sexta-feira, 5 de agosto de 2011

KARMA

KARMA
Mensagem de Eckarte Tolle
28 de Julho de 2011



P: Fala da Presença e do Ser como as chaves para desfrutar da forma e criar circunstâncias positivas ou circunstâncias mais atenuadas. Como se encaixa o carma em tudo isso?

E.T.: Todos nasceram num determinado ambiente externo. Do mesmo modo, todos nasceram com determinadas predisposições – podem ser parcialmente genéticas, podem ser outras coisas. Por outras palavras, uma pessoa nasce com certos padrões. Não precisamos de examinar de onde é que eles vêm, mas o facto é que um ser humano nasce num determinado ambiente. Pode ser violento ou pode ser relativamente pacífico. Uma pessoa nasce com padrões internos que herda. Até mesmo o corpo de dor é, em parte, herdado.

Existe todo um conjunto de condicionantes que acontecem quando entram num ambiente. O ambiente condiciona mais e não existe escolha envolvida – são apenas influências. Vocês encontram-se neste mundo com certos padrões inconscientes que se tornaram a condicionante de quem é a pessoa. O carma, tal como eu o vejo, é a condicionante inconsciente que gere a vossa vida. O carma é, em parte, coletivo e, em parte, pessoal. Podem compreender o carma não como um tópico abstrato exterior a vocês, podem apenas compreendê-lo observando-se a vocês mesmos e então saberão muitas outras coisas. Se querem compreender o carma, precisam de olhar para vocês mesmos.

Eu comecei a entender o carma quando alguma coisa que não fazia de todo parte do carma surgiu. Eis a chave – o surgimento da consciência, ou Presença, ou despertar espiritual, não é parte do carma. É outra dimensão que invade o reino cármico. Vocês não se tornam despertos por acumularem, como se diz por vezes no Oriente, “bom carma”. Isso está bem a este nível, podem tornar as paredes ou os móveis da vossa prisão um pouco mais confortáveis, mas há algo completamente para lá do carma que entra na vossa vida num ponto qualquer.

O re-nascimento é, naturalmente, parte do carma. O significado mais profundo de re-nascer é a identificação com a forma. Não precisamos sequer de acreditar na transmigração, ou no que quer que seja, podem olhar para o re-nascimento na vossa própria vida. De cada vez que se identificam com um pensamento que surge, que é a forma, nascem para esse pensamento. A vossa identidade, o vosso sentido do eu está nele. Isso é carma. O vosso carma é a identificação inconsciente com esses padrões que herdaram – o condicionado. É a identificação completa da consciência com os padrões condicionados. A consciência está a sonhar, podia-se dizer. É por isso que usamos a palavra “despertar” em muitas tradições espirituais. A consciência está a despertar, a consciência está como que num estado de sonho quando estão identificados com os padrões inconscientes. Muitas vezes por dia, vocês re-nascem numa reação emocional ou mental nos pensamentos que surgem.

O carma cria, no exterior, a confirmação de que está correto. Assim, se pensam que o mundo está cheio de pessoas más, irão encontrar muitas pessoas más – por outras palavras, pessoas inconscientes. Mesmo as pessoas que estão a meio caminho entre serem conscientes e inconscientes, as suas crenças vão puxá-las para a inconsciência. O carma é a ausência completa da Presença consciente. É automático. Realiza-se a si próprio.

O tempo não os liberta do carma. Este é um mal entendido que, se vocês simplesmente gastarem tempo suficiente, podem ficar simplesmente livres do carma. O carma renova-se a si mesmo e repete-se a si mesmo. A única coisa que pode libertá-los do carma é o surgimento da Presença. A um ponto qualquer na roda do carma, a Presença pode entrar. Isso pode acontecer numa prisão, condenados à morte. Pode acontecer a alguém que nunca ouviu falar de nada espiritual. Pode acontecer a alguém que tem vindo a meditar durante 30 anos.

