, Tiago e Judas Tadeu observam Jesus, enquanto Ele prostrava-se no chão, com os braços abertos e o rosto na terra, falando baixinho palavras incompreensíveis àquela distância.

Após alguns tempo, Jesus levanta-se e dirige-se aos três discípulos e conta o que ele falara e meditara.

— "Meu Deus, não me recuso ao sacrifício. Mas valerá a pena ser o cordeiro pascal em nome de Deus? Não serei Eu só mais um profeta? E João Batista? E Isaias? E se em Meu nome muitos se matarem? E se em Meu nome muitos explorarem muitos? E se Eu for objeto de exploração da fé alheia? E se, em Meu nome, Eu virar objeto de comércio como meu Pai nas mãos dos vendilhões do templo que negociam em Teu nome, Meu Pai? Será esta é a Tua vontade, Pai? Valerá a pena este sacrifício?"

Orando a Deus Jesus disse: — "Pai, afasta de mim este cálice amargo. Mas, se este cálice amargo não puder passar sem que Eu o beba, seja feita a Tua vontade, Senhor. Se este Meu sacrifício for livrar a Tua casa, Meu Deus, dos mercadores, dos vendilhões, dos pregadores hipócritas e falsos, então terá valido à pena o sacrifício."

— "E Tu não tens medo, Jesus?", questiona Pedro.

— "Pedro, eu sou tão humano como vós todos. O espírito está calmo e preparado pela paz de Deus, mas o que fazer se a carne é fraca. O que fazer? É claro que Eu estou em agonia.", Jesus falou isso suando muito, embora estivesse uma noite fresca. O suor de Jesus estava amarelado, como se fosse suor misturado com sangue.

— "Senhor, o que queres que façamos? Queres ervas para acalmar os sentidos? Queres que oremos por Ti? O que queres? O que devemos fazer", perguntou Pedro, aflito.

— "Não, Pedro. Não preciso de nada em especial. Basta orar e vigiar. Orai e vigiai! A minha alma está numa tristeza de morte, pois esta poderá ser a noite em que Meus inimigos venham a ter comigo. A oração lava-Me o espírito, mas a vigilância garante a sobrevivência do corpo que os saduceus e fariseus querem destruir."

Isto posto, os discípulos organizaram-se para que cada um vigiasse por uma hora o sono dos demais, de modo a que Jesus não ficasse jamais sozinho, para que não fosse preso e morto covardemente.

Judas Iscariotes, por seu turno, consegue de Anás a sua palavra de que Jesus ao ser preso terá um julgamento romano limpo e isento. Segundo Anás, os próprios romanos irão julgá-lo.

Para ter certeza de que Jesus não seria morto covardemente, Judas Iscariotes vai com os guardas, convocados por Anás, até o Monte das Oliveiras, e ao chegar onde todos estavam dormindo, inclusive o discípulo que montava guarda e que deveria estar protegendo Jesus, Judas toma a frente e dirige-se a Jesus. Abraça-O e nervosamente dá-lhe um beijo na boca (que pelas tradições significa transmissão de sabedoria).

Jesus, sabendo perfeitamente o que estava acontecendo, entendeu o gesto de Judas e nada falou que pudesse censurar-lhe. E, apesar da agonia que passara momentos antes no horto, desta vez sem demonstrar qualquer receio, pois a prisão era mais do que esperada, Jesus pergunta para a coorte (grupo de soldados): — "A quem buscais?"

— "A Jesus, que se diz messias! — responde um dos guardas.

— "Sou Eu!" — apresenta-se Jesus.

Como houvesse uma certa indecisão e um certo constrangimento pela reação inesperada de destemor de Jesus, os guardas ficam sem saber como agir por alguns instantes, diante daquelas pessoas todas (discípulos de Jesus).

— "Já vos disse que sou Eu. Se é a Mim que procuram, deixai partir estes inocentes que não têm nada comigo", disse Jesus.

Então numa reação surpreendente, Pedro desembainha a espada e fere um dos servos de Anás, na orelha direita. No que, imediatamente, Jesus coloca-se à frente e impede que Pedro continue com a impulsiva reação que começara. E, virando-se para dois dos discípulos, Jesus solicita que coloquem medicamentos curativos de ervas no corte feito na orelha do servo de Anás.

Aparentemente cumprindo o que havia sido combinado entre Judas Iscariotes e Anás, Jesus é conduzido pelos guardas (coorte) à presença de Anás, "príncipe dos sacerdotes" e um dos dirigentes do sinédrio.

Anás, já não tão cortês como na conversa inicial com Judas Iscariotes, interpela Jesus ainda de pé, cercado pelos guardas:— "Então, Tu és o criminoso que procuramos?"

— "Tu o dizes!", respondeu secamente Jesus.

— "Não foste tu que profanaste o templo?"

— "Eu jamais profanei templo algum!"

— "Profanaste a casa de Deus, sim!"

— "Não profanei a casa de Meu Pai. Estive sim, num mercado religioso de exploradores da fé."

— "Não és o falso messias a quem os maltrapilhos e as vagabundas vivem a seguir?"

— "Tu o dizes. Sempre falei e preguei abertamente nos templos e em todos os lugares públicos onde os hebreus (judeus) se reúnem e nada disse em segredo. Pergunta aos que Me ouviram se alguma vez preguei contra os ensinamentos hebreus (judeus). Por que me interrogas, se não cometi crime algum?"

Irritado com o tom firme e destemido de Jesus, Anás manda secamente que os soldados amarrem as mãos de Jesus e conduzam-no a Caifás (de quem Anás era genro), para saber a opinião de Caifás (que era mais velho e o sumo sacerdote do templo) e se o sinédrio (tribunal em Jerusalém formado por sacerdotes, anciãos e pregadores/escribas que julgavam questões criminais e administrativas referentes ao povo judeu) poderia reunir-se pela manhã, logo nas primeiras horas, para que os juizes pudessem julgar Jesus o mais rápido possível.

Chegando na presença de Caifás, seguiram-se perguntas semelhantes às de Anás, e as respostas de Jesus foram as mesmas em tom desafiador e firme.

Irritado com a insolência de Jesus, Caifás determina que sejam convocados os membros do sinédrio, imediatamente, para o julgamento de Jesus.

Após longa espera, até que fossem convocados todos os sacerdotes, todos os pregadores e escribas, todos os anciãos, após a hora sexta (meio-dia) daquela quarta-feira, iniciou-se o julgamento de Jesus no sinédrio.

O clima era de extrema exaltação por parte dos julgadores de Jesus, uma vez que agiam em causa própria, na defesa de seus interesses e benefícios, e ao mesmo tempo a firmeza de Jesus nas respostas era como se fossem lanças perfurando cada sacerdote, cada pregador, cada ancião, cada juiz do sinédrio.

Jesus conhecia muito bem as leis dos hebreus e buscava em cada brecha da lei uma saída e uma resposta de modo a desautorizar o julgamento pelo sinédrio.

Com isso, Jesus irritava profundamente os membros do sinédrio, principalmente pela certeza de Jesus de que o sinédrio nada poderia fazer contra Ele. Isto porque, Jesus era galileu (natural da Galileia) e não poderia estar sendo julgado por crimes religiosos na Judéia. Não havia cometido crime algum e a todas as acusações Ele respondia com firmeza e segurança, mostrando que estava absolutamente seguro de si e no estrito respeito às leis dos hebreus.

Os membros do sinédrio mais irritados eram Ariel, Hedi, Soari e Silas. Consideravam um ultraje e um desrespeito a "baderna" feita por Jesus expulsando "honrados" comerciantes autorizados do templo. Alegavam que não eram justas as razões de Jesus impedindo a venda de animais puros no templo, a venda dos amuletos, bugigangas e coisas bentas, bem como pela cobrança dos sacramentos religiosos.

Enfurecidos questionavam se Ele, Jesus, considerava-se rei.

Percebendo que isto — declarar-se rei — o colocaria cometendo um crime contra Roma (confrontando o poder do imperador e ameaçando o império), Jesus responde, mais uma vez secamente: — "Tu o disseste!".

Vendo que não conseguiriam pegar Jesus pela palavra, confrontam-no com uma coisa sobre a qual esperava-se que Jesus não pudesse desviar-se da pergunta, acabando por confessar-se culpado.