A Presença liberta-os do carma. Não de todo de uma vez. O carma tem um enorme ímpeto. Os padrões de pensamento, os padrões emocionais, os padrões reativos. À medida que a Presença surge, gradualmente o carma diminui e irão experimentar um desaparecimento desses padrões. Não que isso importe assim tanto já porque, uma vez que estão presentes, esses padrões podem ainda aparecer mas já não é problemático. Eles já não provocam o sofrimento que teriam causado antes porque são vistos à luz da consciência. À luz da consciência, os padrões já não dominam a vossa vida.

O corpo de dor faz parte do carma, que pode ser forte em alguns e nem tanto em outros. À medida que a Presença surge, vocês são libertados do carma. Então, vocês têm um outro elemento completamente diferente entrando na vossa vida. Por exemplo, para uma pessoa ficar livre do carma coletivo precisa que uma quantidade considerável de Presença entre. Ela então irá removê-lo internamente ou pode encontrá-lo em qualquer outro lugar.

Para uma pessoa que nasceu num grande carma coletivo, é necessária uma considerável Presença para não se ser atraído para ele. Quando Hitler entrou no poder, muitas pessoas não foram capazes de se retirar. Algumas foram, e partiram. Elas puderam ver o que estava a acontecer e foram suficientemente fortes para não se identificarem com o coletivo. Para se retirarem do carma coletivo é preciso uma considerável Presença – e algumas pessoas tinham-na. É o vosso destino, então, ultrapassarem o carma sendo os recetáculos para a Presença.

Todos os que estão a despertar irão achar, mais cedo ou mais tarde, que se tornam uma espécie de professores para os outros. O que um professor espiritual faz é realçar a possibilidade de despertar da identificação com os padrões inconscientes. Os professores espirituais ensinam-vos a irem para além do carma. Essa é a vossa função e irá tornar-se cada vez mais, quer vocês se tornem um professor formal ou um professor informal.

Despertar espiritual e deixar o carma são a mesma coisa. Muitas pessoas serão atraídas para vocês. Todos os que estão a passar por um processo de despertar são já professores. Ensinar significa acharem-se a escutar a partir da vastidão do espaço, quando alguém fala ou põe uma questão ou vos conta sobre os seus problemas. Podem descobrir que a resposta surge dessa Quietude na qual vocês escutam. Vocês não sentem “Agora vou ensinar esta pessoa”. Descobrirão que ensinar é espontâneo. Ajudarão pessoas a saírem da identificação com a inconsciência, o que significa ultrapassar o carma. Isto aplica-se a todos os que estão a despertar.

Enquanto ensinam, a Consciência torna-se alinhada com a vossa mente. A vossa mente é capaz de se sintonizar com a Consciência mais profunda e pode ser usada como um instrumento. Então, as palavras saem da vossa boca. Em última instância, existe apenas um único professor, a Consciência desperta é o professor. Ela pode ensinar apenas aqueles em que existe um grau de prontidão. O ensinamento precisa de ser recebido. Se existir apenas uma densidade da mente, o ensinamento não acontecerá.

Ficarão admirados quando as pessoas forem atraídas para vocês – pessoas que estão prontas – e achar-se-ão a dizer algo que nem sequer sabiam. É somente quando a questão é colocada que a Consciência responde. À medida que ensinam, vocês aprendem. As perceções surgem. Ensinar e aprender é o mesmo processo. Enquanto ensinam, tem lugar um aprofundamento. Vocês estão aqui para ajudar as pessoas a ultrapassarem o carma.

A coisa importante a saber é que o tempo não vos liberta do carma. A mente egóica diz “Eu preciso de mais tempo para me tornar livre”. As pessoas só podem precisar de mais tempo para perceberem que não precisam de tempo”. Podem ser necessários outros vinte anos de sofrimento para perceberem que não precisam de tempo. Podem precisar de sofrer um pouco mais antes de perceberem o poder do intemporal. O intemporal é, claro, o fim do carma.



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Tradução: Ana Belo anatbelo@hotmail.com

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