— "Tu és o messias?", perguntaram-Lhe

— "Se eu vos disser que sou o messias, vós não Me acreditareis. Se Eu mesmo vos perguntar se sou o messias, vós mesmos me negareis." — retrucou Jesus.

Procurando forjar uma confissão, Caifás conclui: — "Então confessas que só não dizes porque não acreditaremos. Isso é uma confissão."

E apressadamente concluindo para vaticinar o veredicto, arremata: — "Não há mais nada o que questionar. Ele confessou ser o messias. Isso é heresia. Todos ouviram a blasfêmia. Não precisamos sequer de testemunhas. É réu de morte"

Irritados, e buscando a esperada revanche contra o homem que ousou tentar acabar com a comercialização no templo, os juízes do sinédrio, literalmente atropelando a lei a todo custo, agridem fisicamente Jesus com socos e pontapés, cuspindo-lhe na face e para completar dão uma sentença ameaçadora: condenam Jesus à morte dolorida e lenta pela crucificação, por fazer-se passar por rei dos judeus, por ridicularizar e ultrajar a religião, dizendo-se messias montando um jumentinho, seguido por uma multidão de infiéis maltrapilhos, vagabundos e prostitutas. (Quando, na realidade, todos estes motivos eram simples e meros pretextos, pois o único e real motivo para a condenação de Jesus era a ameaça em acabar com o próspero negócio em que o templo se transformara, tomando dinheiro e aproveitando-se do desespero de gente humilde, pobre, desesperada e aflita).

Apesar das agressões físicas e das ofensas, após algum tempo, Jesus se recompõe e absolutamente seguro repete que não havia cometido crime algum, nem contra os romanos e nem contra a religião dos hebreus, e que não existia previsão nas leis dos hebreus para a pena de morte conforme queria o sinédrio; pois somente Roma (através de um governante seu) poderia determinar a pena de morte. E que o que o sinédrio estava fazendo ou o que quer que fosse feito com

Ele seria uma arbitrariedade e um crime coletivo praticado pelo sinédrio, e que pelo Seu assassinato Roma poderia punir todo o sinédrio.

Temerosos e sabendo que Jesus conhecia as leis e estava certo, vez que de fato não poderiam impor a Jesus uma pena maior do que a que queriam, resolvem mandá-lo a julgamento ao governador romano local, Pôncio Pilatos.

Ainda na mesma tarde de quarta-feira, Jesus é enviado a Pilatos já com a "condenação" prévia do sinédrio.

Pilatos recebe Jesus, interroga-o detidamente e espanta-se ante o saber e conhecimento das leis romanas e das leis religiosas dos judeus.

— "És rei dos judeus?", pergunta Pilatos

— "Tu o disseste!", responde Jesus.

— "Mas aqui existe uma condenação do sinédrio dizendo que Tu Te consideras rei dos judeus!"

— "Outros disseram isto por mim. Não confessei por minhas palavras ou gestos"

— "Cometeste algum crime contra Roma?"

— "Não há qualquer ato meu que possa ser considerado ofensa contra Roma ou contra os romanos"

Pilatos confirma o que já sabia por informantes seus, enviados para ouvir as pregações de um homem que arrastava multidões para ouvi-lo. E vendo a inocência em Jesus, irrita-se com os sacerdotes do sinédrio e diz para que levem-No pois ele não via crime ou pecado em Jesus. — "A questão é religiosa, resolvam vocês entre vocês. Eu não sou judeu!", concluiu Pilatos.

— "Mas nós só podemos punir com penas leves, e somente Roma pode decretar a pena de morte pela crucificação, pelos vilipêndios religiosos cometidos por Ele", argumentam os juízes do sinédrio.

Pilatos vira-se para Jesus e questiona: — "O que dizes?".

— "Sou galileu, prego o amor a Deus, da Galiléia à Judéia. Não cometi crime algum e tu mesmo disseste que sou inocente.", retorquiu Jesus.

Com receio por estar julgando um galileu em terras da Judéia, e sabendo da antipatia que Herodes Antipas, que era rei e filho de rei, tinha por Pilatos, que era poderoso, mas era somente um governador, eis que Pilatos decide: — "Esse homem é galileu, mandem-no para o rei Herodes Antipas para que o julgue como um dos seus galileus."

Isto posto, Jesus é levado pelos guardas, acompanhado dos juízes do sinédrio, até Herodes Antipas, no palácio de Arquelau, ali mesmo na Judéia, vez que por aquele tempo Herodes Antipas, irmão de Arquelau, não estava em seu suntuoso palácio na Galiléia e sim na Judéia, posto que estava ocupando os dois palácios (na Galileia e na Judéia) em razão do afastamento de seu irmão Arquelau, que governara a Judéia.

No dia seguinte, quinta-feira pela manhã, com profundo desdém por cuidar de pequenas questões tribais dos judeus, o rei Herodes Antipas recebe Jesus no palácio e faz questionamentos semelhantes aos que Pilatos já havia feito.

E entendendo que não havia crime algum contra Roma, não havia porquê, ele, um romano, julgar questiúnculas religiosas de judeus. E com muita má vontade conclui que o assunto não é relevante e nem importante para ele julgar, e portanto Jesus foi devolvido a Pilatos para que ele fizesse o que bem entendesse, pois por ele, Herodes Antipas, não havia o que punir naquele homem.

De volta a Pilatos, devolvido por Herodes Antipas, com autorização para decidir o destino de Jesus, ainda na metade do dia, Jesus é novamente interrogado por Pilatos, que chega à mesma conclusão anterior, considerando Jesus inocente.

Entretanto, para evitar problemas com o sinédrio, e para evitar problemas em sua própria casa, pois sua esposa havia ouvido secretamente a algumas pregações de Jesus, e que por isso pediu a Pilatos que poupasse Sua vida, eis que Pilatos tenta uma solução alternativa. Ou seja, manda prender Jesus e chicoteá-Lo, para ver se, com isso, atendia tanto ao sinédrio, aplacando a sua ira, quanto à sua esposa, que não queria ver Jesus morto.

Os discípulos de Jesus, que até então esgueiravam-se pelos cantos e perambulavam pelas ruas procurando saber a respeito do andamento do julgamento de Jesus, ao saberem da prisão e do chicoteamento, covardemente começam a esconder-se. Fogem todos, sumindo para não serem localizados e apanhados como cúmplices dos mesmos "cri-mes" de Jesus.

Até mesmo Pedro, que acompanhava mais de perto as inquirições a Jesus, indo às portas do templo, do sinédrio, e dos palácios de Pilatos e Herodes, agora Pedro fugia como um coelho assustado. Até que subitamente próximo à escadaria do palácio de Pilatos uma escrava que ouvira Jesus pregar, questiona Pedro: — "Tu és amigo de Jesus, o galileu. Tu estavas com ele."

E Pedro, amedrontado, responde: — "Não sei quem ele é. Não conheço este homem." E corre apavorado, até que mais adiante pára por um instante e assustado teve arrepios ao lembrar do que Jesus havia dito sobre a traição e a negação pelos amigos.

Judas Iscariotes, por sua vez, estava inconsolável, pois tudo estava saindo errado, completamente diferente do que ele imaginara. O julgamento "justo", que deveria livrar Jesus duma morte traiçoeira, pelas costas, havia se transformado num verdadeiro linchamento moral. Os romanos, tradicionais inimigos dos judeus, não condenaram Jesus e nem queriam condená-Lo, mas seu próprio povo, os próprios judeus (saduceus e fariseus) estavam arrastando-O à crucificação. E Jesus, mesmo diante da morte que se desenhava não fazia nada para alterar Seu destino. Não procurava Se salvar. Deixava-Se conduzir à morte como um cordeiro. Era incompreensível. Inaceitável. De nada havia adiantado o beijo na boca, transmitindo sabedoria a Jesus.

Isso tudo torturava Judas Iscariotes e consumia-lhe em vida.

No dia seguinte, sexta-feira, ao saberem da pena alternativa aplicada a Jesus, sem execução por crucificação, os juízes do sinédrio enfrentam Pilatos e veladamente fazem-no ver que não punir Jesus exemplarmente com a crucificação, por ter-se declarado "rei dos judeus" poderia chegar aos ouvidos de César como uma conspiração de Pilatos contra o imperador, que àquela altura vivia uma paranóia profunda com alucinações sobre conspirações de novos reinos.

Entendendo o recado dos saduceus e fariseus, e mesmo assim não querendo punir pessoalmente Jesus por algo que Ele não havia feito, Pilatos propõe um julgamento público de Jesus, com o voto do povo. (O que é um preceito romano normal de julgamento. Uma espécie de júri popular).

Jesus, então, é trazido preso a grilhões e amarrado, com as roupas marcadas de sangue nas costas, devido às chicotadas.

E apresentando Jesus ao povo, para julgamento em frente à escadaria do palácio, Pilatos anuncia: "Ecce Homo!" (Eis aqui o homem).

Abaixo das escadarias o povo (orientado e manipulado pelos saduceus e fariseus) se amontoava e gritava pedindo a crucificação de Jesus. Era até compreensível, pois os discípulos e simpatizantes de Jesus estavam fugidos, escondidos, com medo de serem presos. Os saduceus e fariseus insuflavam pessoas a pedir a morte de Jesus. Os zelotes, embora simpatizassem com algumas das teorias de Jesus, acham que Jesus era fraco demais, calmo demais, moderado demais, um covarde. E, de mais a mais, um zelote arruaceiro, bastante conhecido, estava preso, de nome Barrabás (Jesus bar Abás ou Jesus filho de Abás). E, como os zelotes sabiam que pela passagem da páscoa um preso seria solto, logicamente eles queriam que libertassem Barrabás e não Jesus.

Pilatos, ainda tentando salvar Jesus, que mesmo sofrendo teimava em não salvar-se, eis que vira-se para Jesus e questiona: — "Quem realmente és Tu? És o messias deste povo?"

Jesus fica impassível, não responde. Teimava em não defender-se.

Pilatos se irrita e diz para Jesus que ele era insolente, pois ele, Pilatos, como governador da Judéia, tinha o poder de soltá-lo ou de crucificá-lo e Jesus sequer fazia algo em seu próprio favor.

Para piorar a situação, Jesus responde mais uma vez de maneira altiva e firme: — "Tu não tens poder algum se Deus não o te der. Só Deus tem poder sobre Mim e sobre ti"

Pilatos mais irritado ainda: — "Então, não posso te tirar a vida?"

Jesus volta a afirmar: — "Podes mandar Me matar. Mas ainda assim viverei junto a Deus e só Deus pode tirar-Me esta vida eterna."

Incrédulo com o que via e irritado com a intransigência de Jesus, Pilatos ainda tenta uma última cartada para salvar a vida de Jesus: — "Que pecado fez este homem? Por que querem crucificá-lo?", questiona Pilatos enfurecido e aos berros.

— "Crucifica-o. Crucifica-o. Crucifica-o.", brada a multidão.

A esposa de Pilatos, atrás dele, sussurra dizendo que Pilatos não deveria manchar seu nome com o sangue daquele inocente. Mas, por outro lado, Pilatos não poderia contrariar uma decisão de um julgamento popular.

Pilatos, então, joga sua derradeira alternativa para tentar salvar Jesus da crucificação. Diz ao povo que conforme o costume, pela época da páscoa, perdoava-se um culpado, libertando-o. E assim, sugere que Jesus seja solto. Mas, a multidão ensandecida, comandada pelos saduceus e pelos fariseus, e ainda ajudada, desta vez, pelos zelotes, pedem a libertação do zelote Barrabás.

Sem alternativas, Pilatos não vê outra saída senão render-se à decisão popular. Não sem antes mandar vir uma ânfora cheia d'água e uma bacia, e simbolicamente lava suas mão para que não as sujasse com o sangue daquele inocente.

— "Não vejo crime ou pecado neste homem. Mas não posso contrariar uma decisão de um julgamento popular. Portanto, lavo minhas mãos para que não as suje com o sangue deste inocente. E se é a vontade de todos que seja crucificado, levem-no e cumpram vocês mesmos, judeus, a justiça que acabam de fazer."

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